Uma das ideias positivas introduzidas no actual modelo em vigor (e ausente no anterior) é a ideia de que o docente tem a obrigação de apresentar provas públicas das actividades que desenvolveu (e, pressuponho eu, da sua relevância em termos científicos e pedagógicos): as chamadas “evidências”. Todavia, o facto de não se explicitar a natureza destas nem o seu número, dá azo a inúmeras interpretações e faz com que esta boa ideia dificilmente seja operacionalizável e que as evidências possam ser avaliadas de modo rigoroso e não arbitrário.
Apesar das críticas que fiz ao modelo actual, defendo que as regras estabelecidas no início deste ano lectivo devem ser mantidas até ao fim. Há 40% dos professores que requereram aulas assistidas (quem não o fez foi porque não quis), gastaram tempo e energia na concretização de várias tarefas - que estavam de acordo com a lei e foram voluntariamente escolhidas – e tudo isso seria jogado para o lixo. Por outro lado, sem levar a aplicação do modelo até ao fim não se pode fazer um verdadeiro balanço da sua implementação: das suas vantagens e desvantagens (o que não se fez no modelo anterior, pois nas escolas os professores avaliados remeteram-se ao silêncio e nada foi dito ou discutido publicamente). Considero a alteração das regras a meio do percurso inaceitável, pois viola os direitos das pessoas que confiaram no Estado (de direito?). Além disso, o ministério da educação nunca permitiria que os professores fizessem na avaliação dos seus alunos aquilo que os políticos fizeram com a avaliação dos professores: tentarem alterar as regras arbitrariamente - de acordo com as conveniências eleitorais - sem ter em conta as consequências reais produzidas na vida das pessoas, contribuindo assim para desacreditar a confiança nas leis do país.
No entanto, uma das consequências perversas da aplicação do actual modelo de avaliação é o facto de lançar a suspeição sobre as classificações. Mesmo que o mérito seja real, a falta de transparência e de credibilidade do processo impede que este seja objectivamente reconhecido. É desmotivador pensar que mesmo os que fazem o que devem - devido à balbúrdia política reinante e à ausência de ideias claras sobre educação - não podem ver qualidade do seu trabalho avaliada com justeza.
Analisando, em retrospectiva, os acontecimentos em torno da avaliação dos professores - que foram em grande parte utilizados com o propósito de distrair a atenção da incompetência dos políticos noutras áreas – percebemos que o discurso e as ideias que vigoraram até agora na educação precisam de ser radicalmente alteradas. Os professores e os alunos precisam de fazer na escola o que é mais importante: ensinar e aprender ciências, literatura, filosofia em vez de perder tempo com a realização de tarefas burocráticas absurdas.
Deste modo, espero que a avaliação futura dos professores se centre, sobretudo, nas aprendizagens dos alunos, isto é, na coerência existente entre a classificação interna atribuída pelo professor e os resultados obtidos na avaliação externa (exames correctamente elaborados e exigentes) e nas actividades desenvolvidas no âmbito curricular, nomeadamente as aulas. Penso que o exercício de cargos, dependentes de uma nomeação, deve ter muito menos relevância que a prática lectiva e estar totalmente dependente de resultados empiricamente verificáveis. As classificações atribuídas aos docentes devem ser públicas, assim como os relatórios das actividades lectivas e não lectivas que são apresentados por cada professor.
A melhor forma de combater a frustrante sensação de injustiça - que já existe, este ano lectivo, em relação às classificações atribuídas aos professores contratados – é, no futuro, a total transparência deste processo. Ora, esta só se consegue tornando pública toda a informação.
23 comentários:
Vê-se mesmo que já acabaste o relatório...deves ser chefe de alguma coisa...qd acabar o meu, venho ler isto com mais calma ;)
Ainda não acabei (mas quase) mas ainda tenho alento para uns comentários:
comecei por não concordar contigo quando dizes que este modelo deve ir até ao fim...se assumes que as classificações são suspeitas, se existem profs que perdem tempo com ele (muitos deles, como eu em vez de estarem a gozar umas merecidas férias...) porquê continuar? Mesmo que eu já tivesse tudo despachado e assinado gostaria de o ver ir pelos ares...no entanto, tens razão...se for pelos ares alguém há-de vir dizer "o modelo era bom, mas foi mal compreendido e não o deixaram ir até ao fim...senão iam ver..."
Há que avaliar o modelo,quantificar quantas horas de trabalho custou (quantas horas pagaram os contribuintes por um devaneio de alguns políticos, que como afirmas e bem utilizado com o propósito de distrair a atenção da incompetência dos políticos noutras áreas), que consequências positivas (muito poucas digo eu) e negativas (ao nível do ambiente de escola, da saúde dos professores, da concentração nas atividades importantes de um professor e da escola, ...)
Assim que se faça tudo até ao fim (incluindo a avaliação), mas que não tenha nenhumas consequências ao nível da carreira de um professor (por todos os motivos apontados, sendo o principal a suspeição das classificações)!
Onde discordo mesmo (acho eu) é que se avaliação futura deve se centrar nas aprendizagens dos alunos estas não se confinam ao conhecimentos dos conteúdos das diferentes disciplinas...Se a avaliação interna deve ser analisada e confrontada com a avaliação externa os exames não são a única forma de o fazer e só concordo com uma avaliação 100% sobre atividades em sala de aula se "curricularizarmos" os projetos (o que alias tenho defendido e promovido, nomeadamente nos Cursos Profissionais)
Boas noites e até breve (ao vivo e a cores)
Olá Sara,
Só uma deixa. Li atentamente os 3 textos. Como sabes trabalho na Madeira e aqui, injustamente, escapamos a toda essa burocracia e o processo é bastante simples, beneficiando ainda assim quem ocupou posições políticas e sindicais, mesmo nunca tendo metido um pé numa sala de aula.
Mas queria aqui referir outro ponto. Hoje em dia parece, como referes, consensual que tem de existir uma avaliação para os professores. Ora, eu discordo. Já digo por quê. Antes queria dizer que qualquer sistema de avaliação acarreta muitas injustiças. Mas estou de acordo que os exames avaliam ao mesmo tempo alunos, o trabalho dos professores e o sistema de ensino. Mesmo assim é quase impossível fazer uma avaliação baseada nos exames porque é quase impossível ter exames a todas as disciplinas. Portanto, se os exames me parecem a via mais simples e eficaz para avaliar o sistema, não me parece que os mesmos possam ser usados para avaliar professores com efeitos de progressão na carreira. Voltando então ao ponto em que discordo da existência de uma avaliação para professores, pelo menos no modelo em que tem sido pensada. Na minha opinião devem as escolas ter mais responsabilidade na contratação de professores de acordo com as metas de cada escola. Hoje em dia se um pai se dirigir a uma escola reclamar de um professor pouco trabalhador, tudo o que a escola faz é desresponsabilizar-se. E há razões para isso, pois a escola quase nenhuma responsabilidade assume no que respeita à escolha e selecção dos seus professores. Existe um clima de impunidade e laxismo. Basta pegar nas pautas, cruzar dados e com alguma facilidade encontramos razões para, pelo menos, pedir satisfações ao professor sobre o seu trabalho. Isso nunca acontece. Um professor pode ter atribuído classificações positivas aos seus alunos e os mesmos fracassarem nos exames e ainda assim o professor ter uma justificação para o seu trabalho. Mas alguém a pede? Não há de facto soluções mágicas para resolver problemas, mas na verdade pelo menos o exame põe a nú os maus professores. O problema é mesmo quando os exames são mal feitos. Razão pela qual para fazer bons exames, o primeiro passo é fazer bons programas, simples e eficazes. Parece-me o caminho mais fiável. Sem isto, toda a conversa de avaliação de professores não passa de treta. (continua)
Ou seja se por um lado não me parece que tenha forçosamente de existir uma avaliação de professores pelo menos no sentido em que ela tem sido pensada, por outro lado não me passa pela cabeça compactuar com o modelo da antiguidade que, já agora, nada beneficia os bons professores como bem mostras na 1ª parte do teu texto. Um destes dias uma vice directora de uma escola desabafava-me que gostava que os professores se empenhassem mais na escola, ao que respondi que não pode esperar uma atitude dessas das pessoas quando a escola só reconhece aquilo que ninguém pode mudar, a antiguidade. E, já agora, é por essa razão que eu tenho tido poucas hipóteses de ensinar filosofia mesmo vendo autênticos incompetentes e ignorantes a leccionar a disciplina devido à prioridade da idade.
Os exames tem um bom efeito que é afastar os maus professores da leccionação da disciplina e procuram refúgio nas disciplinas catequistas como áreas de integração, novas oportunidades, etc.
Felizmente o que , mesmo em avulso, estou para aqui a dizer até está em consonância com o que pensa o ministro da educação. A conversa da avaliação dos professores só pode dar em barraca se o essencial e mais simples não for devidamente feito.
Já agora: eu tive durante os 3 últimos anos avaliação de excelente. O que fiz para a ter? Apresentei todo o trabalho que tenho feito pela disciplina e que conheces. Comparando com os colegas do continente é injusto, mas também se eu fosse para o continente iria ter muitos entraves pelo menos para já. Estas avaliações acabaram-me por me fazer progredir de escalão mais cedo. É justo? Considero o meu trabalho modesto, mas se me comparar com a maioria dos colegas, eles apenas vão á escola dar aulas. Eu vou fazendo algo mais pela disciplina. O que há de caricato nisto tudo é que tenho lutado para ter umas turmas de filosofia, mesmo que a minha actividade como docente de filosofia tenha sido avaliada como excelente. São estas incoerências que o sistema tem porque é gigante demais. As escolas têm de adquirir mais cultura de responsabilidade.
Caro Rolando,
Avaliar o trabalho dos professores tendo em consideração os resultados de exames nacionais, até pode ser uma boa ideía. Acontece que os critérios de avaliação dos alunos (alguns impostos pelo ME) obrigam a que apenas 60-70% da CIF correspodam à avaliação escrita. Sou prof. de FQ e já fui obrigada a atribuir a classificação de 10 a alunos que, na escrita, não conseguiam mais do que 8 valores. Pois...depende dos critérios de avaliação.
Já agora, não "bata" tanto nos professores mais velhos...fica-lhe mal.
Os professores mais velhos, por regra, possuem MAIS EXPERIÊNCIA, frequentaram cursos MAIS EXIGENTES (nem vale a pena comparar as licenciaturas de há 20 anos atrás com as de agora!)logo não serão assim tão "ignorantes" e,sobretudo, ESCREVEM MELHOR do que muitos dos recém licenciados que até são, imagine-se, prof de português.
Desejo-lhe boa sorte na sua vida profissional e um pouco mais de humildade.
Cláudia
Cara Claudia,
Creio que não generalizei em relação aos professores mais velhos pelo que está a fazer uma leitura enviesada do que escrevi. Aliás, eu não sou propriamente um professor novinho. Mas de facto não coloquei as coisas nesse nível.
Creio que também fez uma leitura superficial em relação ao que eu disse sobre os exames. Eu não disse que os exames devem avaliar os professores sem mais. Disse que são um bom instrumentos que nos fornecem bons indicadores do funcionamento das coisas. Agora se o exame de FQ avalia skills que a frequência anual não avalia, deve ser revisto, ou se só avalia uma pequena parcela, tal deve ser discutido.
Não percebi muito bem por que razão considerou que tenho falta de humildade, mas espero ter esclarecido, já que no meu comentário não coloquei as questões como as julga ver.
Claúdia,
Lembrei-me de um exemplo talvez esclarecedor. Conheço professores de filosofia, cuja desactualização é de tal modo gritante que ainda ensinam pelo programa que nem sequer é o que está em vigor. Sei que não conhece o meu trabalho, mas supondo que eu não o faço, que conheço relativamente bem o programa, que o estudo e preparo, será falta de humildade da minha parte considerar que nestas condições estou mais apto a ensinar a minha disciplina do que esses colegas e que ainda assim me sinto traído pelo critério injusto da antiguidade?? O que acha disso? Considero que a antiguidade deve ser critério para escolha de horários, turmas, etc... o que eu não percebo é que seja praticamente o único e o mais relevante. Desse modo tem-se deixado de lado bons professores enquanto outros que não são tão bons fazem as suas escolhas. Imagine ainda que eu sou mesmo um vaidoso, com muita falta de humildade, que ficciono tudo cheio de manias, mas que vivo somente da imagem que, na verdade, não tenho qualidades profissionais que se compare às da Cláudia. Mas suponha ainda que sou mais velho. Acha justo que esse critério defina todo o nosso futuro profissional? E se a Cláudia o assumir na caixa de comentários de um blog por que razão não está a ser humilde? Devia aceitar sem ter a possibilidade de se manifestar? Ou deveria achar que mesmo que eu não passe de um preguiçoso é falta de humildade assumir que tem mais trabalho feito que eu? que pensar disto?
Sara,
Gostei dos teus textos. Concordo com a maior parte dos teus rgumentos
Confesso que gostava de trocar umas ideias gerais sobre este tema contigo. Um dia destes, depois das férias, com a cabeça mais "fresca". Logo falamos. Parabéns.
Lamento fazer aqui um comentário pois este blogue merece discussão mais séria mas há 2 dias que venho aqui para saber se clarifiquei a acusação que me foi feita e nada de resposta. Há muito quem proceda assim nos fóruns, blogs e sites de internet. Fazem as acusações que querem e vão-se embora. O curioso é que esta atitude é, entre outras coisas, pouco humilde. Mais uma vez, peço desculpa aos autores.
Olá André,
1º Respondendo, sem ironia, à tua irónica observação: apenas sou chefe de mim mesma (no sentido do poema vitoriano que inspirou Nelson Mandela na prisão – “Eu sou dono e senhor de meu destino;
Eu sou o comandante de minha alma.” – nenhuma outra chefia me interessa).
2º Como afirmei, defendo que a aplicação do actual modelo deve ser finalizada para que se possa fazer um balanço público (com dados objectivos recolhidos junto das escolas acerca da quantidade dos normativos legais aplicados; das horas gastas; do dinheiro gasto – em papel, por exemplo; da perturbação introduzida na componente lectiva; da variação existente nas classificações atribuídas pelos relatores, pelas diferentes direcções da escolas e pelas diferentes escolas do país) e possa existir uma discussão dos seus aspectos positivos e negativos. Sem a apresentação destes dados e uma reflexão sobre eles não se poderá proceder a uma identificação clara das ideias e práticas erradas e dos responsáveis pelas decisões políticas tomadas. Sim, há responsáveis, pois foi a sensação de impunidade (por parte políticos) que permitiu, até agora, que a educação fosse uma área onde certos “iluminados com ideias pedagógicas inovadoras” fizessem as suas “experiências”, desastrosas, na sua maior parte (naturalmente, a pensarem mais em garantir o seu lugarzinho no ministério do que a educação das gerações futuras ou as condições reais de trabalho que estão a facultar aos professores nas escolas). Por outro lado, a passividade com que os docentes, em geral, e as escolas aceitaram tudo - sem discutir ou dar feedback, com raras excepções – ajudam a explicar a barafunda a que assistimos nestas duas últimas legislaturas. Em suma, parece-me imprescindível, o ministério actual avaliar a implementação do modelo de avaliação anterior. Os professores são responsabilizados pelas consequências do seu trabalho e os ministérios, não têm de ser (por mais disparatadas que sejam as leis impostas)?
3º Como pudeste observar, no caso da contestação pública ao primeiro modelo (em que participamos), a obediência prevaleceu e o silêncio hipócrita em relação às classificações atribuídas também. Porque motivo pensas, então, que essas classificações devem ser válidas (como já foram) e as do actual modelo não? De certo modo, no primeiro modelo as pessoas avaliadas tiveram de apresentar muito menos dados objectivos (evidências) que as avaliadas no actual modelo. Discordo, portanto, de ti quando falas das consequências ao nível da carreira: haverá, de certo, arbitrariedade e injustiças em ambos os casos, porquê, então diferenciá-los? Ou se consideram as classificações de ambos os modelos ou não se consideram as de nenhum. O que pensar das muitas, muitas horas de trabalho perdidas (algumas delas em burocracias, é certo) por aqueles que requereram, voluntariamente, aulas assistidas e fizeram o seu trabalho com empenho e honestidade intelectual?
4º Não percebi bem o que queres dizer quando afirmas que as aprendizagens não se confinam aos conteúdos (e, é claro, às competências específicas do programa da disciplina, pressupõe-se. Por exemplo, no caso da disciplina de Filosofia, o desenvolvimento de uma atitude crítica e da capacidade argumentativa) das diferentes disciplinas. Podes elucidar-me?
5º Concordo contigo quanto à necessidade de arranjar alternativas credíveis à avaliação externa das disciplinas que não se encontram sujeitas a exame. Tens sugestões em relação aos curso profissionais?
Eu não afirmei que a avaliação deve incidir 100% nas actividades em sala de aula, mas disse que essa deve ser a componente a que se atribui mais peso. Haverá outras, por exemplo o desempenho das funções de director de turma ou o desenvolvimento de actividades que se traduzam numa melhoria, efectiva, do aproveitamento dos alunos.
Boas férias!
Olá Rolando,
1º Agradeço as tuas informações sobre a avaliação dos professores na Madeira (não sabia!). Mas estas só reforçam a sensação de injustiça e arbitrariedade existente no modo como os professores são avaliados. Da minha parte, não fossem as aulas e o trabalho com os alunos, o desalento seria total. Penso, aliás, que nunca nenhum governo até agora tinha feito tanto mal à educação, à profissão e ao país (de uma forma directa e indirecta, criando um clima de falta de exigência) como o dos últimos dois anos. Acho inacreditável que poucos professores expressem publicamente este sentimento (generalizado pelo que tenho constatado ao longo destes últimos anos) apesar de terem sentido bem na pele as consequências negativas da legislação emanada pelos tecnocratas dos governos anteriores.
2º Se admitíssemos como verdadeiro o princípio geral que enuncias: “qualquer sistema de avaliação acarreta muitas injustiças”, então, como justificarias que na escola se avaliassem os alunos? Ou qualquer actividade que fosse? A aplicação desse princípio teria consequências absurdas, pois impedia-nos de distinguir a qualidade de qualquer desempenho, qualquer que fosse a sua natureza. Não te parece? É verdade que nenhum sistema de avaliação é perfeito, mas isso não é razão para não avaliarmos os desempenhos dos professores, sem o fazermos não há possibilidade de descortinar o que está certo e corrigirmos o que está errado.
3º Reconheces que os exames avaliam os alunos, o trabalho do professor e o sistema de ensino. Ao contrário do que dizes, não julgo que o facto de não ser possível realizar exames em todas as disciplinas seja um motivo para esses resultados não serem considerados na avaliação dos professores, teria é de pensar-se em fazer nessas disciplinas - de outro modo - também uma avaliação externa adequada à sua especificidade (permitindo assim que todos os professores, independentemente da disciplina que leccionam, fossem avaliados em pé de igualdade).
(Continua)
(Continuação)
4ºA ideia das escolas serem responsáveis pela contratação dos seus docentes já se encontra a ser implementada nas que têm um contrato de autonomia (conheço pessoas que trabalhavam em várias, além daquela em que dou aulas). Posso dizer-te que, ao contrário do que afirmas este modelo é também uma enorme fonte de injustiças, pois os critérios de selecção são aprovadas pelos órgãos directivos das escolas (e variam bastante, podem até ser feitos por conveniência) e baseiam-se não só no currículo, no tempo de serviço nessa escola, como numa entrevista, por exemplo. Esta ideia, defendida por muitos políticos de dar autonomia às escolas, colocando-as na dependência das autarquias é uma aldrabice, basta pensar no amiguismo, no compadrio e na falta de transparência existente ao nível das autarquias em Portugal, para perceber que este modelo conduz a injustiças muito maiores do que o anterior: a existência de uma lista graduada a nível nacional (este pelo menos é claro, percebes como funciona, o outro não, depende de factores que não têm nada a ver com a classificação que obtiveste e o teu tempo de serviço).
5º Se um professor não é competente cabe à direcção da escola a responsabilidade de accionar os mecanismos que permitam investigar e pôr cobro a essa situação, assegurando o direito dos alunos à aprendizagem. O que acontece, quase sempre, é que ninguém se atreve a formalizar (encarregados de educação, directores de turma, professores e direcção da escola) essas situações, tudo acaba por se resumir a cortar na casaca do colega em causa. Mas a incompetência pode-se provar objectivamente e esta mentalidade existente é errada porque coloca-nos todos no mesmo saco, mesmo quando sabemos que não é assim.
6º Julgo que existir uma oscilação admissível (2 a 3 valores ou mesmo mais) nas classificações de alguns alunos em exame, mas não de turmas inteiras, esse caso, parece-me (admitindo que o exame se encontra correctamente elaborado), revela que o professor - ou os professores anteriores a ele - fizeram mal o seu trabalho, não creio que possa existir qualquer justificação plausível nestas circunstâncias. Mas concordo com a necessidade de mudar os programas e, já agora, uniformizar as abordagens dos manuais, no caso da Filosofia.
7º Não percebi qual é a alternativa, em termos de avaliação de professores, que preconizas: se não é baseada nos resultados dos alunos, então, deve basear-se em quê?
8º Agradeço a franqueza com que referiste as tuas classificações, não vejo mal nenhum falar disso, pelo contrário, a transparência ajuda a perceber, na realidade, como as leis funcionam. Eu sempre obtive Satisfaz e o dito Bom (o primeiro modelo) que referi no post. Isso é só um facto que registo, nunca interferiu nem interfere na minha prática docente. Contudo, no futuro, desejo que as menções atribuídas se passem a basear em critérios uniformes, com um certo grau de objectividade para que possam ser reconhecidas como credíveis e justas.
Umas boas férias!
Cláudia,
Agradeço o seu comentário. Julgo que interpretou erradamente as palavras do meu colega Rolando. É óbvio que as afirmações dele não se aplicam, na realidade, a todos os professores mais velhos. Tal como as afirmações que a Cláudia fez não se aplicam.
A incompetência, como deve saber, é uma coisa bem distribuída (em qualquer profissão), independentemente do tempo de serviço que se tem. Portanto, creio que a Cláudia - ao divergir para aspectos irrelevantes e atacar pessoalmente o meu colega - não deu um contributo para a discussão das ideias e isso era o que realmente interessava.
Eu concordo consigo quanto à ideia que os critérios aprovados nas escolas inflacionam as classificações atribuídas na frequência aos alunos.
Cumprimentos.
Olá Alexandre,
Bem-vindo à caixa de comentários do blogue (é preciso tratar bem os comentadores da escola, pois são escassos)!
Agradeço as tuas simpáticas palavras. Quando quiseres terei muito gosto em discutir - ao vivo ou aqui - as ideias que defendi.
Boas férias!
Rolando,
Só uma correcção em relação ao que escrevi em 1º, a frase correcta é:
"Penso, aliás, que nunca nenhum governo até agora tinha feito tanto mal à educação, à profissão e ao país (de uma forma directa e indirecta, criando um clima de falta de exigência) como os das duas últimas legislaturas."
O meu lapso é grave: esqueci-me de mencionar o governo da inefável Maria de Lurdes Rodrigues.
Estranhamente, muitos políticos teceram grandes louvores ao seu mandato, esquecendo-se de avaliar as "evidências": à parte da ideia de avaliação dos professores, todo o resto foi um verdadeiro desastre, que custou caro a todos. Num país a sério, com
políticos a sério isto nunca teria sido possível.
Sara
Ainda não acabei o inominável (estou quase e meti 1 dia para descansar já que na sexta de manhã ainda fui à escola resolver alguns assuntos)...assim rapidamente: as consequências a que me refiro são os "saltos" que os colegas contratados dão ao obterem a classificação de "excelente" ou "muito bom" nas listas de graduação...isto nunca aconteceu antes e que uma avaliação destas o permita é tremendamente injusto ...quanto às classificações em si, nunca foram para mim referência de nada, nem os "Satifaz", nem os Bons, nem qualquer outra classificação...mas se no primeiro modelo (o pré-MLR) ainda se poderia avaliar para analisar, nunca conseguimos um modelo que avaliasse para classificar (sobre isto fui rebuscar no google um texto meu antigo http://educar.wordpress.com/2008/11/13/opinioes-andre-lara-ramos/).
Quanto ao teu ponto 4, requer mais tempo do que o que agora tenho e à tua pergunta dos profissionais, o que eu gostaria é que conseguissemos primeiro estabilizar as áreas da formação oferecidas por cada escola (e a nossa escola corre o risco de ser uma salta pocinhas no que a CProfissionais diz respeito), ter um corpo docente mais ou menos estável e só aí podermos procurar uma forma de avaliação externa destes cursos (mas olha que as impressões que estes alunos causam nas suas FCT, são um bom indicador)...
Só para te dar uma ideia do que entendo sobre "curricularização" dos projetos
O IPJ tem um projeto que é o Jogo do Hemiciclo, os alunos têm de propor leis e defender estas propostas...porque não integrar no âmbito do currículo da disciplina de Filosofia?
O PREAA( um projeto da DREALg) conjuga conteúdos de biologia, artes, educação física e até Filosofia, sociologia, geografia etc)....
Os meus alunos do CTD estiveram 4 dias integrados na equipa de voluntário do Campeonato da Europa de Corta Mato (quinta a domingo), em áreas como finanças, média, segurança, montagem do percurso, partidas, chegadas, acompanhantes de equipas (todas estrangeiras), welcome desks e tudo o mais que te lembres que esteja no âmbito de uma organização destas...são conteúdos de sala de aula (das disciplinas tecnológicas e não só) que foram lecionados in situ (e a maior parte das vezes não por mim, mas por especialistas das várias áreas)....estas aulas foram sumariadas (pronto, 50% delas...)
Casa professor deveria procurar (ou criar) projetos práticos onde pudesse integrar alguns dos seus conteúdos teóricos...
Prontes...e já lá foi (pelo menos) meia hora com isto :)
Quanto à avaliação externa de todas as disciplinas...aqui há alguns anos, chegavam-nos à escola, alunos que tinham no final do 9º ano, uma espécie de prova de aferição (igual para todos) à disciplina de Educação Física. Permitia não só comparar entre diversas turmas e professores (mais as turmas porque no 9º ano a disciplina era lecionada pelo mesmo professor, quando muito dois diferentes), mas também uma maior consolidação e conhecimento das competências dos alunos (EF tem o problema de os não especialistas, alunos incluídos não saberem muito bem para que serve nem o que se pretende como competência a atingir...). Porque não, para começar, umas provas globais finais por ano?...Nem era preciso meter um secretariado de exames ao barulho ;)
P.S. O comentário foi reescrito tal a quantidade de erros e gralhas do anterior...e nem quero olhar outra vez para este para não corar...vou voltar ao inominável ;)
Sara,
Obrigado pela detalhada resposta.
Sim, tinha percebido que terias esquecido a Maria de Lurdes Rodrigues. Pelo menos é tida por bons e maus como uma má ministra.
Estou de acordo com a maioria dos pontos e não pretendo estender mais a troca de ideias, mas vou só apontar umas coisas:
Na Madeira as coisas funcionam de modo diferente porque existe a autonomia. A secretaria de educação goza de muita autonomia. O problema coloca-se sempre nas centenas de professores que querem ir para o continente. Devido à avaliação, as condições de transição não estão devidamente asseguradas. Mas mesmo gozando de muita autonomia não se pode violar princípios constitucionais, razão pela qual o representante da República na ilha mandou para trás sucessivas versões do ECD Regional. Ainda assim a nossa avaliação nada tem a ver com o que se tem passado no continente o que me parece uma situação injusta. Mas para explicar cabalmente isto seria necessário algum tempo e tal seria para um outro tópico que não a avaliação dos professores.
A questão da autonomia das escolas: certamente haverá aquilo que dizes, muito compadrio. Se uma escola optar pelo compadrio e falhar, os resultados serão negativos. Se optar pelo compadrio e ainda assim melhorar, é sinal que o compadrio até teve resultados bons, pois os compadres além de compadres foram profissionais competentes. Além do mais, temos uma escolha profissional de professores centralizada e por todo o lado se vê compadrio, de modo que creio que a ideia de um sistema centralizado ser mais justo pode ser pura ilusão.
Depois não me parece injusto que um professor para ser integrado numa escola possa passar por uma entrevista como critério, entre outros, de selecção. Existe uma coisa que se chama network, um rede de contactos. Imagina que sou director de uma escola: tu pelo trabalho que tens publicamente apresentado serias uma contratação mais certa que muitos outros colegas. Claro que a nossa network é mais uma netfamily, em que se contrata o primo, o sobrinho, etc.. em troca de outros favores. Isso é corrupção, que é usar os meios públicos para benefícios privados. De facto é um problema que temos e que levará décadas a ultrapassar. Não sei como o resolver.(CONTINUA)
(CONTINUAÇÃO)
Mas vamos então conversar mais um pouco sobre avaliação. Uma das coisas que mais me espantou quando cheguei à profissão, há 16 anos, foi o total laxismo da mesma. Rapidamente me apercebi que ser um professor competente teria somente o meu compromisso pessoal. Se me apetecesse ser um mau professor, a minha vida seguia sem grandes atropelos. Ora, a assumir que isto que observei é bem observado porque verdadeiro, querer passar de um ambiente deste para um ambiente em que tudo funciona de modo muito perfeito é ilusão. De modo que as coisas têm de ser feitas devagar. Nunca ninguém se preocupava com avaliações e de repente toda a gente passa a gastar mais de metade do seu tempo em avaliações. Na minha opinião isso tem estupidificado as escolas. Depois não podemos exigir uma avaliação rigorosa para os professores quando ela não existe sequer para os alunos. As primeiras e mais visíveis reformas possíveis no ensino são os programas e os currículos. Depois de devidamente testados com 2 ou 3 anos de experiência, com exames, talvez aí se reúnam condições para começar a pensar na avaliação dos professores.
Ao contrário daquilo que se pensa, em profissões onde existem avaliações dos funcionários, as coisas não são nenhuma maravilha. A ideia de avaliações externas que tanto fala o Crato parece-me boa. Do que as escolas precisam é de estar concentradas no sucesso das aprendizagens dos alunos e essas aprendizagens têm de ser mostradas, provadas, no exterior, com exames, pois. Para tal são as escolas que devem activar os melhores mecanismos para chegar ao sucesso.
Um aspecto: quando falamos em corrida ao sucesso, sabemos que há muitos modos de lá chegar. Quantos dos nossos alunos não tentam chegar ao sucesso com copianço? Ou quantos não procuram lá chegar decorando as matérias (um processo que até infelizmente dá bons resultados)? E quantos deles até fizeram tudo bem, mas ainda assim não conseguiram sucesso? E quantos deles, com alguma sorte, até chegaram a gozar de algum sucesso? Estas são as situações para as quais temos de estar preparados se queremos ter avaliações. Neste aspecto concordo com o que dizes, as avaliações alteram a condição psicológica do modo como olhamos para a nossa profissão. E claro que as situações em que somos avaliados serão muito diversas. O papel do Ministério aqui é controlar e regular a actividade das escolas. Mas deve dar-lhes a liberdade de actuação, de escolher os seus professores inclusive. Não me estranha nada a ideia de que a escola X possa ser muito boa, com melhores professores e até melhores alunos, e a escola Y pior e que os melhores prefiram ir para a X do que para a Y. O que temos tido sempre é controlo excessivo do Ministério e os resultados estão á vista.
De uma forma estritamente pessoal, não preciso do ministério para nada para ensinar bem, e um dos principais obstáculos que tenho tido para ensinar melhor curiosamente não são os pais, não são os alunos, nem os professores, mas o ministério da educação.
Boas férias e obrigado
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