No DIA MUNDIAL DA FILOSOFIA perguntámos aos alunos: O que é mais importante: a liberdade ou a igualdade?
Das minhas turmas aceitaram o desafio os seguintes alunos:
Beatriz Cabrita, Carlos Fonseca, Illya Yelistratkin, Lucas Sá e Ricardo Garcia (do 11º A);
Ana Rita, Bruno Cardoso e Cláudia Ferreira (do 11º C);
Cátia Silva, Fábio Gonçalves, Joana Rainha, Mariana Eusébio, Marco Fidalgo, Patrícia Pacheco, Pedro Macide, Rafael Fonseca, Teresa Rodrigues e Wendy Rosa (do 11º D).
Pode ler todas as respostas na caixa de comentários do post Dia Mundial da Filosofia: vem debater ideias online. *
As melhores respostas foram as do Lucas Sá e do Rafael Fonseca. O Lucas considera a igualdade mais importante, enquanto para o Rafael a liberdade é mais importante. Vejamos porque pensam assim.
Em primeiro lugar, gostaria de dizer que não utilizarei a expressão liberdade como sinónimo de livre-arbítrio ou como uma hipotética escolha de quem somos nem utilizarei igualdade no sentido de pessoas iguais física ou psicologicamente; utilizarei pois estes conceitos num sentido mais político.
Posto isto, penso que talvez a igualdade seja mais importante que a liberdade. Na minha opinião, a liberdade total não é viável, pois têm de existir regras de comportamento social, têm de existir leis. Uma sociedade em que cada um faz o que quer e não tem de responder perante ninguém acabaria por se auto-destruir. A nossa liberdade acaba onde começa a do próximo. Esta expressão mostra que a nossa liberdade deve estar limitada, pois para uns serem completamente livres, outros veriam a sua liberdade imensamente reduzida. Não é portanto possível (nem desejável) criar uma sociedade 100% livre, mas tal não significa que a liberdade não deva existir. É necessário arranjar a quantidade suficiente de liberdade, definir os limites justos: não devemos viver numa ditadura, mas leis e os castigos para quem não as cumpre têm de existir. (Que limites são estes, é outra questão.) Além disso, estas leis devem ser escolhidas pela maioria, que tem a liberdade de decidir o seu futuro (dentro dos tais limites). E aqui acabamos por entrar no campo da igualdade, pois em muitas sociedades contemporâneas (para não referir a maioria das passadas) é uma minoria, socialmente e economicamente favorecida, que dita o avançar das nações. Os mais ricos, mais poderosos e mais influentes, fazem as escolhas que mais os favorecem e a maioria, desfavorecida, vê-se obrigada a submeter-se. Ao não existir uma igualdade social entre os cidadãos, reduz-se a sua liberdade: quanto mais desigual for a sociedade, menor é a liberdade dos desfavorecidos, mesmo que à superfície as suas liberdades pareçam intactas. Posto de outra maneira: de que me interessa ser totalmente livre se depois, por ser inferior aos outros, não posso utilizar esta liberdade? Não pretendo com isto dizer que a sociedade deva ser completamente igualitária (uma sociedade sem classes em que todos são completamente iguais socialmente parece-me a melhor, mas também é utópica), mas devemos caminhar nesse sentido, aproximando-nos de uma em que todos tenham igualdade de oportunidades. Os que nasceram física ou socialmente em desvantagem, ou que no decorrer da sua vida sofreram infortúnios, devem ter exatamente as mesmas possibilidades de atingirem o que os mais favorecidos atingiram ou atingem. Numa sociedade menos estratificada que a nossa, as pessoas sentiriam-se iguais e portanto penso que mais cooperativas. E no fundo a cooperação é a base de uma sociedade organizada livre. Ou seja, a igualdade restringe os limites máximos da liberdade, mas também a promove. (Pode parecer paradoxal, mas não penso que seja, pois ainda que se reduzam os limites da liberdade para todos, e assim alguns percam um pouco, a liberdade da maioria acaba por crescer.)
Assim sendo, penso que embora ambos os valores sejam extremamente importantes, a igualdade acaba por ser mais. É melhor viver numa sociedade com um pouco menos liberdade mas em que todos os indivíduos a tenham na mesma quantidade do que numa em que há mais liberdade, mas por não existir igualdade ela se encontre concentrada numa camada social (que será a superior). Se me dessem a escolher se preferia ir para uma sociedade em que podia ter liberdade ilimitada, mas na qual existiria o risco de parar num estrato onde ela fosse muito reduzida, ou para uma sociedade onde teria a minha liberdade limitada, mas exatamente a mesma que todos os outros independentemente de quem fosse, escolheria a segunda. Foi esta a escolha que a pergunta me deu e eu escolho a igualdade.
Lucas Sá, 11ºA
Como vários outros colegas, principiarei por referir que vou tomar os conceitos de liberdade e igualdade, assim como todo este problema, num contexto político, e não assumindo as outras interpretações desses conceitos.
Começo por dizer que nem a liberdade a 100% nem a igualdade a 100% são viáveis. Em relação à primeira, uma completa liberdade implicaria o poder de cometer atos criminosos sem repercussões, o que obviamente iria ter consequências insustentáveis. Em relação à segunda, uma completa igualdade implicaria fortes medidas para fazer cumprir essa mesma igualdade, pois apenas um impedimento muito forte poderia prevenir uma quebra da mesma.
Qualquer pessoa, se não tiver obstáculos, irá sempre desenvolver-se tanto positivamente como negativamente, ou seja, não haverá igualdade social e económica.
Chego, portanto, ao meu ponto principal: não pode existir verdadeira igualdade sem haver fortes obstáculos à liberdade social e económica. Também não poderá existir verdadeira liberdade sem haver grandes discrepâncias entre as camadas sociais, pois haver liberdade num contexto de sociedade implica poder-se desenvolver economicamente, implica poder “crescer” para além dos outros.
Uma grande liberdade social é incompatível com uma grande igualdade social. São conceitos mutualmente exclusivos. Não podem coexistir nas suas formas completas. Logo, se queremos que a liberdade e a igualdade coexistam, teremos que “reduzir” uma delas. Ora, penso que das duas, a igualdade deva ser reduzida, em prol da liberdade.
Igualdade de oportunidades é algo excelente e que deve ser aplicado a qualquer sociedade. Qualquer pessoa, independentemente do seu panorama social, cultural, étnico, religioso, deve ter as mesmas oportunidades, durante a sua infância, durante o seu percurso no emprego. No entanto, obrigar a qualquer igualdade sem ser a de oportunidades iria restringir a liberdade. Todos devem ter igualdade de oportunidades, mas ir para além disso seria impedir o desenvolvimento pessoal em prol do estatuto da maioria. Para além da igualdade de oportunidades, penso que cada um deve ser livre de se desenvolver socialmente e economicamente. Ou seja: durante o percurso inicial da vida de uma pessoa, as oportunidades que lhe são dadas devem ser as mesmas que são dadas a todas as outras. No entanto, para além desta “igualdade de partida” não deve haver restrições ao desenvolvimento pessoal.
Adaptando a conhecida analogia da corrida de atletas, todos os cidadãos começam no mesmo bloco de partida, mas vai haver quem seja mais rápido que os outros, vai haver quem chegue mais longe que os outros, e isto não deve ser impedido.
Agora, claro está, se cada um for livre de se desenvolver, irá sempre ser criado um fosso social, irá sempre haver uma classe alta, uma classe média, e irá sempre haver o limiar da pobreza.
No entanto, qual é a alternativa? Colocar um limite no desenvolvimento de cada um? Obrigar todos a não passar desse limite, em prol da igualdade de todos? Qualquer medida destas implicaria força, implicaria pesadas restrições. Qualquer sociedade completamente igual seria uma ditadura.
Entre a liberdade e a igualdade, não podendo as duas coexistir na totalidade, a liberdade deve ser o valor a preservar, uma liberdade não completa, claro, em que o crime seja punido, mas onde cada um seja livre de se desenvolver até onde puder, socialmente, economicamente, tomando como partida uma igualdade de oportunidades entre todos.
Sim, haverá sempre uma elite poderosa, haverá sempre uma minúscula percentagem de cidadãos que serão mais ricos do que milhões de outros, haverá sempre uma enorme discrepância entre as camadas sociais, porque mesmo com igualdade de oportunidades, há sempre uns melhores que os outros.
No entanto, quando a alternativa a esta situação é uma ditadura que obriga à igualdade, julgo que a primeira é melhor. Nenhuma delas é óptima, mas a situação onde existe mais liberdade ainda que sacrificando a igualdade é a mais suportável.
Rafael Fonseca, 11ºD
* A Sara publicará um post com as melhores respostas dos alunos das suas turmas.