terça-feira, 26 de julho de 2011

Afinal, na Finlândia não é proibido reprovar alunos

Na Finlândia também há exames, estúpida! é um texto  de Guilherme Valente que vale a pena ler.

Este mostra que na Finlândia há não só muitos exames como, contrariamente ao que os defensores do “eduquês” dizem, os alunos podem reprovar. Simplesmente, isso raramente sucede, pois o sistema de ensino funciona tão bem que os alunos aprendem quase sempre o suficiente para passar de ano.

Como sabemos, essa não é a única mentira que os  defensores do “eduquês” repetem incessantemente na esperança de que entretanto se torne verdadeira – à semelhança das profecias que se auto-realizam.

(O texto foi publicado ontem no jornal Público e hoje no blogue De Rerum Natura.)

2 comentários:

dromofilo disse...

Domingo, 24.07.11
A Finlândia, agora utopia da direita

Hugo Mendes

Guilherme Valente publica hoje um artigo de opinião no "Público" a propósito de uma frase que alguém terá dito no Parlamento: "Na Finlândia não há exames nem retenções". Este é o ponto de partida para uma comparação entre o sistema educativo finlandês e o português. O autor quer passar a ideia que o modelo finlandês assenta num "regime intensivo de exames". Tudo depende do que o autor quer dizer com "exames" (não é com certeza o vulgar "teste", sob pena da referência não fazer qualquer sentido), mas a ideia que se pretende transmitir é falsa.

Atenção: nada que vou dizer incide sobre a eficácia do sistema finlandês e das regras nele vigentes, nem sobre a exequibilidade de importarmos instituições, medidas e hábitos. Isso é toda uma outra discussão. A única coisa aqui relevante é se a imagem dada do sistema, e em particular a função dos exames, é rigorosa ou não.

Vamos ao sitio do Finnish National Board of Education. Na página com informação mais global sobre o sistema de ensino finlandês, lê-se em relação ao tópico "Encouraging assessment and evaluation: The student assessment and evaluation of education and learning outcomes are encouraging and supportive by nature. The aim is to produce information that supports both schools and students to develop. National testing, school ranking lists and inspection systems do not exist. [sublinhado meu]
Atenção: nem exames nacionais, nem rankings de escolas.

Depois, na página sobre Pupil Assessment, vemos que há duas formas de avaliação dos alunos ao longo do ensino básico (até o 9.º ano): "National guidelines and principles for pupil assessment are given in the core curriculum. In the core curriculum pupil assessment is divided into assessment during the course of studies and final assessment." Esta é basicamente a divisão do que Guilherme Valente chama de "avaliação permanente" e "exames formais", mas com algumas particularidades relevantes para esta discussão:
- só existem provas finais no termo da escolaridade obrigatória (como acontece afinal em Portugal, nas disciplinas de Português e de Matemática), e não ao longo da escolaridade. Os certificates e os reports que constituem a avaliação permanente têm como objectivo "to guide and encourage studying and to help pupils in their learning process".
- este método de avaliação serve fundamentalmente para dar indicações ao longo do trajecto pedagógico a professores e a alunos, de modo de conferir aos segundos competências e hábitos de auto-avaliação: "One task of basic education is to develop the pupil´s capability for self-assessment. The purpose of this is to support the growth of self-knowledge and study skills and to help the pupil to learn to be aware of her or his progress and learning process". Em lado nenhum se passa a ideia de que o objectivo é o de avaliar para separar os bons dos maus alunos, ou para criar uma cultura de trabalho ou de mérito.
- em lado nenhum se encontra o "regime intensivo de exames" de que Guilherme Valente fala (a não ser, claro, que um "exame" seja um qualquer teste que qualquer aluno faz às centenas ao longo da escolaridade obrigatória em Portugal).

Repito: não concluo que o que produz excelentes resultados na Finlândia serviria cá. E já nem entro na discussão, que pode ficar para outras núpcias, da centralidade dessa terrível ideologia conhecida por "eduquês" no currículo finlandês (pode ler-se um parágrafo particularmente relevante aqui). Agora, se querem vender ao país as ideologias do "excelentês" e do "examinês", o mínimo que se pede é rigor nas comparações internacionais.

P.S. - Sobre o sistema de educação finlandês, uma sugestão de tradução para a Gradiva aqui.

Blog Jugular

Rolando Almeida disse...

A diferença é que o número residual de retenções na Finlândia é um ponto de chegada e não um ponto de partida. Mas pelo que tenho por aí lido o que na Finlândia existe é pouco abandono escolar, pois os estudantes não terminam todos o secundário com a mesma idade.