quarta-feira, 29 de abril de 2009

Uma das melhores canções de Jazz

A canção “I love Paris”, de Cole Porter, cantada por Ella Fitzgerald: para fazer uma curta pausa na Filosofia e ouvir uma grande voz.

A objecção de Kant ao argumento ontológico: a existência não é um predicado

No argumento ontológico conclui-se que Deus existe a partir do facto de termos a ideia de Deus – a ideia de ser supremo, o ser mais perfeito do que o qual nada se pode pensar. Uma das ideias envolvidas no argumento ontológico é que é contraditório reconhecer que se tem uma ideia de Deus e depois afirmar a sua inexistência. (Para ler mais acerca desse argumento clique aqui, aqui e aqui.)

Porém, o argumento ontológico envolve pelo menos um erro que o torna um mau argumento e o impede de provar a sua conclusão. O filósofo Immanuel Kant (1724-1804) apontou esse erro com clareza ao mostrar que no argumento ontológico a existência é erradamente considerada um predicado.

Um predicado é “uma palavra (ou conjunto de palavras) que exprime uma propriedade ou uma relação” (DEF). Neste contexto, os predicados relevantes são aqueles que exprimem propriedades (também se pode dizer características ou qualidades). Por exemplo, na frase “os filósofos gostam de aprender” o predicado é “gostam de aprender”.

Se dissermos “os filósofos gostam de aprender, valorizam o debate de ideias e existem”, deixaremos o nosso interlocutor surpreendido, pois não é assim que o verbo existir costuma ser usado. A existência não é uma propriedade entre outras. Quando digo que uma coisa Y qualquer existe não estou a caracterizá-la, não estou a acrescentar mais um aspecto à ideia que dela se pode fazer, mas sim a dizer que essa coisa Y é real, que é uma realidade efectiva e não apenas uma ideia na minha mente. A existência não faz parte da ideia que fazemos dessa coisa Y. O que faz parte dessa ideia são as várias propriedades que caracterizam a coisa Y.

A existência não é uma propriedade da coisa Y, mas sim uma condição de possibilidade para ela ter propriedades. Se a coisa Y existir, então poderá ter efectivamente estas ou aquelas propriedades. Se não existir, será uma mera ideia.

Imagine que um biólogo, numa conferência pública, caracteriza uma certa espécie de animais, relativamente à qual existe a hipótese de já estar extinta, pois há anos que não é observado nenhum exemplar. Imagine também que na audiência existe uma pessoa que tem informações mais actualizadas (lidas há uma hora atrás na Internet) – ela sabe se existem ou não exemplares vivos dessa espécie e tenciona dizer o que sabe ao biólogo. Essas informações, sejam elas quais forem, alteram a caracterização feita pelo biólogo? Claro que não, pois existir não faz parte da lista de características típicas dessa espécie animal. Se ainda existirem exemplares vivos dessa espécie animal, eles possuirão efectivamente essas características. Se já não existirem, essas características não passarão de uma ideia sem realidade efectiva.

Do mesmo modo, se Deus existir poderá ter efectivamente os predicados (omnisciência, omnipotência, etc.) que fazem parte da ideia que dele se costuma ter. Se não existir, será uma mera ideia. O argumento ontológico inverte as coisas: em vez de ir da existência para a ideia vai da ideia para a existência.

Se a existência não faz parte da ideia que fazemos de uma coisa, então por muito que analisemos essa ideia não conseguiremos concluir que a coisa existe. Por muito que o tal biólogo analisasse a ideia que formou acerca daquela espécie de animais, por muito que pensasse nas suas várias características, nunca poderia descobrir se alguns desses animais ainda existiam. Do mesmo modo, a análise da ideia de Deus não permite saber se ele existe ou não.

Uma vez que a existência não é um predicado, não faz sentido dizer que é contraditório reconhecer que se tem a ideia de Deus e depois não reconhecer a sua existência. Haveria contradição se uma pessoa dissesse “a ideia de Deus é a ideia de um ser omnipotente e omnisciente, mas que não sabe tudo”, pois a omnisciência e não saber tudo são predicados incompatíveis. Mas não há contradição entre afirmar “a ideia de Deus é a ideia de um ser omnipotente e omnisciente, o ser mais perfeito que se pode pensar” e afirmar “contudo, tal ser é uma mera ideia e não existe na realidade”, pois o que é dito em cada uma dessas afirmações situa-se em planos diferentes: a primeira refere vários predicados, vários aspectos de uma ideia, e a segunda refere que essa ideia afinal não representa nenhum ser real.

Logo, o argumento ontológico não prova a existência de Deus.

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Bibliografia:

Aires Almeida e outros, “A Arte de Pensar – 10º Ano”, vol. 2, Didáctica Editora, Lisboa, 2007.

Luís Rodrigues, “Filosofia – 10º ano”, vol. 2, Plátano Editora, Lisboa, 2007.

Santo Anselmo, “Proslógion”, Introdução e Análise de M. Fernandes e N. Barros, Lisboa Editora, Lisboa, 1995.

Simon Blackburn, “Pense – Uma Introdução à Filosofia”, Gradiva, Lisboa, 2001.

terça-feira, 28 de abril de 2009

A objecção de Gaunilo ao argumento ontológico: tem consequências absurdas

Um resumo possível do argumento ontológico (veja aqui e aqui) é este:

Quando pensamos em Deus, pensamos no ser mais perfeito que se pode pensar.
Se Deus não existisse realmente, se fosse apenas uma ideia, poderíamos pensar num ser semelhante mas que existisse realmente.
Como a existência contribui para a perfeição, Deus já não seria o ser mais perfeito que se pode pensar, pois esse outro ser seria mais perfeito.
Mas isso é contraditório com a ideia que temos de Deus: essa ideia representa o ser mais perfeito que se pode pensar e isso só pode ser assim se ele existir.
Logo, Deus existe.

Gaunilo (um monge contemporâneo de Santo Anselmo) apresentou uma objecção contra o argumento ontológico, segundo a qual este é um mau argumento e não prova a sua conclusão, pois tem consequências inaceitáveis.

Essa objecção constitui uma redução ao absurdo, ou seja, um argumento em que se mostra que a ideia que se quer refutar tem consequências absurdas e por isso é ela própria absurda.

A redução ao absurdo de Gaunilo consiste em aplicar a estrutura argumentativa (o mesmo tipo de relações conceptuais) do argumento ontológico a outras coisas e mostrar que assim se pode declarar a existência de coisas que  sabemos comprovadamente que não existem. Ou seja: se essa estrutura argumentativa leva a afirmar falsidades óbvias não temos razões para aceitar quando, no argumento ontológico, ela conduz à afirmação de que Deus existe.

Para conseguir esse efeito, basta considerar que uma certa coisa é a mais perfeita no seu género, ou seja, definir uma coisa X como a mais perfeita das coisas X. Gaunilo adoptou como exemplo “Perdida, a ilha paradisíaca mais perfeita que se pode pensar”, mas podemos escolher muitos outros exemplos. Eis um:

pegasus Pégaso cavalo alado

Quando pensamos em Pégaso, pensamos no cavalo alado mais perfeito que se pode pensar.
Se Pégaso não existisse realmente, se fosse apenas uma ideia, poderíamos pensar num cavalo alado semelhante mas que existisse realmente.
Como a existência contribui para a perfeição, Pégaso já não seria o cavalo alado mais perfeito que se pode pensar, pois esse outro cavalo alado seria mais perfeito.
Mas isso é contraditório com a ideia que temos de Pégaso: essa ideia representa o cavalo alado mais perfeito que se pode pensar e isso só pode ser assim se ele existir.
Logo, Pégaso existe.

Será que esta objecção refuta o argumento ontológico?

Mesmo que considere o argumento ontológico um mau argumento, ponha-se na pele de alguém que o considera um bom argumento e tente defendê-lo da objecção de Gaunilo.

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Bibliografia:

Aires Almeida e outros, “A Arte de Pensar – 10º Ano”, vol. 2, Didáctica Editora, Lisboa, 2007.

Santo Anselmo, “Proslógion”, Introdução e Análise de M. Fernandes e N. Barros, Lisboa Editora, Lisboa, 1995.

Simon Blackburn, “Pense – Uma Introdução à Filosofia”, Gradiva, Lisboa, 2001.

Confundir a realidade virtual com a vida real


Banda desenhada retirada do sítio xkcd.

Impressões e ideias

"Hume utiliza o termo ‘percepção’ para referir quaisquer conteúdos da mente (…). As percepções ocorrem quando o indivíduo observa, sente, recorda, sente, recorda, imagina, e assim por diante, sendo que o uso actual da palavra cobre um leque muito menos vasto de actividades mentais. Para Hume, existem dois tipos básicos de percepções: impressões e ideias.

impressão táctil mão a tocar bolo

As impressões constituem as experiências obtidas quando o indivíduo observa, sente, ama, odeia, deseja ou tem vontade de algo. Hume descreve este tipo de percepções como sendo mais ‘vívido’ do que as ideias, termo com que o filósofo parece querer afirmar que as impressões são mais claras e mais pormenorizadas do que as ideias. As ideias, por sua vez, são cópias das impressões. Trata-se dos objectos do pensamento humano quando os indivíduos recordam a sua experiência ou exercitam a sua imaginação. [Como se verá, no primeiro caso são ideias simples e no segundo são ideias complexas.]

Assim sendo, neste preciso momento, por exemplo, tenho uma impressão da minha caneta a movimentar-se pela página e de ouvir alguém a virar as páginas de um livro, atrás de mim, na biblioteca. Tenho, ainda, uma impressão da textura do papel a tocar na minha mão. Estas experiências sensoriais são vívidas (…). Mais tarde, enquanto estiver a escrever estas linhas no meu computador, lembrar-me-ei, sem dúvida, deste momento e recordarei as minhas impressões. Nessa altura, estarei a ter ideias e não impressões, ideias que não serão marcadas pela mesma vividez (ou vivacidade) que caracteriza as impressões que estou a sentir neste momento e das quais as ideias serão cópias.

(…) Segundo Hume, não existem ideias inatas, todas as ideias humanas são cópias de impressões. Por outras palavras, é impossível aos seres humanos ter uma ideia de algo que não tenham primeiro experimentado enquanto impressão.3 sereias

Como lidaria, então, Hume com a capacidade de um indivíduo imaginar uma montanha dourada [ou uma sereia] embora nunca tenha visto uma e, logo, nunca tenha tido a impressão de uma? A resposta baseia-se numa distinção entre ideias simples e ideias complexas. As ideias simples derivam [directamente] das impressões. (…) As ideias complexas são combinações de ideias simples. Deste modo, a ideia de uma montanha dourada nada mais é do que uma ideia complexa composta pelas ideias mais simples de ‘montanha’ e de ‘dourado’. E estas ideias simples derivam, em última análise, da experiência tida pelo indivíduo de montanhas e de objectos dourados.”

Nigel Warburton, “Grandes livros de filosofia”, Edições 70, Lisboa, 2001, pp. 98-99.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

O argumento ontológico: diálogo entre um crente e um ateu

Anselmo: Acreditas em Deus?

Vera: Não. Acho que Deus não existe.

Anselmo: Quando pensas em Deus pensas em quê?

Vera: Bem… Penso em alguém… um ser perfeito, omnipotente, omnisciente… Só que não acredito que exista.

Anselmo: Pensas no ser supremo... algo, ou melhor, alguém mais perfeito do que tudo o resto, alguém cuja perfeição é tão grande que não se pode pensar em nada mais perfeito – é isso?

Vera: Sim.

Anselmo: Portanto, tu tens uma ideia de Deus, embora digas que Deus não existe.

Vera: Obviamente! Tenho uma ideia de Deus, tal como tenho uma ideia de sereia, embora não existam sereias.

Anselmo: Deixa-me dar outro exemplo: um pintor imagina detalhadamente um quadro, mas não o pinta. O quadro não existe realmente, mas o pintor tem uma ideia acerca dele.

Vera: Sim, é como a ideia de sereia. Vai dar ao mesmo... tem-se a ideia de uma coisa que não existe.

Anselmo: Diz-me uma coisa: o que achas mais perfeito, a mera ideia de um quadro ou o quadro realmente existente?

Vera: Claro que um quadro que existe de facto é algo superior, algo melhor (mais perfeito, utilizando a tua expressão) do que um quadro apenas imaginado, que apenas “existe” na mente do pintor.

Anselmo: Mas, então, repara numa coisa: se a ideia de Deus é a ideia do ser mais perfeito do que o qual nada pode ser pensado, então, Deus tem de existir realmente…

Vera: Ora essa... Desculpa interromper, mas é que…

Anselmo: Deixa-me explicar. Se Deus não existir, então, já não é o ser mais perfeito do que o qual nada pode ser pensado, pois poder-se-ia pensar num ser semelhante mas que existisse realmente. Tu tens a ideia de que Deus é o ser mais perfeito do que o qual nada pode ser pensado e depois ao dizer que não existe estás a dizer que, afinal, não é esse ser acima do qual nada pode ser pensado (pois podemos pensar num que além das características presentes na ideia também exista). É uma contradição.

Vera: Estás a dizer que quem tem a ideia de Deus cai em contradição se não admitir a sua existência?

Anselmo: Exactamente. Podes ter uma ideia de sereia e não existirem sereias, mas com a ideia de Deus é diferente. O facto de teres a ideia de Deus mostra que ele existe. Deus tem de existir. A existência de Deus decorre necessariamente da sua definição como o ser mais perfeito do que o qual nada pode ser pensado.

Vera: Estou um pouco baralhada…

Anselmo: Deixa-me explicar isto de modo mais simples. A ideia de Deus é a ideia de ser supremo. Se for só uma ideia e Deus não existir, então, podes pensar num ser superior a ele – que existisse. Ao dizer que Deus não existe estás a dizer simultaneamente que Deus é o ser supremo e não é o ser supremo. O que é obviamente contraditório. São proposições claramente incompatíveis.

Vera: Sendo assim, se eu quiser ser consequente, se eu não quiser ignorar a lógica, devo afirmar que Deus existe?

Anselmo: Exactamente.

Vera: Tenho dificuldade em rebater o que disseste, só que… Parece-me que há algo errado com o teu argumento! Mas não é fácil dizer claramente o que é.

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Bibliografia:

Aires Almeida e outros, “A Arte de Pensar – 10º Ano”, vol. 2, Didáctica Editora, Lisboa, 2007.

Santo Anselmo, “Proslógion”, Introdução e Análise de M. Fernandes e N. Barros, Lisboa Editora, Lisboa, 1995.

Simon Blackburn, “Pense – Uma Introdução à Filosofia”, Gradiva, Lisboa, 2001.

sábado, 25 de abril de 2009

Liberdade: autorizado sem cortes, ou melhor, sem precisar de autorização

página censurada notícia sobre Olhão

Notícia de jornal analisada pela censura do Estado Novo: “autorizado com cortes”. Leia e tente perceber o motivo dos cortes: é difícil, não é? Os censores eram tão mesquinhos e culturalmente limitados! Porque achariam necessário censurar notícias acerca de doentes mentais? A dificuldade de perceber qual possa ser esse motivo dá-nos uma boa medida do que se ganhou com o 25 de Abril.

E agora? Fazemos o quê com a liberdade conquistada?


O que é a liberdade?


A canção “Grândola Vila Morena”, escrita e cantada por José Afonso, foi utilizada como senha no 25 de Abril. Passou no programa "Limite" da Rádio Renascença às 0.20h do dia 25. Foi o sinal para o arranque das tropas mais afastadas de Lisboa e a confirmação de que a revolução ganhava terreno. Depois tornou-se um dos símbolos do 25 de Abril.

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Previsão certeira de sismo em Itália: crença verdadeira, mas não justificada

Uma crença verdadeira mas que não seja acompanhada de uma justificação adequada não constitui conhecimento, pois não passa de uma palpite que por acaso acertou no alvo. (A esse respeito veja também este e este posts.)

Giampaolo Giuliani previu um sismo na Itália no passado mês de Março, baseado num aumento que detectou de emanações do gás radão do subsolo. Apesar do sismo efectivamente ter ocorrido os sismólogos não consideram que tenha sido uma previsão científica, atribuindo o acerto ao mero acaso.

Trata-se, portanto, de uma crença verdadeira, mas não justificada. Ou seja: Giuliani não sabia realmente que iria haver um terramoto. Acreditava que sim, mas não tinha efectivamente conhecimento disso.

No blogue De Rerum Natura Carlos Fiolhais explica em poucas palavras porque é que não existe justificação científica para a previsão de Giuliani. Vale também a pena ler alguns dos comentários ao post, nomeadamente o 4º em que é apresentada uma sugestiva comparação: "até um relógio parado está certo duas vezes ao dia".

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Objecção a Descartes: o Cogito é um entimema e não uma crença básica

Segundo Descartes, o Cogito (o “Penso, logo existo”) é uma crença básica. Ou seja: trata-se da crença numa ideia cuja verdade é tão evidente que não precisa de uma justificação exterior; com base nela podemos justificar outras ideias, mas ela mesma não precisa de ser justificada por outras ideias: autojustifica-se.

Graças a essa característica do Cogito é possível, segundo Descartes, refutar o argumento céptico da regressão infinita da justificação.

Porém, é duvidoso que o Cogito seja realmente uma crença básica. Vejamos porquê.

“Penso, logo existo”: conseguiríamos compreender a ideia expressa por essa frase se antes não compreendêssemos outras ideias? A verdade dessa ideia seria tão evidente se não conhecêssemos previamente a verdade de outras ideias? Dificilmente.

O que se passa é que dizemos “Penso, logo existo” sem explicitar todas as ideias envolvidas. O que na realidade pensamos ao dizer tal frase é isto:

Se penso, então existo.
Penso.
Logo, existo.

Sem a ideia contida na primeira premissa não seria possível afirmar “Penso, logo existo”. Por isso, o Cogito é, afinal, um entimema: um argumento com uma premissa subentendida. Explicitando esta obtemos um Modus Ponens (afirmação do antecedente).

O que essa primeira premissa diz é que pensar é uma condição suficiente da existência e que, portanto, todos os que pensam existem. O pensamento exige um pensador, um autor do pensamento. Mas essa relação não é recíproca: é falso que se “existo, logo penso”, pois posso existir e não pensar (por exemplo se estiver num sono muito profundo ou em estado vegetativo). A evidência do “Penso, logo existo” é uma consequência dessas ideias.

Ou seja: o conhecimento do Cogito resulta de uma inferência, de um raciocínio. Trata-se de um conhecimento derivado. Ora, uma crença básica tem de ser conhecida directamente – tem de ser um conhecimento primitivo (não inferencial). Por isso, o Cogito não é uma crença básica.

Se o Cogito não é uma crença básica, então Descartes não conseguiu refutar o argumento céptico da regressão infinita da justificação.

Se Descartes não conseguiu refutar o argumento céptico da regressão infinita da justificação, então não conseguiu demonstrar que o conhecimento humano é possível.

Bibliografia:

Aires Almeida e outros, “A Arte de Pensar – 11º Ano”, Didáctica Editora, Lisboa, 2008.

Simon Blackburn, “Pense – Uma Introdução à Filosofia”, Gradiva, 2001.

12 anos de escolaridade obrigatória: é um erro!

Segundo o Jornal Público, o Governo vai estender a escolaridade obrigatória para 12 anos. Os partidos da oposição dizem que se trata de oportunismo eleitoral, que é uma decisão tomada a pensar nas próximas eleições – mas não contestam a própria ideia, ou seja, também acham correcto a escolaridade obrigatória ser de 12 anos.

No entanto, trata-se de um erro. Há várias razões para isso. Vejamos uma delas.

Porque é que o Estado deve tomar decisões acerca do que as pessoas fazem com a sua vida? E se um jovem de 15 ou 16 anos quiser dedicar-se à jardinagem em vez de aprender gramática e equações? Porque é que o governo e os deputados se haveriam de intrometer nessa escolha, que só diz respeito a ele e à sua família?

De acordo com o filósofo inglês Stuart Mill, o Estado só pode interferir na vida de uma pessoa, limitando a sua liberdade, para prevenir possíveis danos sobre outras pessoas. O seu próprio bem (físico, psicológico, moral…) não constitui uma razão suficiente para justificar a interferência, pois isso implicaria considerar a pessoa incapaz de discernir o que é melhor para si, limitaria a sua liberdade e daria a outras pessoas (talvez tão falíveis e imperfeitas como ela) um poder arbitrário sobre ela. Essa ideia de Stuart Mill é conhecida como o "princípio do dano". (A esse respeito veja também este post.)

Stuart Mill não faz manifestamente parte das leituras nem do primeiro-ministro e da ministra da educação, nem dos políticos da oposição. Seria bom, para os portugueses e para a democracia portuguesa, que fizesse.

Blog da Má Língua

O Blog da Má Língua é uma iniciativa dos alunos Eurico Graça e Patrícia Modesto (da turma F do 11º ano) - representantes dos alunos no Conselho Geral da Escola Secundária de Pinheiro e Rosa.

Os principais objectivos do Blog são: fornecer informações aos alunos da escola sobre as reuniões e decisões do Conselho Geral, bem como sobre outros temas do seu interesse; permitir que os alunos possam exprimir as suas opiniões sobre a vida da escola (nomeadamente os temas discutidos no Conselho Geral) e a educação em geral.

O Dúvida Metódica espera que os alunos da escola aproveitam a oportunidade.

Boa sorte para o Eurico e para a Patrícia.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Em desespero de causa

angular_momentum tentar tudo amor

xkcd - A webcomic of romance, sarcasm, math, and language.

No amor, quando nada mais resulta… tenta-se a Física.

Ou seja, e agora sem humor: algumas pessoas têm uma compreensão muito pouco científica da ciência. Vêem-na como se fosse uma espécie de magia.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Apologia do diálogo e da discussão


En mi soledad
he visto cosas muy claras,
que no son verdad.

Antonio Machado, “Nuevas Canciones – Proverbios Y Cantares”

Um domingo bem passado no Museu Gulbenkian

Cartaz do Museu Gulbenkian, Domingos com Arte

domingo, 19 de abril de 2009

Ser ou não ser digno de admiração

Aristides de Sousa Mendes José Castelo Branco

No âmbito do capítulo do programa de Filosofia do 10° “Problemas do mundo contemporâneo ”, propus aos meus alunos a realização de trabalhos de grupo sobre o tema dos direitos humanos (as indicações específicas que foram fornecidas encontram-se aqui).

Quando escolhi este tema, para além do seu interesse filosófico, a minha principal motivação residiu no facto de ter constatado que existe na maioria dos alunos, tal como na sociedade portuguesa em geral, uma preocupação com aspectos da vida ligados, sobretudo, ao prazer imediato, à aparência, ao que é rápido e não exige atenção ou esforço intelectual. Relacionado com este facto acontece um fenómeno curioso: a admiração de pessoas, que se tornam figuras públicas sem nunca terem feito nada que tivesse mérito ou merecesse, verdadeiramente, ser objecto de admiração. Para comprovar estas minhas afirmações basta consultar alguns dados relativos às vendas das numerosas revistas cor-de-rosa existentes em Portugal ou, então, analisar o conteúdo dos programas que passam no “horário nobre” das televisões portuguesas, particularmente os concursos e as novelas, onde as virtudes apregoados são bastante duvidosas ou inexistentes.

Não é o caso da lista de personalidades que sugeri aos alunos para realizarem os trabalhos: Aristides de Sousa Mendes (um ilustre português, desconhecido da maioria dos portugueses), Shirin Ebadi, Aung San Sun Ky, Gandhi, Luther King, entre outros homens e mulheres que se destacaram na luta pelos direitos humanos. Estas pessoas são, ou foram, capazes de prescindir do seu bem-estar, dos seus interesses, ou mesmo de arriscar a sua vida para defender elevados ideais da humanidade: a liberdade, a justiça, a igualdade, por exemplo.

Conhecer os actos que praticaram, perceber as razões e as consequências destes, permite-nos compreender, de forma efectiva, o significado desses valores e do que significa agir eticamente. As acções exemplares, penso eu, ensinam-nos algo sobre o que são as reais virtudes humanas.

Nas fotografias: Aristides de Sousa Mendes e José Castelo Branco.

sábado, 18 de abril de 2009

Será intolerante criticar os ‘crimes de honra´?

De acordo com a teoria do relativismo moral cultural, uma acção é moralmente correcta se for aprovada pela cultura de uma sociedade, se constituir uma tradição maioritária dessa sociedade. ´Moralmente correcta´ para as pessoas dessa sociedade, pois se, noutra sociedade, essa mesma acção for desaprovada pela tradição cultural, para as pessoas desta última sociedade a acção será moralmente incorrecta. Segundo o relativismo moral cultural, a moralidade é sempre relativa, é sempre uma questão de ponto de vista: não é possível determinar objectivamente se, em si mesma, uma acção é moralmente correcta ou incorrecta. No âmbito da moralidade não existem factos objectivos, não existe nada que tenha realidade “em si mesmo”, independentemente do ponto de vista de cada cultura.

Segundo os defensores dessa teoria, criticar os costumes de outra sociedade é uma manifestação de intolerância e de etnocentrismo.

Mas será o relativismo moral cultural verdadeiro? Se for, não teremos o direito de criticar a tradição dos crimes de honra existente em diversos países – nomeadamente na Turquia, como explica uma notícia (“Mata-te e limpa a nossa honra”, da autoria da jornalista Margarida Santos Lopes) do jornal Público de hoje, dia 18 de Abril de 2009. ( Para ler mais clique no nome do jornal, depois clique novamente em Temas do Caderno P2 e, finalmente, clique em cima da imagem da notícia.)

«Na Turquia, está a aumentar o número de mulheres que se suicidam para "lavar a vergonha" das famílias. Fecham-nas num quarto e dão-lhes veneno para ratos, uma pistola ou uma corda. São três de muitas opções. Os crimes de "honra" continuam a um ritmo de "mais de 5000 por ano". São cometidos em comunidades religiosas e não religiosas. E entre as vítimas também há homens. (…)

Em Batman, já cognominada "cidade dos suicídios", no Sudeste da Anatólia (Turquia), Derya, de 17 anos, percebeu que tinha de pôr termo à vida quando recebeu no telemóvel a seguinte mensagem, enviada por um tio: "Mata-te e limpa a nossa honra ou seremos nós a fazê-lo." O seu crime? Ter-se apaixonado por um rapaz que conhecera na escola.»

Criticar esta tradição constituirá realmente uma forma de intolerância e de desrespeito pela cultura da Turquia? Ou é possível criticar uma tradição sem que isso signifique desrespeito e desprezo pela cultura no seu todo?

Para terminar, uma pergunta não filosófica, mas política. A Turquia quer fazer parte da Comunidade Europeia. Fará isso sentido?

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Kantfonia

homofonia kant-cartoon

Homofonia: semelhança de sons ou de pronúncia. É assim que os dicionários explicam o fenómeno. Não mencionam um factor que pode ter alguma influência: a ignorância.

(Imagem encontrada na Internet sem referência ao autor.)

quarta-feira, 15 de abril de 2009

'Domínio Público' – uma biblioteca digital grátis

"Domínio Público" é uma biblioteca digital (desenvolvida em software livre), disponibilizada pelo governo brasileiro.

Nela pode encontrar gratuitamente inúmeras obras literárias, musicais e pictóricas. Fernando Pessoa, Dante, Shakespeare ou Leonardo Da Vinci, entre muitos outros, ao alcance de 2 ou 3 cliques.

Algumas pessoas, umas por ingenuidade e outras por hipocrisia, justificam a falta de hábitos de leitura e de outros hábitos culturais alegando que os livros, os discos, os vídeos, etc., são caros. Esta biblioteca ajuda a refutar esse mau argumento.

As superstições e a crítica de Hume à ideia de causalidade


A crença nas superstições implica estabelecer nexos causais entre acontecimentos diferentes que não têm qualquer relação entre si. Por exemplo:
Vi um gato preto na rua (causa) e, logo a seguir, parti um pé (efeito).
Tive negativa no teste de Filosofia (efeito) porque este foi realizado numa sexta-feira, dia 13 (causa).
Esta crença em causalidades fictícias tem um fundamento subjectivo (é uma crença irracional do sujeito) e não se baseia nem na experiência nem na razão.
Segundo Hume, as relações causais efectuadas no âmbito do quotidiano e da ciência dependem de factores psicológicos como o hábito e não têm, por isso, uma justificação racional ou empírica. Assim sendo, no âmbito do conhecimento vulgar e do científico, adquirimos a crença que a água vai aquecer com base na experiência passada.
Como é que podemos refutar esta ideia defendida por Hume? Será que podemos mostrar que as explicações científicas estão racionalmente justificadas?

Como se originou, segundo Hume, a ideia de Deus?

hume-david-estatua-em-edimburgo

Estátua do filósofo David Hume (1711-76), em Edimburgo, na Escócia.

De acordo com Hume, todas as ideias que possuímos tiveram origem na experiência, mais precisamente em impressões. Ideias como a de dor, alegria, frio, calor, extraterrestre, anjo, triângulo… resultam da recordação de certas impressões (sensações externas ou internas experienciadas pelo sujeito), consideradas isoladamente ou, então, combinadas entre si com a ajuda da imaginação (por exemplo: a ideia de anjo resulta da junção das impressões de homem e pássaro).

Tal como o filósofo empirista Locke, Hume defende a origem a posteriori das ideias. Tudo o que podemos pensar e imaginar, em última análise, provém do contacto com as coisas do mundo.

E a ideia de Deus? Como se explica a sua formação?

Diz Hume: “ (…) ao analisarmos os nossos pensamentos ou ideias, por mais compostos e sublimes que sejam, sempre descobrimos que elas se resolvem em ideias tão simples como se fossem copiadas de uma sensação ou sentimento precedente. Mesmo as ideias que, à primeira vista, parecem afastadas desta origem, descobre-se, após um escrutínio mais minucioso, serem delas derivadas. A ideia de Deus, enquanto significa um Ser infinitamente inteligente, sábio e bom, promana [procede] da reflexão sobre as operações da nossa própria mente, e eleva sem limite essas qualidades da bondade e da sabedoria. Podemos prosseguir esta inquirição até ao ponto que nos agradar, onde sempre descobriremos que toda a ideia que examinamos é copiada de uma impressão similar.”

David Hume, Investigação sobre o entendimento humano, Edições 70, tradução de Artur Morão, Lisboa, 1985, pág. 25.

  1. Como se originou a ideia de Deus?

  2. As perspectivas de Descartes e Hume quanto à ideia de Deus são distintas. Porquê?

  3. A argumentação de Hume poderá conduzir a uma posição céptica relativamente à crença na existência de Deus?

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Acabaram as férias!

Acabaram as férias, mas isso não é tragédia nenhuma. Como diria o pai do Calvin, o trabalho forma o carácter. Além disso, pode dar prazer - se gostarmos do que fazemos e se as condições de trabalho não forem muito más.
Infelizmente, é preciso reconhecer que essa segunda condição não se encontra preenchida para a maioria dos professores portugueses.

Objecção ao argumento da marca: criar a ideia de perfeição é diferente de criar a própria perfeição

Para compreender a objecção é necessário ter o argumento da marca bem presente. Refresque a memória lendo o post “O argumento da marca”.

Tal como diz Descartes, um efeito não pode ser superior à sua causa (isto é, não pode haver mais realidade no efeito do que na causa) e por isso um ser imperfeito não poderia criar um ser perfeito.

Mas as ideias são diferentes das coisas. As ideias representam as coisas mas não são exactamente como as coisas. Por exemplo: a ideia de frio não é fria e a ideia de sujo não é suja. Do mesmo modo, a ideia de perfeição não é perfeita. Sendo assim, e contrariamente ao que diz Descartes, seres imperfeitos como nós podem formar a ideia de perfeição.

Podemos formar a ideia de perfeição imaginando as coisas muito melhores do que são, ou seja, sem os defeitos que têm.

Por isso, o facto de termos a ideia de perfeição não implica que exista um ser perfeito (Deus) que a causou, ou seja, o argumento da marca não prova a existência de Deus.

Resumindo: Os seres humanos não são capazes de criar um Deus, mas são capazes de criar a ideia de Deus.

Na sua opinião, o que é mais sólido – o argumento da marca ou esta objecção? Porquê?


Bibliografia:

Aires Almeida e outros, A Arte de Pensar – 11º ano, Didáctica Editora, 2008.

Aires Almeida e outros, A Arte de Ensinar a Pensar – 11º ano, Didáctica Editora, 2008.

Simon Blackburn, Pense – Uma Introdução à Filosofia, Gradiva, 2001.

domingo, 12 de abril de 2009

Será verdade que a mentira é necessária?

"Gosto da verdade. Acredito que a humanidade precisa dela; mas precisa ainda mais da mentira que a lisonjeia, a consola, lhe dá esperanças infinitas. Sem a mentira, a humanidade pereceria de desespero e de tédio."

Anatole France, A Vida em Flor (citação encontrada no blogue O Amigo do Povo)

O que pensaria Epicteto da nossa sociedade?

consumismo - mulher vendo sapatos

Epitecto foi um filósofo que viveu aproximadamente entre 50 e 138 d. C. Foi escravo durante a maior parte da sua vida, tendo sido torturado pelo seu cruel “dono” como castigo pelo facto de ser muito pensativo e estudioso. Julga-se que por isso ficou com uma deficiência numa perna e que coxeava. Era um estóico e defendia que a felicidade se alcança através do autodomínio e da indiferença relativamente às coisas exteriores.

Numa das suas máximas afirmou:

“Que a morte, o exílio e todas as coisas que te parecem terríveis se apresentem a teus olhos todos os dias, sobretudo a morte. E nunca pensarás nada de vil, nem tampouco cobiçarás nada de mais.”

Epitecto, Manual, XXI, Didáctica Editora, 2000, pág. 16.


O que pensaria um homem como Epitecto da sociedade em que vivemos, nomeadamente do consumismo e do culto do prazer imediato que orientam a vida de tantas pessoas?

Outro exemplo. O que pensaria um homem como Epitecto de estudantes que chegam à Universidade sem hábitos regulares de leitura e que não lêem nem literatura, nem ciência, nem filosofia?

Pensaria mal de muitas coisas, mas não de todas, certamente. O que é que na nossa sociedade (e nas outras sociedades ocidentais semelhantes à portuguesa) merece ser valorizado e elogiado?

E quanto às ideias de Epitecto... O erro está na valorização das coisas exteriores e materiais ou na sua valorização excessiva e exclusiva? Ou não há erro algum nessa valorização, por muito excessiva e exclusiva que seja?

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Cegos que não sabem que são cegos

Em terra de cegos - conto de Wells

HG Wells Publiquei noutro blogue - “Crítica: Blog” - um post acerca de um conto de H. G. Wells: “Em Terra de Cegos…”, Padrões Culturais Editora, 2008.

É a história de uma terra em que todas as pessoas são cegas, mas sem saber que são cegas. Quando um forasteiro lhes tenta explicar a situação dizem-lhe que é louco e imbecil e procuram obrigá-lo a ser como elas.

Tem, como é óbvio, diversas semelhanças com a “alegoria da caverna” de Platão, mas tem também algumas diferenças. Uma delas é a existência de uma história de amor – não entre um filósofo e a verdade, como se esperaria de Platão, mas entre um homem e uma mulher bonita (o homem não é cego).

Descontando a introdução do autor, o conto tem apenas 42 páginas que se lêem em menos de uma hora. Claro que não vou insultar a inteligência do leitor sugerindo que essa é uma boa razão a favor da leitura do conto. Quero recomendar a sua leitura, mas devido ao interesse filosófico da história e à sua qualidade literária.

Se ler “Em Terra de Cegos…” chegará à última página interrogando-se deste modo: e se fossemos uma espécie de cegos que não sabem que são cegos? E se estivermos tão iludidos como eles?

Claro que o leitor acredita que não é assim – tal como os cegos de Wells acreditavam. Acreditar é fácil. Mas como justifica essa crença? Que razões tem para a considerar verdadeira? Pois é, justificar é mais difícil que acreditar… Bem-vindo à filosofia.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Duas sugestões para as férias: “O coração das trevas” e “Apocalypse Now”


O Coração das Trevas, a que Ryszard Kapuscinski (ver aqui) faz referência é um extraordinário romance escrito por Joseph Conrad, a partir da sua experiência na, então, colónia belga, o Congo. Traça um quadro sombrio da natureza humana e descreve o que pode acontecer quando a linha entre o bem e o mal se esbate e um ser humano detém, subitamente, em suas mãos, o poder absoluto em relação à vida dos outros homens, utilizando-o, de uma forma egocêntrica, para cometer as maiores atrocidades .

O argumento do filme de Francis Ford Coppola, Apocalypse Now, baseou-se neste romance, passando o cenário da acção do Congo para a Guerra no Vietname. O tenente Willard é enviado numa missão ao Camboja para assassinar um coronel americano, Kurtz, que - diz-se - passou para o lado do inimigo.

Este filme apresenta-nos uma visão realista e trágica da guerra. Ao contrário do que acontece quando se joga (jogos de guerra) no computador, onde matar dá pontos e pode parecer divertido, na guerra real há suor, sofrimento, medo, morte, coragem, o confronto com o absurdo…

A vida verdadeira é bastante mais complexa e difícil que a realidade virtual dos jogos violentos que consomem muito do tempo livre (e também daquele que deveria ser dedicado ao estudo) de alguns alunos do ensino secundário.

Em tempo de férias, para quem não leu o livro ou não viu o filme, aqui fica a sugestão.