Estou a ler este livro: a transcrição de uma série de conversas que Matthieu Galey manteve com a escritora francesa (naturalizada americana em 1947) Marguerite Yourcenar (1903-1987). Autora de alguns dos romances de que mais gosto, em particular As memórias de Adriano.
Neste livro, apresentado sob a forma de uma longa entrevista, pode-se aceder a dados de natureza biográfica (talvez o menos interessante) e também a reflexões sobre temas variados, como o Amor, a tradução, a solidão, o feminismo, o racismo, a política e a morte, entre outros (que correspondem a diferentes capítulos). Além disso, a autora explica a génese de alguns dos personagens fundamentais dos seus romances, o que para os apreciadores da sua obra literária é uma experiência única: a sensação (talvez ilusória) de desvendar, em parte, o processo de criação de personagens que, nalguns casos, nos acompanharam e influenciaram em diferentes momentos da vida.
Deixo aos leitores duas pequenas passagens, de capítulos diferentes:
"Quando falamos de amor pelo passado é preciso ter atenção, pois é do amor à vida que se trata. A vida está muito mais no passado do que no presente. O presente é sempre um momento curto, mesmo quando a sua plenitude o faz parecer eterno. Quando se ama a vida, ama-se o passado, porque é o presente tal como sobreviveu na memória humana. O que não significa que o passado seja uma idade de oiro: tal como o presente, é ao mesmo tempo atroz, soberbo ou brutal, ou apenas vulgar."
"As pessoas não gostam de perceber o quanto a sua vida depende do acaso, isso embaraça-as. Adoram ter uma vida mais ou menos controlada por elas, ou senão por elas, pelas suas paixões, pelos seus amores, mesmo pelos seus erros. Acham mais bonito e mais interessante (...) do que ter dependido apenas do autocarro que se apanhou (...)."
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