Um resumo possível do argumento ontológico (veja aqui e aqui) é este:
Quando pensamos em Deus, pensamos no ser mais perfeito que se pode pensar.
Se Deus não existisse realmente, se fosse apenas uma ideia, poderíamos pensar num ser semelhante mas que existisse realmente.
Como a existência contribui para a perfeição, Deus já não seria o ser mais perfeito que se pode pensar, pois esse outro ser seria mais perfeito.
Mas isso é contraditório com a ideia que temos de Deus: essa ideia representa o ser mais perfeito que se pode pensar e isso só pode ser assim se ele existir.
Logo, Deus existe.
Gaunilo (um monge contemporâneo de Santo Anselmo) apresentou uma objecção contra o argumento ontológico, segundo a qual este é um mau argumento e não prova a sua conclusão, pois tem consequências inaceitáveis.
Essa objecção constitui uma redução ao absurdo, ou seja, um argumento em que se mostra que a ideia que se quer refutar tem consequências absurdas e por isso é ela própria absurda.
A redução ao absurdo de Gaunilo consiste em aplicar a estrutura argumentativa (o mesmo tipo de relações conceptuais) do argumento ontológico a outras coisas e mostrar que assim se pode declarar a existência de coisas que sabemos comprovadamente que não existem. Ou seja: se essa estrutura argumentativa leva a afirmar falsidades óbvias não temos razões para aceitar quando, no argumento ontológico, ela conduz à afirmação de que Deus existe.
Para conseguir esse efeito, basta considerar que uma certa coisa é a mais perfeita no seu género, ou seja, definir uma coisa X como a mais perfeita das coisas X. Gaunilo adoptou como exemplo “Perdida, a ilha paradisíaca mais perfeita que se pode pensar”, mas podemos escolher muitos outros exemplos. Eis um:
Quando pensamos em Pégaso, pensamos no cavalo alado mais perfeito que se pode pensar.
Se Pégaso não existisse realmente, se fosse apenas uma ideia, poderíamos pensar num cavalo alado semelhante mas que existisse realmente.
Como a existência contribui para a perfeição, Pégaso já não seria o cavalo alado mais perfeito que se pode pensar, pois esse outro cavalo alado seria mais perfeito.
Mas isso é contraditório com a ideia que temos de Pégaso: essa ideia representa o cavalo alado mais perfeito que se pode pensar e isso só pode ser assim se ele existir.
Logo, Pégaso existe.
Será que esta objecção refuta o argumento ontológico?
Mesmo que considere o argumento ontológico um mau argumento, ponha-se na pele de alguém que o considera um bom argumento e tente defendê-lo da objecção de Gaunilo.
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Bibliografia:
Aires Almeida e outros, “A Arte de Pensar – 10º Ano”, vol. 2, Didáctica Editora, Lisboa, 2007.
Santo Anselmo, “Proslógion”, Introdução e Análise de M. Fernandes e N. Barros, Lisboa Editora, Lisboa, 1995.
Simon Blackburn, “Pense – Uma Introdução à Filosofia”, Gradiva, Lisboa, 2001.
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