No âmbito do capítulo do programa de Filosofia do 10° “Problemas do mundo contemporâneo ”, propus aos meus alunos a realização de trabalhos de grupo sobre o tema dos direitos humanos (as indicações específicas que foram fornecidas encontram-se aqui).
Quando escolhi este tema, para além do seu interesse filosófico, a minha principal motivação residiu no facto de ter constatado que existe na maioria dos alunos, tal como na sociedade portuguesa em geral, uma preocupação com aspectos da vida ligados, sobretudo, ao prazer imediato, à aparência, ao que é rápido e não exige atenção ou esforço intelectual. Relacionado com este facto acontece um fenómeno curioso: a admiração de pessoas, que se tornam figuras públicas sem nunca terem feito nada que tivesse mérito ou merecesse, verdadeiramente, ser objecto de admiração. Para comprovar estas minhas afirmações basta consultar alguns dados relativos às vendas das numerosas revistas cor-de-rosa existentes em Portugal ou, então, analisar o conteúdo dos programas que passam no “horário nobre” das televisões portuguesas, particularmente os concursos e as novelas, onde as virtudes apregoados são bastante duvidosas ou inexistentes.
Não é o caso da lista de personalidades que sugeri aos alunos para realizarem os trabalhos: Aristides de Sousa Mendes (um ilustre português, desconhecido da maioria dos portugueses), Shirin Ebadi, Aung San Sun Ky, Gandhi, Luther King, entre outros homens e mulheres que se destacaram na luta pelos direitos humanos. Estas pessoas são, ou foram, capazes de prescindir do seu bem-estar, dos seus interesses, ou mesmo de arriscar a sua vida para defender elevados ideais da humanidade: a liberdade, a justiça, a igualdade, por exemplo.
Conhecer os actos que praticaram, perceber as razões e as consequências destes, permite-nos compreender, de forma efectiva, o significado desses valores e do que significa agir eticamente. As acções exemplares, penso eu, ensinam-nos algo sobre o que são as reais virtudes humanas.
Nas fotografias: Aristides de Sousa Mendes e José Castelo Branco.
2 comentários:
O que aristides fez foi e é magnífico, digno de um ser com uma compaixão sem igual que devia ser conhecido por todas as pessoas do mundo… no entanto, será mesmo assim? sem precisar de matemáticas, se formos ver as pessoas que conhecem o “hilariante” José castelo branco e o verdadeiro herói Aristides de Sousa Mendes é realmente ridículo o facto do actual recordista das capas das revistas ganhar. Se eu perguntasse quem conhecia Aristides eram capazes de me franzir as sobrancelhas! Mas se perguntasse: “quem é o castelo branco?” haveria fortes possibilidades de responderem que ainda bem que falei disso porque viram um artigo sobre ele deveras engraçado (…) Acho que é realmente assustador o facto de se conhecer tão pouco dos verdadeiros heróis e tanto, demais até, destas personagens que o que fazem é ridicularizar a nossa nação.
Paula Melo Nº19 10ºC
A questão que se pode colocar é se a popularidade do personagem televisivo referido não decorrerá do facto da maioria das pessoas considerar como modelo o seu estilo de vida, apesar de muitas vezes o ridicularizar.
Vigora na sociedade portuguesa, em geral, um certo relativismo que não permite distinguir o que tem mérito, (nomeadamente do ponto de vista moral) do que não tem: como se tudo fosse uma questão de ponto de vista, uma questão relativa aos interesses particulares de cada pessoa. Consequentemente, não há maneira - para quem pensa assim - de mostrar de modo racional e objectivo que as acções do Aristides têm elevado valor moral: podem ter para mim ou para a Paula, mas se adoptarmos o ponto de vista relativista,essa será apenas uma opinião entre outras... tudo é defensável, não faz sentido distinguir, comparar...
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