terça-feira, 26 de abril de 2011

A liberdade de expressão em Portugal após o 25 de Abril

Vale a pena ler um artigo, do jornal Público (do dia 25 de Abril) no Caderno P2, intitulado "37 anos depois do 25 de Abril: ainda temos medo de falar?"

A jornalista, Natália Faria, além de referir as polémicas mais recentes, ouviu a opinião de dois eurodeputados, dois jornalistas e um constitucionalista sobre uma sociedade "pouco favorável à liberdade de expressão".

Cito o ponto de vista apresentado por dois dos interlocutores:

«Pacheco Pereira acha que a coisa vai piorar antes de começar a melhorar. "O medo que há hoje de falar  - contra o patrão, contra o grupo a que se pertence, contra o clube de futebol - é o medo que existe quando há escassez, instabilidade, desemprego. Com o contexto económico a andar para trás, vamos ter uma sociedade ainda mais pobre e ainda com mais medo de perder o pouco que tem". E, contra isto não há remédios santos. "A chave para as pessoas deixarem de ter medo seria tornarem-se senhoras da sua própria vida, seria o país ficar mais rico, mais culto, mais responsável".

João Pacheco prefere acreditar que nenhum destes medos é uma inevitabilidade. "Não estamos em ditadura, não estamos no Estado Novo, e temos de ser nós cidadãos a exigir todos os dias a liberdade de expressão. Não podemos ficar à espera que nos seja dada de mão-beijada, nem que alguém no-la reconheça. É um combate diário". Porque, conclui, "a coragem como o medo também é contagiosa."»

domingo, 24 de abril de 2011

Fez-se o quê com a liberdade conseguida no 25 de Abril?

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 Fotografia de Eduardo Gageiro.

A democracia, apesar das suas imperfeições, é preferível a qualquer outro tipo de  regime político. Todavia, isso não significa que os cidadãos não devam analisar criticamente os aspectos menos positivos do seu funcionamento a fim de melhorar ou corrigir ideias e práticas erróneas.

No Dia da Liberdade - em jeito de balanço e considerando o miserável estado do país em termos económicos, políticos, sociais e também éticos - talvez valha a pena tentar responder à seguinte questão: Até agora, fez-se o quê com a liberdade conquistada no 25 de Abril?

Eis algumas respostas possíveis:

- Serviu para muitos políticos corruptos, e o seu vasto leque de amigos, esbanjarem o dinheiro do Estado (pago com nossos impostos) para seu proveito pessoal ou em projectos que, na sua maioria,  não contribuíram para o desenvolvimento do país;

- Promoveu-se o amiguismo e a corrupção como forma de subir na vida, em vez do trabalho e do mérito;

- Promoveu-se o consumismo, semeando centros comerciais de norte a sul do país, para as pessoas se endividarem, comprando o que podiam e não podiam;

- Apostou-se no desenvolvimento "tecnológico", esquecendo o atraso e a miséria em que vivem muitas pessoas, sobretudo as mais velhas, do interior desertificado;

- Exportaram-se para o estrangeiro, por não terem futuro em Portugal, muitos dos jovens licenciados mais capazes;

- Instalou-se o facilitismo nas escolas, impedindo alguns alunos, oriundos de meios sócio-económicos mais desfavorecidos, de terem acesso a uma educação exigente que os preparasse para  competir no mercado de trabalho e lhes possibilitasse a mobilidade social;

A lista poderia continuar... Tudo isto em nome do Povo e da Liberdade.

Mas não tinha de ser assim.

- Se os tribunais funcionassem e os partidos da oposição fizessem, de facto, oposição;

- Se os jornalistas investigassem e escrutinassem a actividade dos políticos, expondo - de forma clara e objectiva - a  incompetência e o compadrio; 

- Se mais portugueses em vez de futebol, das novelas ou dos telemóveis (e outras futilidades afins) se interessassem por saber o que fazem os políticos com dinheiro dos seus impostos.

- Se mais portugueses denunciassem a corrupção e o amiguismo em vez de esperarem a sua oportunidade para beneficiar do "favor", do "tacho" e da "cunha", assumindo orgulhosamente: "parvo é quem não aproveita!"

- Se em vez de tudo esperar do Estado (entretanto falido), houvesse iniciativa  e actividades económicas que produzissem riqueza;

- Se as escolas promovessem o trabalho e o mérito, reconhecendo os melhores;

- Se o desenvolvimento económico e social do país e o futuro das gerações vindouras fizessem parte das preocupações dos políticos;

- Se em vez do conformismo, do servilismo, da constante necessidade de obedecer e agradar a um chefe, se analisassem e discutissem ideias;

- Se os políticos, em vez da mentira e da manipulação, dissessem a verdade e pensassem no bem-público em vez do interesses próprio.

Não tem sido assim porquê? Vasco Pulido Valente explicou, num artigo do Jornal Público intitulado "O triunfo da corrupção",  as principais razões:

«Um estudo de Luís de Sousa,  do ICS (Instituto de Ciências Sociais), mostra que 63 por cento dos portugueses toleram (ou mais precisamente aprovam) a corrupção, desde que ela produza "efeitos benéficos" para a generalidade da população. Isto não é um sentimento transitório provocado pelas trapalhadas recentes; é uma cultura (...).

Não há regras para ninguém, porque ninguém cumpre as que por acaso há. Quem pode levar a sério uma escola em que o próprio ministério fabrica os resultados, proíbe legalmente a reprovação e aceita a violência? Quem pode levar a sério o regime que se diz democrático e selecciona o funcionalismo pela fidelidade partidária? Quem pode pode considerar um ponto de hora pagar impostos quando a fraude e a injustiça fiscal são socialmente sinais de privilégio e de esperteza? Quem vai pedir ao canalizador ou ao electricista que passe recibo ou a factura no restaurante, quando sabe o que o Estado gasta sem utilidade e sem sentido? E quem vai obedecer às determinações da câmara do seu sítio, quando a câmara é uma agência de negócios de favor e uma bolsa de favores sem explicação e sem desculpa?

Não admira que o "povo dos pequenos" (...) trabalhe mal, se trabalhar bem lhe custa; que peça aqui ou empurre ali, para se beneficiar ou aliviar; que torne as ruas numa lixeira pública; que guie na cidade ou na estrada como se estivesse sozinho (...) que não passe, enfim de um miserável cidadão, indiferente à política e ao país. Não lhe ensinaram outra coisa. Os chefes são como ele. Como exigir que ele se porte como Portugal inteiro não se porta? Claro que ele aprova a corrupção e consegue ver nela virtudes redentoras. Não é agora altura de mudar os costumes.»

Será possível, a curto prazo, mudar as ideias, as atitudes e os comportamentos da generalidade dos portugueses em relação à corrupção e à política?

É duvidoso. Não julgo que se possam modificar as ideias, da maioria das pessoas de um país, apenas devido ao discurso racional, como aliás a história de Portugal nos prova e no dia-a-dia, com frequência, podemos constatar.

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Somos livres? Para quê?

Quando o 25 de Abril de 1974 aconteceu, eu ainda era uma criança. Deixo aos leitores algumas das recordações mais vivas que guardei dessa altura: duas canções.

terça-feira, 19 de abril de 2011

Medicinas alternativas: ciência ou aldrabice?

Richard Dawkins mostra-nos que as medicinas alternativas (algumas delas pagas, em Inglaterra, pelos impostos dos contribuintes) assentam em crenças irracionais e os resultados obtidos com a sua aplicação não estão cientificamente justificados.

As medicinas alternativas, supostamente credíveis, pretendem substituir a ciência, mas são um embuste. Vale a pena ouvir, com atenção, os discursos de alguns dos detentores deste pseudo-conhecimento a explicarem a crendice nas ideias que defendem. É um daqueles momentos em que compreende, efectivamente, porque razão é  útil aplicar o pensamento crítico à vida em geral, até mesmo quando se trata da nossa saúde. 

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Fé e ciência, segundo Richard Dawkins

Richard Dawkins, biólogo e divulgador científico, distingue a explicação religiosa da explicação científica, defendendo que não é possível conciliar estes dois tipos de abordagem dos problemas. Mas será mesmo assim? Porquê?

Antes do leitor concordar ou discordar da tese de Dawkins, vale a pena ouvir atentamente os seus argumentos, expressos numa linguagem clara e acessível.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Tropa de Elite 2: um retrato impiedoso dos políticos e da política

Encontra-se em exibição, em Portugal, o filme "Tropa de elite 2" do realizador brasileiro José Padilha (ver AQUI). Um filme imperdível: pela história, pelo desempenho dos actores, pela visão nua e crua que apresenta da actividade da maioria dos políticos.

Um excelente pretexto para reflectir acerca da política, dos políticos, da ética e da democracia... Considerando o actual momento que se vive em Portugal, bem precisamos de o fazer.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Um debate sobre religião, ciência e filosofia

Richard Dawkins, Daniel Dennett, Sam Harris e Christopher Hitchens debatem questões relacionadas com a religião, a ciência e a filosofia. Um diálogo, longo, mas  muito, muito interessante e instrutivo.

O vídeo tem legendas em português (ver no YouTube e carregar, na barra, em CC).

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Argumentos contra o ateísmo

As alunas do 11º C, Catarina Perez, Inês Pedro e Rute Rita (a quem agradeço o envio da imagem), analisaram e discutiram na aula - a propósito da utilização das falácias na publicidade - um interessante cartaz contra o ateísmo.

Deixo, então, um desafio ao leitor: descobrir, tal como estas alunas fizeram, quais são os argumentos falaciosos utilizados neste cartaz publicitário.

Para defender a tese em causa haverá outras formas de argumentar mais persuasivas? Porquê?

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quinta-feira, 7 de abril de 2011

Uma fotografia de Portugal

PONTE 25 DE ABRIL, NEVOEIRO (7)

A foto foi tirada deste sítio.

Pode ler, no jornal Público, uma importante notícia referente ao dia de hoje.

"De facto, quando os regimes reaccionários foram por fim derrubados, os libertadores tentaram com todas as suas capacidades e com os recursos de que dispunham concretizar esses nobres objectivos e introduzir formas de governo transparentes, livres de todas as formas de corrupção. Os membros do grupo oprimido tinham a esperança de que os seus sonhos mais acalentados iriam por fim ser alcançados, e de que, chegado o momento, iriam recuperar a dignidade humana que lhes fora negada durante décadas ou mesmo séculos.

Mas a história não deixa de pregar partidas mesmo aos mais experientes e mundialmente famosos combatentes pela liberdade. Com alguma frequência, antigos revolucionários têm cedido à cupidez, e a tendência para se apropriarem dos recursos públicos para seu próprio enriquecimento acabou por dominá-los. Ao acumularem riqueza pessoal, e ao traírem os nobres objectivos que lhes granjearam fama, acabam por abandonar as massas populares e por se juntar aos antigos opressores, eles próprios enriquecidos graças à espoliação dos mais pobres entre os pobres."

Nelson Mandela, “Arquivo íntimo”, Lisboa, 2010, Editora Objectiva, pág. 406.