Amanhã, sexta-feira, o governo irá falar do modo como os professores irão ser, no futuro, avaliados. Mas antes de sabermos que mudanças vão ser introduzidas, importa fazer um balanço dos modelos de avaliação aplicados pelos dois governos de Sócrates. Parece-me que sem uma análise crítica e uma discussão dos resultados obtidos com a sua aplicação, dificilmente, se pode melhorar as ideias certas e corrigir as erradas.
Sou professora há mais de 20 anos. Durante muito tempo, antes da chegada da ministra Maria de Lurdes Rodrigues, o que se passava nas escolas era o seguinte: todos os professores eram avaliados com Satisfaz (salvo casos extremos de incompetência) com base num ridículo relatório (onde era suposto elogiarem-se a si próprios, utilizando uma linguagem vaga que pouco queria dizer porque, na verdade, se sabia à partida que o conteúdo era inócuo). Quando um professor se lembrava de pedir Bom (sim, porque tinha de ser requerido pelo próprio e não resultava da avaliação de outros) isso não era bem visto pela maior parte dos professores e este era tido como alguém que se estava a pôr em bicos dos pés, um vaidoso a chamar as atenções.
Assisti durante muito tempo ao lema da velhice ser um posto. Na verdade, não importava quão medíocre se era, importava há quanto tempo se leccionava aulas nessa escola: isso era sinónimo, na maior parte dos casos, de estatuto e poder. Lembro-me de, em várias reuniões, o conteúdo das minhas observações (por mais pertinentes que fossem) não ser de facto considerado: o que importava não era o que era dito, mas quem o dizia; não importava o que era feito, mas quem o fazia. Por diversas vezes me espantei com a falta de empenho, a nível científico e pedagógico, de alguns dos meus colegas mais velhos. Contudo, isso era irrelevante porque a esse nível éramos, supostamente, todos iguais. Mas claro que essa "igualdade" não impedia que aos mais novos na escola fossem atribuídas as piores turmas, os piores horários e a leccionação do maior número de disciplinas.
A ideia de na prática lectiva se diferenciar a qualidade dos desempenhos de cada um (independentemente dos anos de serviço que possuía) era estranha para a maioria. Fazia parte das funções docentes avaliar e classificar o desempenho dos alunos, mas não passava pela cabeça dos professores que se pudessem distinguir os seus próprios desempenhos e atribuir-lhe uma classificação.
O primeiro governo de Sócrates introduziu uma ideia, a meu ver, certa: avaliar o desempenho dos professores, só que o modo como o pretendeu fazer foi completamente errado e absurdo. Contestei activamente o primeiro modelo de avaliação (ver aqui e aqui), não entreguei os objectivos individuais e fui, por isso, “justamente” avaliada com Bom. Embora não percebesse o porquê das várias classificações atribuídas na ficha que recebi da direcção da escola, aceitei - desencantada com a “classe” - essa classificação como uma consequência (e uma penalização decorrente da legislação em vigor) pelas minhas escolhas e acções.
No entanto, algo de positivo resultou de toda esta embrulhada: agora os professores, na sua generalidade, já não se atrevem a defender publicamente que não devem ser avaliados, apenas contestam o modelo.
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