Ao ver este cartaz fui assaltado pela seguinte dúvida: porque é que a historiadora é apresentada como historiadora e a médica como médica, enquanto o filósofo é apresentado como professor de Filosofia? O que é preciso, afinal, para alguém ser chamado filósofo?
10 comentários:
ser filósofo.
(estranho a sua questão, enquanto questão colocada por um professor de filosofia. se não for o senhor a perceber e a transmitir essa diferença aos seus alunos, quem o será?)
A minha pergunta é, naturalmente, irónica. Pretendia criticar os autores do cartaz que chamam historiadora a uma pessoa que escreve livros de história (embora não seja, julgo eu, licenciada em História) e médica a uma pessoa licenciada em medicina, mas não chamam filósofo a um licenciado (e doutorado, creio) em Filosofia - professor universitário e autor de diversos livros e artigos de Filosofia de qualidade reconhecida. Claro que merecia ser chamado filósofo.
Os autores do cartaz e os organizadores do debate não fizeram isso por falta de apreço pelo trabalho da pessoa em questão (Desidério Murcho), mas sim devido a ideias erradas sobre a filosofia.
mas Desidério Murcho (com todo o respeito, que muito o admiro), não é filósofo... é professor de Filosofia. ser-se filósofo não se mede pelo nº de livros e artigos que um especialista em filosofia escreva. fosse assim e a História da Filosofia cresceria exponencialmente, não concorda? :)
sem-se-ver:
Não concordo. Está a sugerir que só pessoas como Platão ou Kant merecem ser chamadas filósofos. Por essa ordem de ideias só se poderia chamar cientistas a pessoas como Newton ou Einstein. O que é manifestamente absurdo. Claro que há filósofos mais relevantes que outros, mais originais que outros, etc. Mas desde que sejam capazes de pensar pela própria cabeça, conheçam a bibliografia principal e sejam capazes de discuti-la, julgo que merecem o nome de filósofos.
É verdade que em Portugal uma pessoa se arrisca a ser ridicularizada se se intitular "filósofo", mesmo que reúna as condições referidas (como o DM manifestamente reúne), mas isso deriva de uma concepção errada da filosofia e da sua prática.
desculpe a demora.
pois, está visto que não concordamos mesmo... :)
porque para mim é claro que ser filósofo NÃO É ser-se 'capaz de pensar pela própria cabeça, conhecer a bibliografia principal e ser capaz de a discutir.». Que absurdo! O colega não vê quanto tal genérica definição permite que qualquer um se intitule de filósofo? O mesmo se aplicaria a alguém versado em literatura científica para poder ser considerado cientista? Ou em literatura para ser considerado escritor?
pelo amor de deus... ser filósofo está consagrado para aqueles que, de uma forma pessoal, original e crítica, oferecem teorias sistemáticas, estruturadas, organizadas e coerentes de explicação do Homem no Universo, com incidência ou não em todas as áreas filosóficas específicas. portanto, sim, está consagrado aos Platões desta vida e, a partir do estouro dos verdadeiros sistemas filosóficos perpetrado por nietzsche (hegel como último exemplar), àqueles que, muito mais modestamente embora, cumpriram o critério acima a partir do século XX: os habermas, os bachelards, os rawls,os poppers, etc.
ser-se professor de filosofia é ser-se professor de filosofia, não é ser-se filósofo. tal como ser-se professor de biologia é ser-se professor de biologia, e não cientista (quanto a esta não lhe oferece dúvidas, pois não? então...?).
objectar-me-á: mas professor de biologia na universidade pode ser (e a maior parte das vezes é mesmo) cientista também (porque investiga). sem dúvida! ser-se professor universitário de filosofia, por si só, torna alguém filósofo? nem pensar. com todo o respeito por desidério murcho e casos similares, a 'investigação' filosófica (aquilo que escreveu na sua resposta) não equivale, por si mesma, a garantir o estatuto de filósofo. esse exige muito mais do que 'ser capaz de pensar pela própria cabeça, conhecer a bibliografia principal e ser capaz de a discutir'.
(como é que o colega se apresenta aos seus alunos e/ou lhes responde se o interpelam ou perguntam directamente se é filósofo?)
Um filósofo é alguém que se dedica de modo profissional à investigação filosófica e intervém (através de conferências, artigos em revistas especializadas, publicação de livros, etc.) na discussão de questões filosóficas, sejam elas de ética, epistemologia, metafísica, estética, filosofia política, etc.
Passa-se com os filósofos exactamente o mesmo que com os biólogos, os físicos, os sociólogos e os historiadores. Por que razão haveria de ser diferente? Os filósofos não são uma espécie de sábios ou de semi-deuses. Como em tudo, há filósofos geniais, muito bons, bons, razoáveis e maus. Quem acha que só há bons filósofos, está a tomar o termo «filósofo» em sentido valorativo e não classificativo, que é o que está aqui em causa.
Claro que ser filósofo não é a mesma coisa que professor de filosofia. Mas, frequentemente professores de filosofia são ou foram também filósofos e vice-versa (Kant, para dar um exemplo que todos conhecemos bem).
A afirmação de que os filósofos são apenas aqueles que «de uma forma pessoal, original e crítica, oferecem teorias sistemáticas, estruturadas, organizadas e coerentes de explicação do Homem no Universo» é simplesmente falsa. Há carradas de de filósofos que não exemplificam o conjunto dessas características e que são reconhecida e consensualmente classificados como tal. De resto, é falso que a filosofia trate da explicação do homem no universo, seja o que for que isso significa, pois algumas das questões centrais da metafísica nada têm que ver com o homem (por exemplo, a disputa nominalismo/realismo acerca dos universais).
Também é falso que os filósofos tenham teorias sistemáticas e muitas delas são até incoerentes. Aliás, uma parte importante da discussão filosófica é revelar algumas dessas incoerências que estavam subtilmente escondidas, de modo a melhorar a nossa compreensão dos problemas em causa. Pensar o contrário é encarar os filósofos como seres infalíveis, o que é simplesmente disparatado.
O que acontece é que alguns filósofos contribuem mais modestamente do que outros para a discussão dos problemas, como acontece na biologia, na física ou na sociologia. Uns avançam com grandes teorias, outros com pequenas objecções, outros como reformulações interessantes de velhos argumentos, outros com contraexemplos esclarecedores, outros com refinamento de teorias existentes, etc. Como na física, em que não há só Newton, Maxwell e Einstein. Os cientistas anónimos que fazem diária e modestamente investigação também são cientistas.
Aires:
Obrigado pelo esclarecedor comentário.
Mas talvez, o professor de filosofia fosse apenas um professor de filosofia. Talvez, em todas as suas aulas, só apresentasse teorias de outros filosofos, e depois de sair da sala de aula esqueceria filosofia e deixasse sua mente e sua curiosidade descansando. Claro, uma generalização, pois não sabem se o homem é de fato, apenas um professor, e não alguém que vive a filosofia.
Olá, que tenham uma boa noite:
Eu sou de opinião, que ser filósofo, básicamente, é simplesmente ser amante ou amigo de Sofia... !!!
Agora, se certas pessoas, exigem que um filósofo seja um pouco mais erudito ou letrado do que isso, sou de parecer, que estão a exigir demais aos pobres de espírito, que anseiam por mais luz intelectual, ou racional.
Especulativamente - artur
Enfim, para o filósofo, entre inumeráveis tarefas é preciso empreender uma busca afortunada pelo conhecimento humano, explorando cada vez mais aquilo que a natureza, de certo modo, já nos permitiu conhecer no seu desvelar-se ao ser humano.
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