domingo, 17 de julho de 2011

A origem do mal

O título deste post é um exagero. O post é acerca do “eduquês”; ora, este - ao promover a desvalorização do conhecimento, o facilitismo e a repulsa pelos exames e por qualquer outra forma de avaliação externa rigorosa e exigente - contribui imenso para os problemas que afectam a educação em Portugal, mas não é naturalmente a sua única causa – não é a origem de todo o mal educativo. Mas é uma das causas mais importantes, pois, além dos malefícios  que provoca sozinho, agrava os efeitos das outras causas.

Um bom exemplo disso é a atitude que os teóricos do “eduquês” têm em relação aos exames. Muitos alunos portugueses revelam dificuldades no Português e na Matemática, pelo que os resultados dos exames – a menos que estes sejam excessivamente fáceis - não costumam ser bons. Soubemos esta semana que os resultados nessas disciplinas, tanto no 9º como no 12º, foram pouco satisfatórios. Contudo, esses teóricos dizem que o problema são os próprios exames, ou seja: a culpa do insucesso é dos exames. Com isso não querem dizer que os exames X e Y foram mal elaborados, mas sim que os exames em geral são um modo errado e perverso de avaliar os alunos e que – como diz um dos arautos portugueses do “eduquês” - o “sistema-exames faz dos alunos, dos professores e das escolas vítimas inocentes”. Solução: alguns dos referidos teóricos - mais radicais ou apenas mais sinceros - defendem que é preciso acabar com os exames; outros - mais moderados ou talvez mais diplomáticos - acham que se deve "suavizá-los", relativizá-los, diminuir o seu número, diminuir o seu peso na avaliação dos alunos, etc.

(Dito em eduquês: Por mais parafernália técnica que se introduzam nos exames (…) sempre haverá erros, problemas de justiça, critérios cegos e discutíveis. Os exames são imprescindíveis para gerar a necessária confiança social no sistema de ensino. Mas devem procurar-se processos complementares de se obter o mesmo efeito. Como instrumentos de avaliação são de uma grande pobreza e de um arbítrio muitas vezes insustentável.)

Chamo a atenção do leitor para o pormenor da "confiança social": para o "eduquês" a utilidade dos exames, a existir, não é pedagógica nem científica, mas apenas social.

Mas, como é evidente, sem os exames (ou sem exames a sério) o insucesso não desapareceria, apenas ficaria oculto. O que agravaria o problema. A "solução" proposta pelo “eduquês” equivale à prática primitiva de matar o mensageiro que trazia más notícias.

Por isso, se as ideias desse e de outros arautos do género não são a origem de todo o mal educativo, são pelo menos a origem de muitos males. Esperemos que o ministro Nuno Crato e os seus secretários de Estado, contrariamente ao que sucedeu noutros governos, não lhes dêem ouvidos.

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