terça-feira, 30 de agosto de 2011

O Facebook na vida real

Nas redes sociais temos acesso a quê? Ao conhecimento ou à ilusão do conhecimento? À amizade real ou à amizade virtual? À vida verdadeira ou à vida virtual?

Ou será que o virtual é, de certo modo, real?

A propósito deste assunto pode ler no Dúvida Métodica: aqui.

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Elevar-se, mas como?

"As pessoas devem sempre elevar-se para além das circunstâncias, ou então afundam-se, seja na droga, no álcool ou em seitas alucinadas. Quanto mais penosa, e como que desumanizada, se torna a situação, mais as pessoas procuram saídas deste género."

Marguerite Yourcenar, De olhos abertos, tradução de Renata Correia Botelho, Relógio de Água Editores, Lisboa, 2011, pág. 154.

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terça-feira, 23 de agosto de 2011

Para avaliar os professores é preciso avaliar os alunos

A maioria das críticas ao modelo de avaliação dos professores apresentado pelo governo tem incidido na existência de quotas e na isenção de avaliação para os professores que se encontrem nos três últimos escalões da carreira (ver por exemplo aqui e aqui). São críticas relevantes, principalmente a segunda.

Não se tem, contudo, falado do pior defeito deste modelo - que é, na minha opinião, o facto de não explicitar claramente que a avaliação dos professores deve ter em conta a avaliação das aprendizagens dos alunos. Os melhores professores são os que melhor ensinam e para avaliar isso é preciso considerar aquilo que os alunos aprenderam. Avaliar os professores sem ter em conta as aprendizagens dos alunos seria como avaliar um fabricante de automóveis sem avaliar a qualidade dos automóveis.

Não estou a defender que se considerem apenas as classificações atribuídas por cada professor, pois isso levaria muitos professores a inflacioná-las, mas sim que se considere a relação entre essas classificações e as classificações obtidas nos exames nacionais (essa ideia é melhor desenvolvida nos posts Como deveriam os professores ser avaliados? e Como evitar a subjectividade na avaliação dos professores?).

Sem esse elemento de avaliação externa, a capacidade da avaliação dos professores melhorar o seu trabalho será diminuta e existirão sempre suspeitas de subjectividade e arbitrariedade, mesmo que se recorram a avaliadores de outras escolas para as aulas assistidas (como prevê o modelo agora apresentado).

Lembro-me de ouvir Nuno Crato, antes de ser ministro, relacionar a avaliação dos professores com a avaliação dos alunos. Porque estará a ideia ausente do modelo apresentado?

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

O que é necessário, embora não suficiente, para escrever um livro?

“Antes de escrever um livro é preciso ler mil.”

(Provérbio chinês)

O mérito da velhice

Para quem, como eu, fez um balanço extremamente negativo dos dois governos de Sócrates na área da educação (ver aqui, aqui e aqui) e depositava alguma esperança no novo modelo de avaliação dos professores, a proposta do ministro Nuno Crato foi uma grande decepção, nomeadamente porque contradiz várias boas ideias por ele defendidas antes de assumir a pasta da educação.

Essa proposta, cujo conteúdo se encontra agora a ser negociado com os sindicatos, é uma continuação dos modelos anteriores, apenas com ligeiras alterações na terminologia utilizada e em alguns procedimentos, como o avaliador externo (importa saber depois como se irá concretizar esta ideia). Percebe-se até certo ponto que assim seja, pois este novo (?) modelo, à semelhança dos dois anteriores, continua a basear-se no mesmo estatuto da carreira docente. Consequentemente, há disposições legais que não podem deixar de ser respeitadas. É claro que a forma como são implementadas poderá variar, mas isso são aspectos de pormenor.

O que, na minha opinião, não é um aspecto de pormenor e fere - talvez de morte - a credibilidade do novo modelo é o facto de isentar da avaliação os professores do 8º, 9º e 10º escalões que tenham obtido a avaliação de Bom (Artigo 20 da proposta apresentada). Há várias questões que se podem colocar a este respeito:

- Esta medida não assentará numa distinção arbitrária e injusta, tal como aquela que levou à criação do “professor titular” (ferozmente combatida pela maioria dos professores e sindicatos - agora silenciosos sobre esta nova distinção), no primeiro governo de Sócrates?

- Terá sentido fazer depender o mérito da velhice? Existem professores competentes e incompetentes tanto entre os mais novos como os mais velhos. Não vejo como é que se pode defender que 40 mil professores não sejam avaliados apenas por causa da antiguidade. Quando, na verdade, todos sabemos que o principal critério que os fez progredir até agora na carreira foi o tempo de serviço e não uma avaliação séria - em termos científicos e pedagógicos - do seu desempenho. Esta ideia é inadmissível e não está de acordo com os mais elementares princípios de justiça.

- É criando uma espécie de casta de intocáveis que o senhor ministro tenciona incentivar os melhores e reconhecer o mérito?

Dos sindicatos, considerando o miserável acordo feito com o governo anterior, eu já não espero nada, mas do ministro Nuno Crato, confesso que esperava mais: por exemplo, ver os professores - todos sem excepção - serem tratados com imparcialidade e justiça.

Mas não é o que se vai passar, a menos que o modelo de avaliação agora proposto seja substancialmente modificado.

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Algures debaixo do arco-íris

Pode-se-à aplicar as ideias de Lavoisier - na natureza nada se cria, nada se perde tudo se transforma - à música, nomeadamente quando nos referimos a diferentes versões de uma canção?

Antes de responder oiçam as duas interpretações (da Judy Garland e da Ella Fitzgerald) do clássico "Over the rainbow".

Esta belíssima canção fala do poder do sonho na vida humana e outros blás blás reconfortantes para a alma. Curiosamente, ao ouvi-la sempre a associei a ideias mais terra a terra: algures debaixo (e não acima) do arco-íris resta-nos fazer o melhor a partir do que existe (e não nos sonhos).

 

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Onde é que dói ao certo?

Uma vez um homem foi ao médico dizendo que lhe doía o corpo todo. O médico duvidou ligeiramente: “todo??” Mas o homem reiterou: “Sim, doutor. Todo!”

Para demonstrar a sua afirmação, o homem tocou rapidamente em várias partes do seu corpo com o dedo espetado, dizendo de cada vez: “dói-me aqui” - “dói-me aqui”, “dói-me aqui”, “dói-me aqui”...

Depois disso, o médico examinou-o com atenção e finalmente pronunciou o diagnóstico: “O senhor tem o dedo partido.”

(Esta história é contada no filme O Sabor da Cereja, de Abbas Kiarostami.)

sábado, 13 de agosto de 2011

A avaliação dos professores: uma espécie de eucalipto

Ontem por volta da meia-noite governo divulgou o novo modelo de avaliação dos professores. Durante a tarde e a noite de ontem, quando se aproximava o final do prazo para essa divulgação, nos blogues e no Facebook foram escritas muitas palavras inquietas sobre o assunto. Hoje abundarão os comentários e as apreciações.

A avaliação dos professores é importante, mas é lamentável que a maior parte das vezes que se fala de educação em Portugal se fale dos professores e não dos alunos e, principalmente, daquilo que os alunos devem aprender. Os assuntos dos professores parecem ser uma espécie de eucalipto, pois secam os outros assuntos educativos.

Quem me dera que os assuntos em discussão fossem a mudança dos programas das disciplinas e a alteração do Estatuto do Aluno – uma lei estúpida que promove a falta de pontualidade e de assiduidade e a indisciplina.

Há pouco tempo escrevi sobre isso aqui e aqui, mas por muito que algumas pessoas repitam o óbvio este estado de coisas não muda. Por isso, da próxima vez que na televisão ou na internet se falar de educação é provável que se trate mais uma vez disto ou daquilo dos professores.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Onde é que isto vai parar?

"Outrora, um desonesto era algo incrível. E agora, um tipo verdadeiramente íntegro é visto como um prodígio. Quanto aos jovens, é melhor nem falar. Onde já vai o tempo em que era visto como um sacrilégio um jovem não se levantar perante um idoso? Em resumo, devoção, correcção, rectidão, palavra de honra, respeito, valor, civismo, património cultural, etc. Tudo isso desapareceu. (...) Já não há em Roma mais lugar para um bravo Romano."

Juvenal, séc. II d.C.

3 anos

O Dúvida Metódica começou a 11 de Agosto de 2008. O primeiro post foi este: Filosofar.

Vamos continuar.

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

domingo, 7 de agosto de 2011

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

A natureza humana e o ensino

A escritora Marguerite Yourcenar foi professora, por poucos anos, nos Estados Unidos durante a Segunda Guerra Mundial. Quando questionada a propósito desta sua breve experiência no ensino

"- E o que é que e os seus estudantes lhe ensinaram?"

Respondeu:

"Que muito poucos estão preparados para o estudo, que a maioria dos seres se deixa ficar quieta num certo statu quo, e quão curto é o despertar. Às vezes podemos chegar ao momento desse despertar e provocar qualquer coisa, fazer durar o fenómeno, mas ele por si próprio na maior parte das vezes não dura. A maioria dos seres inteligentes e brilhantes aos dezoito anos ou aos vinte iludem-se sobre o que virão a ser um dia. A sua capacidade de entusiasmo foi curta e a vida venceu-os brutalmente."

Marguerite, Yourcenar, De olhos abertos, tradução de Renata Correia Botelho, Relógio de Água Editores, Lisboa, 2011, pág. 109.