sábado, 27 de fevereiro de 2016

Objeção à teoria da causalidade de David Hume

causa e efeito problema da causalidade objeção a david hume

“Hume conclui que a crença na realidade de conexões causais não tem justificação racional, dado que apenas observamos conjunções constantes. Contudo, há ainda algo que carece de explicação: as próprias conjunções constantes que observamos na natureza. Como explicar tal coisa? A resposta mais plausível é que as conjunções constantes ocorrem precisamente porque há conexões causais na natureza. (…)

A nossa crença na realidade das conexões causais (…) e do mundo exterior está racionalmente justificada, apesar de não haver uma demonstração lógica irrefutável a seu favor [pois é uma explicação plausível e melhor que as explicações alternativas].”

Aires Almeida e outros, A Arte de Pensar – 11º ano, Didáctica Editora, 2008, Lisboa, pág. 165.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Matriz do teste do 11º (Esla): Descartes e Hume

descartes e hume

Duração: 50 minutos.

Objetivos:

1. Distinguir conhecimentos a priori e conhecimentos a posteriori.

2. Explicar em que medida o ceticismo lança um desafio a quem se afirma detentor de conhecimento.

3. Explicar como Descartes tentou responder ao desafio cético.

4. Explicar o que é a dúvida metódica.

5. Explicar porque é que Descartes tinha como objetivo encontrar uma crença indubitável e básica.

6. Mostrar quais são as principais etapas do percurso da dúvida metódica.

7. Explicar porque é que Descartes recorreu à hipótese do Génio Maligno.

8. Explicar porque é que Descartes considera o Cogito como indubitável.

9. Mostrar como o argumento da marca tenta provar a existência de Deus.

10. Explicar a objeção ao argumento da marca que diz: “criar a ideia de perfeição é diferente de criar a própria perfeição”.

11. Explicar o critério das ideias claras e distintas.

12. Mostrar qual é a função de Deus no sistema cartesiano.

13. Explicar a objeção do círculo cartesiano.

14. Discutir se Cogito será realmente uma crença básica.

15. Discutir se Descartes refutou ou não o ceticismo.

16. Distinguir, de acordo com Descartes, os vários tipos de ideias.

17. Explicar a perspetiva racionalista quanto às fontes do conhecimento.

18. Explicar a crítica de Hume a Descartes e à dúvida metódica.

19. Mostrar como Hume classifica e relaciona os conteúdos mentais.

20. Explicar em que consiste o princípio da cópia.

21. Distinguir as questões de facto e as relações de ideias.

22. Discutir a opinião de Hume de que nenhum conhecimento a priori é substancial.

23. Explicar a perspetiva empirista quanto às fontes do conhecimento.

24. Explicar a análise feita por Hume à ideia de causalidade.

25. Explicar a objeção a Hume e à sua conceção da causalidade segundo a qual a existência de conexões causais é a explicação mais plausível das conjunções constantes.

26. Mostrar porque é que David Hume é um cético moderado.

Natureza das questões:

Escolha múltipla e questões de resposta curta.

Para estudar:

No manual: da página 149 à página 183.

No blogue Dúvida Metódica:

Descartes:

A vida será um sonho?

A dúvida metódica (este deveria ter sido o primeiro post deste blogue)

Um mar de dúvidas

Razões para duvidar, segundo Descartes

O caro leitor não está a ler

A esposa de Descartes

O argumento da marca

Objeção ao argumento da marca

Cartoons cartesianos

Bit Descartes

Hume:

A crítica de David Hume a Descartes

Impressões e ideias

Uma folha de papel em branco

Cegos que começam a ver: impressões e ideias

Como se originou, segundo Hume, a ideia de Deus?

O problema da causalidade

Exemplos de inferências causais
Sol vai nascer amanhã? Não podemos saber!
Hume e a relação causa-efeito

A crença na causalidade é instintiva

Hume e o problema da indução: vídeos da Kahn Academy
Objeção à teoria da causalidade de David Hume

Aconselhado:

Descartes:

O que é que realmente sabemos?

Penso, logo não cozinho!

Cegos que não sabem que são cegos

Em terra de cegos quem tem um olho não é rei

Hume:

A minha vida
Milagre??

Bom Trabalho!

terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

A crítica de David Hume a Descartes

david hume caricature gary brown     #      descartes

“Existe uma espécie de ceticismo, anterior a qualquer estudo ou filosofia, muito recomendado por Descartes e outros como sendo a soberana salvaguarda contra os erros e os juízos precipitados. Este cepticismo recomenda uma dúvida universal, não apenas quanto aos nossos princípios e opiniões anteriores, mas também quanto às nossas próprias faculdades, de cuja veracidade, diz ele, devemos nos assegurar por meio de uma cadeia argumentativa deduzida de algum princípio original que seja totalmente impossível tornar-se enganador ou falacioso. Mas nem existe qualquer princípio original como esse, dotado de qualquer prerrogativa sobre outros que são evidentes e convincentes; nem, se existisse, poderíamos avançar um passo além dele, a não ser pelo uso daquelas mesmas faculdades das quais se supõe que já suspeitamos. A dúvida cartesiana, portanto, se jamais fosse capaz de ser alcançada por qualquer criatura humana (o que claramente não é), seria totalmente incurável, e nenhum raciocínio poderia alguma vez nos levar a um estado de segurança e convicção acerca de qualquer assunto.

Deve-se todavia confessar que o ceticismo, quando é mais moderado, pode ser entendido num sentido muito razoável, e constitui uma preparação para o estudo da filosofia, preservando uma adequada imparcialidade nos nossos juízos e libertando-nos o espírito de todos os preconceitos de que possamos ter sido impregnados pela educação ou por opiniões precipitadas.”

David Hume, Tratados I: Investigação sobre o Entendimento Humano, tradução de João Paulo Monteiro, Lisboa, INCM, 2002, pp. 161-162.

De regresso à Filosofia

image

No dia 16 de fevereiro do presente ano letivo, depois de ter lecionado aulas apenas ao ensino profissional (cinco níveis a 10 turmas, 4 delas junções de cursos diferentes), a direção da escola Secundária Tomás Cabreira, devido à reforma de uma das minhas colegas de grupo, deu-me a possibilidade de voltar a ensinar Filosofia.

Dou, por isso, as boas vindas aos meus novos alunos do 10º ano, turmas 1, 4, 8 e 9 e do 11º ano, turmas 4 e 5.

Foram criadas duas segundas páginas (logo abaixo do nome do blogue: 10º Tomás C e 10º Tomás C), onde serão colocados os links dos posts utilizados nas aulas e outros, com interesse, a propósito dos temas estudados.

Aos meus novos alunos:

Sejam bem vindos a este blogue. Espero que vos seja útil ao estudo e abra novas janelas!

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

Matriz do teste do 10º

relativismo cultural no tribunal

Duração: 90 minutos.

Objetivos:

1. Explicar e exemplificar o que é a diversidade cultural.

2. Explicar e exemplificar o que é o etnocentrismo.

3. Explicar a perspetiva do Relativismo Cultural quanto ao problema da natureza dos juízos de valor morais.

4. Explicar as objeções ao Relativismo Cultural que estudou.

5. Explicar a perspetiva do Objetivismo moral quanto ao problema da natureza dos juízos de valor morais.

6. Explicar as objeções ao Objetivismo moral que estudou.

7. Comparar e discutir o Relativismo Cultural e o Objetivismo moral.

8. Justificar a opinião própria sobre o problema da natureza dos juízos de valor morais.

9. Explicar em que consiste o problema da fundamentação da moral.

10. Explicar porque é que o Utilitarismo de Stuart Mil é uma ética consequencialista.

11. Explicar porque é que o Utilitarismo de Stuart Mil é uma ética hedonista.

12. Explicar o que é, segundo Stuart Mill, o princípio da utilidade.

13. Aplicar o princípio da utilidade a casos concretos e determinar se a ação em causa é moralmente correta ou incorreta.

14. Explicar porque é que, para o Utilitarismo de Stuart Mil, os deveres não são absolutos.

15. Explicar as objeções ao Utilitarismo de Stuart Mil estudadas.

Natureza das questões:

Escolha múltipla; identificação e avaliação de exemplos; questões de resposta curta e de resposta extensa.

Para estudar:

Partes assinaladas das seguintes páginas do Manual: da 102 à 107, 109, 114, 115, da 132 à 134 e 138.

PDF’s dados aos alunos.

No blogue Dúvida Metódica:

Nós…
Enterrar viva uma pessoa é errado ou isso é relativo?
Uma tradição admissível, segundo os relativistas culturais
Quem deve falar em nome de uma cultura?

Os juízos de valor morais podem ou não ser objetivos?

Lágrimas iguais
A divergência de opiniões é incompatível com a objetividade?
Tem razão quem se apoiar nas melhores razões
Objectivismo Moral
O eléctrico desgovernado: discussão de um dilema moral 
O utilitarismo: ideias básicas

Apontamento sobre o Utilitarismo

Argumentos contra o utilitarismo

BOM TRABALHO!

sábado, 13 de fevereiro de 2016

Canções para o dia de São Valentim

Eis algumas canções de amor já velhotas, e possivelmente desconhecidas dos leitores mais jovens, para assinalar o dia de São Valentim.

Curiosamente, a maior parte das boas canções de amor são tristes ou pelo menos melancólicas: falam do amor falhado e não do amor feliz. Não sei qual é a explicação, mas é uma “regra” com poucas exceções.

John Coltrane e Johnny Hartman: My one and only love.

John Coltrane e Johnny Hartman: You Are Too Beautiful.

Jacques Brel: Ne Me Quitte Pas.

Frank Sinatra: If You Go Away.

Frank Sinatra: I'm a Fool to Want You.

Leonard Cohen: Suzanne.

Stan Getz and Astrud Gilberto: Insensatez.

Amália Rodrigues: Meu Amor, Meu Amor.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

Problemas da Filosofia

Problemas da Filosofia, de James Rachels

Tradução de Pedro Galvão

Revisão científica de Aires Almeida

Gradiva, maio de 2009, 337 pp.

James Rachels Problemas da Filosofia

Reli há semanas os dois capítulos de Problemas da Filosofia dedicados ao livre-arbítrio para me ajudar a preparar algumas aulas, mas depois não resisti e reli vários outros capítulos. Entre outros temas, o livro fala também de Deus, da identidade pessoal, da inteligência artificial e do sentido da vida.

Porque é que este livro é tão bom e irresistível?

Como outros livros da coleção Filosofia Aberta, é um livro introdutório de grande qualidade, que alia o rigor filosófico e a simplicidade, sendo suficientemente claro para ser entendido por pessoas que nunca tenham lido nada acerca dos assuntos que aborda. Contudo, é um livro introdutório ainda melhor que os outros.

Problemas da Filosofia está muito bem escrito, mesmo de um ponto de vista literário. James Rachels escreve de maneira envolvente e cria um interesse crescente no leitor – que quer chegar depressa ao final do capítulo para ver se o problema tem solução, à semelhança do leitor de um policial que quer descobrir quem é o criminoso. Poderá uma máquina realmente pensar? Os argumentos a favor da existência de Deus serão ou não mais fortes que os argumentos contrários? Afinal, a ética é ou não objetiva?

Alguns filósofos, mesmo em artigos ou livros introdutórios, discutem os problemas filosóficos de maneira um pouco seca e genérica. Por exemplo, no caso do livre-arbítrio, para discutir se as nossas ações são ou não livres, falam genericamente das leis da natureza e dos acontecimentos passados e depois mergulham rapidamente nas teorias. James Rachels, contudo, além de dar exemplos do dia a dia muito cativantes (veja-se, na pág. 195, o exemplo da amiga cinéfila que, como ele previra, prefere Os Despojos do Dia a McQuade, o Lobo Solitário), apela aos conhecimentos da Biologia, da Psicologia, da Sociologia e de outras ciências e analisa factos da natureza e da sociedade para averiguar se podem ou não determinar as nossas ações. De modo conciso mas esclarecedor, descreve, por exemplo, os estudos com gémeos idênticos, os efeitos do óxido nítrico (um neurotransmissor), a taxa de presidiários dos EUA e algumas experiências clássicas da psicologia social (nomeadamente a célebre experiência de Milgram sobre a obediência).

Rachels tem essa abordagem em todo o livro. Por exemplo, ao discutir se a existência de um Deus bom e omnipotente é compatível com a existência de tanto mal no mundo, em vez de falar genericamente de sofrimento refere concretamente doenças como o Ébola e a epidermólise bolhosa, “uma doença de pele genética que provoca bolhas por todo o corpo, de tal forma que o bebé não pode ser agarrado ou mesmo ficar deitado de costas sem sentir dor” (pág. 58).

Os problemas filosóficos são concetuais e não empíricos, mas isso não significa que alguns dados empíricos não possam contribuir para os esclarecer e, eventualmente, solucionar. Por isso, essa abordagem não é uma exibição gratuita de erudição. James Rachels justifica-a deste modo impressivo:

“Alguns filósofos acreditam que a filosofia é uma investigação ‘pura’ que pode ser desenvolvida à margem das ciências. Não partilho esta ideia. A melhor forma de abordar os problemas da filosofia é usar todos os recursos disponíveis. W. V. Quine observou uma vez que ‘O universo não é a universidade’. A divisão da investigação humana em disciplinas distintas pode ser útil para organizar os departamentos académicos, mas tem pouco interesse quando estamos a tentar descobrir como é o mundo. Neste livro irá encontrar referências à biologia, à psicologia, à história e até às descobertas do Espantoso Randi. Tudo isto faz parte de um único projeto - a tentativa humana de compreender o mundo e o lugar que nele ocupamos.” (pág. 12)

A propósito da ética Rachels diz que em qualquer questão difícil “há muito a dizer a favor de ambos os lados” (pág. 250). Talvez se possa dizer o mesmo de todo e qualquer problema filosófico: há boas ideias em qualquer um dos lados da controvérsia. Além disso, como os problemas filosóficos têm sido discutidos ao longo da história por pessoas muito inteligentes ou mesmo geniais, é fácil ficar impressionado com os argumentos e explicações de qualquer um dos lados. Por isso, são frequentes as introduções à filosofia que se limitam a expor as diferentes perspetivas filosóficas, esquecendo uma questão essencial: quem tem razão?

James Rachels, pelo contrário, não desiste de comparar as teorias e argumentos na tentativa de mostrar quem tem razão, embora não seja simplista na avaliação e pese bem os argumentos de ambos os lados. Vários capítulos têm uma conclusão em que é feito um balanço, uma avaliação da discussão do problema, mas, mesmo nos capítulos em que não há uma conclusão explícita, o autor não deixa de comparar as teorias e de fazer uma avaliação da sua plausibilidade – com imparcialidade, de modo equilibrado e não tendencioso. Claro que outros autores e alguns leitores poderão discordar das suas avaliações e conclusões, mas o facto de as apresentar ajuda o leitor a pensar filosoficamente e a formar as suas próprias ideias.

Esse procedimento crítico inicia-se, com algum simbolismo, logo no capítulo inicial, intitulado “O legado de Sócrates”, em que James Rachels, além de descrever as circunstâncias em que este foi condenado à morte, analisa os argumentos que o levaram a aceitar essa condenação e a preferir a morte ao exílio. Rachels considera esses argumentos fracos. Sócrates é, para muitas pessoas, uma personificação da própria filosofia, mas isso não impede Rachels de o criticar: “nenhum dos argumentos prova que Sócrates tinha de beber a cicuta. Mas isto deixa-nos com uma questão embaraçosa: como pôde Sócrates ter cometido um erro tão desastroso?” (pág. 24) Ao criticar Sócrates, James Rachels não está a menosprezá-lo mas sim a continuar a tradição socrática de discutir livre e imparcialmente ideias (que é, justamente, uma das características mais marcantes da filosofia). No fundo, tanto nesse capítulo como no resto do livro, James Rachels seguiu um conselho que, segundo Platão conta, Sócrates terá dado aos amigos com quem debatia:

“Se querem um conselho, preocupem-se pouco com Sócrates e muito mais com a verdade! Se vos parecer que o que eu digo é verdadeiro, pois dêem-me razão; caso contrário, apresentem-me tudo o que têm a objetar.” 1

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1 Platão, Fédon, 91c, tradução de Maria Teresa Schiappa Azevedo, 5ª edição, Lisboa Editora, 1997, pág. 88.