quinta-feira, 9 de abril de 2009

Duas sugestões para as férias: “O coração das trevas” e “Apocalypse Now”


O Coração das Trevas, a que Ryszard Kapuscinski (ver aqui) faz referência é um extraordinário romance escrito por Joseph Conrad, a partir da sua experiência na, então, colónia belga, o Congo. Traça um quadro sombrio da natureza humana e descreve o que pode acontecer quando a linha entre o bem e o mal se esbate e um ser humano detém, subitamente, em suas mãos, o poder absoluto em relação à vida dos outros homens, utilizando-o, de uma forma egocêntrica, para cometer as maiores atrocidades .

O argumento do filme de Francis Ford Coppola, Apocalypse Now, baseou-se neste romance, passando o cenário da acção do Congo para a Guerra no Vietname. O tenente Willard é enviado numa missão ao Camboja para assassinar um coronel americano, Kurtz, que - diz-se - passou para o lado do inimigo.

Este filme apresenta-nos uma visão realista e trágica da guerra. Ao contrário do que acontece quando se joga (jogos de guerra) no computador, onde matar dá pontos e pode parecer divertido, na guerra real há suor, sofrimento, medo, morte, coragem, o confronto com o absurdo…

A vida verdadeira é bastante mais complexa e difícil que a realidade virtual dos jogos violentos que consomem muito do tempo livre (e também daquele que deveria ser dedicado ao estudo) de alguns alunos do ensino secundário.

Em tempo de férias, para quem não leu o livro ou não viu o filme, aqui fica a sugestão.

3 comentários:

José Ricardo Costa disse...

Há sempre aquela discussão: o livro ou o filme? Para mim, é quase sempre o livro. Situações há em que o filme não trai o livro e torna-se um bom complemento deste. Neste caso, porém, é claramente o filme. O livro foi uma das minhas grandes decepções. Talvez se explique pelo facto de o ter lido depois do filme e as expectativas serem muito elevadas. Ou não andar com disposição para o ler durante o tempo em que o fiz. Não sei. Penso que para os nossos alunos não será leitura apropriada. O filme, esse sim.

Cumprimentos,

JR

Sara Raposo disse...

JR:

Julgo que não temos de escolher entre o livro e o filme, são diferentes e penso que são ambos excelentes. Discordo também da ideia que, para os nossos alunos, o livro não seja uma leitura apropriada. Quais são as razões que o levam a pensar desse modo?
Obviamente que não será uma leitura que interesse todos os alunos (nem sequer alguns professores, atrevo-me a dizer) como acontece, aliás em relação a muitos outros assuntos, filosóficos, científicos, literários... os que têm maturidade, conhecimentos ou sensibilidade são sempre alguns e não todos - provavelmente não são sequer a maioria.
Todavia, eu penso que cabe à escola e aos professores não oferecer palha a quem quer palha, o fácil em vez daquilo que é mais difícil e exige maior esforço intelectual. Embora, neste caso, eu compreenda que é mais fácil recordar o Marlon Brando a declamar "o waste land" do T.S. Elliot do que as descrições sufocantes que o narrador do livro, Joseph Conrad, faz das paisagens do Congo e da crueldade das pessoas.

Cumprimentos,
Sara Raposo

José Ricardo Costa disse...

Provavelmente não me fiz entender bem. Eu não sou contra o esforço, bem pelo contrário.

Acho apenas que, perante alunos que não lêem e com enormes resistências perante a leitura, as sugestões literárias terão de ser muito cuidadosas, sob pena de o feitiço se virar contra o feiticeiro. Isto não significa, obviamente, dar aos alunos o esterco literário que mancha as nossas livrarias. Mas há que fazer algumas cedências, tendo sempre em mente uma boa conciliação entre a qualidade da obra e o prazer da leitura. É neste sentido que o livro de Conrad me provoca alguma dificuldade enquanto sugestão literária para os garotos. O que não significa que não haja alunos que gostem. Enfim, é tudo relativo, provavelmente haverá livros que eu aconselharia e a Sara nem tanto. Sei lá.

JR