domingo, 28 de dezembro de 2014

A máquina de experiências agradáveis

Ignorance is bliss Cypher filme Matrix

A máquina de experiências de Robert Nozick é uma das experiências mentais mais célebres da filosofia. É referida em imensos livros, habitualmente como objeção ao utilitarismo e à ideia de que a felicidade é o bem supremo. Chegou inclusivamente ao cinema: no filme Matrix, dos irmãos Wachowski, um homem (Cypher) pede para ser ligado à Matrix - um programa de computador muito avançado que simulava a realidade – e para lhe atribuírem uma “vida” falsa muito agradável, mas sem consciência de que não era real.

Eis a máquina de experiências nas palavras de Nozick:

«Suponhamos que havia uma máquina de experiências que proporcionaria ao leitor a experiência que desejasse. Neuropsicólogos superfixes podiam estimular o seu cérebro de maneira a pensar e sentir que escrevia um grande romance, fazia uma amigo, ou lia um livro interessante. Durante todo o tempo, estaria a flutuar numa cuba, com eléctrodos ligados ao cérebro. Dever-se-ia ligar esta máquina durante toda a vida, pré-programando as suas experiências de vida? Se está preocupado com a perda de experiências desejáveis, podemos supor que as empresas investigaram exaustivamente a vida de muitos outros. O leitor pode escolher a partir da sua imensa biblioteca ou bufete dessas experiências, seleccionando as suas experiências de vida para, digamos, os dois anos seguintes. Após dois anos, poderia passar dez minutos ou dez horas fora da cuba, para seleccionar as experiências dos seus dois anos seguintes. Evidentemente, enquanto está na cuba não saberá que ali está; pensará que tudo aquilo acontece efectivamente. Os outros podem também ligar-se e ter as experiências que quiserem, pelo que não há necessidade de estar desligado para os servir. (Ignore problemas como o de saber quem cuidará das máquinas se todos se ligarem.) Ligar-se-ia? O que mais pode ter importância para nós, além do modo como são as nossas vidas a partir de dentro? Tão-pouco se devia abster por causa dos escassos momentos de angústia entre o momento em que decide e aquele em que já está ligado. O que são alguns momentos de angústia comparados com uma vida inteira de felicidade (se é isso que o leitor escolhe), e porque sentir angústia se a sua decisão é a melhor?
O que tem para nós importância, além das nossas experiências?»

Robert Nozick, Anarquia, Estado e Utopia, trad. Vítor Guerreiro, Lisboa, Edições 70, Novembro de 2009, pp. 74-75.

Não esqueça a pergunta de Nozick: ligar-se-ia?

sábado, 27 de dezembro de 2014

Pensar de A a Z

Pensar de A a Z, de Nigel Warburton.
Tradução de Vítor Guerreiro. Revisão científica e prefácio de Desidério Murcho.
Editorial Bizâncio, Setembro de 2012, 240 pp
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Nigel Warburton Pensar de A a Z

Imagine que um colega seu afirma que uma certa ideia - por exemplo que se deve apostar na produção de vinho - é falsa pois Salazar também a defendia. O leitor compreende que há algo de errado nessa afirmação, mas tem dificuldade em explicar porquê.

E como mostrar o erro de um vizinho que nega a existência de Deus alegando que é ridículo acreditar num velho de barbas brancas sentado numa nuvem?

O livro Pensar de A a Z, do filósofo inglês Nigel Warburton, poderia dar-lhe uma ajuda. Ensinar-lhe-ia, por exemplo, que o seu colega cometeu a falácia das más companhias e o vizinho a falácia do espantalho. Com uma linguagem clara e simples, Warburton explica o que é uma falácia (um argumento que parece correto mas não é) e analisa algumas das falácias mais frequentes. Assim, a falácia das más companhias ocorre quando se rejeita uma ideia apenas porque foi defendida por alguém muito censurável (claro que Warburton não dá o exemplo de Salazar mas sim de Hitler) e a falácia do espantalho ocorre quando alguém caricatura ou distorce uma perspectiva rival para a derrubar mais facilmente. Mas essa ajuda também poderia vir, por exemplo, das páginas dedicadas à falácia democrática, à falácia do custo perdido ou à falácia de Van Gogh.

Pensar de A a Z, além das falácias, aborda vários outros tópicos importantes da chamada lógica informal: estratégias de persuasão como a culpa partilhada, o advogado do diabo e envenenar o poço; erros como a confusão entre alguns e todos, a confusão entre correlação e causa e a precisão inapropriada; e conceitos lógicos fundamentais como validade, dedução e indução.

As explicações dadas por Nigel Warburton são sempre ilustradas com exemplos muito esclarecedores e não pressupõem conhecimentos prévios, pelo que podem ser compreendidas por leitores sem formação filosófica.

Nas palavras do autor, o livro é “uma introdução ao pensamento crítico” e oferece “alguns instrumentos básicos para o raciocínio claro acerca de qualquer assunto”. A intenção é ajudar o leitor a identificar falácias e outros erros argumentativos comuns, de modo a não se enganar nem ser enganado, mas sobretudo ajudá-lo a defender melhor as suas ideias e a pensar pela sua própria cabeça.

O livro está organizado por ordem alfabética e com entradas que remetem muitas vezes para outras entradas (por exemplo, mentir remete para parcimónia com a verdade e pedantismo, por sua vez, remete para ambiguidade e retórica), pelo que pode ser lido do princípio ao fim ou começando numa entrada interessante e depois seguindo essas referências cruzadas.

Inclui ainda um “Prefácio à edição portuguesa” da autoria de Desidério Murcho, que, além de esclarecer de modo breve mas rigoroso muitos conceitos lógicos, explica a importância da lógica para a reflexão e para a argumentação.

Por isso, a leitura deste livro pode ser proveitosa para pessoas muito diferentes. Como é dito no prefácio, os tópicos que aborda estão presentes “não só na nossa vida diária, como também na nossa vida económica, científica, tecnológica, artística, religiosa, política e pessoal” e sem dominá-los “não é fácil ter uma vida humana plenamente realizada”.

sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

Abraços sem braços

Francine é uma mulher do Burundi cujo cunhado lhe amputou os braços. Motivo? Deu à luz uma menina em vez de um menino.

Mais pormenores e fotografias aqui: How a Mother With Amputated Arms Became an Angel in Her Daughter’s Eyes.

mulher sem braços ajudado pelo filho a lavar os dentes

abraçar sem braços

How a Mother With Amputated Arms Became an Angel in Her Daughter’s Eyes

Fotografias de Martina Bacigalupo.

Turner: retrato de um pintor

Joseph Mallord William Turner (1775-1851), auto-retrato.

Eis um filme que vale a pena ver e se encontra em exibição nas salas de cinema portuguesas.

Um dos quadros de Turner que pode ser contemplado no museu Gulbenkian em Lisboa.

William Turner, "Naufrágio de um cargueiro".

segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Semelhanças entre a democracia e a ciência e a filosofia

Quino Mafalda e a Borracha de apagar ideologias

Os praticantes da ciência são “capazes de ser tão baixos quanto o resto das pessoas”. Mas “o que é grandioso na ciência — como na democracia — não é o facto de ser feita por pessoas impolutas, mas o facto de ter mecanismos públicos de crítica, por cultivar a liberdade e por não aceitar o peso da autoridade sem o peso do argumento razoável, publicamente discutível. Tal como a diferença entre a democracia e a ditadura não reside no carácter dos governantes — Cavaco Silva, por exemplo, tem o perfil típico de ditadores como o Salazar — mas antes no sistema que não os deixa fazer todo o mal que gostariam de fazer, também na ciência e na filosofia analítica se instituíram sistemas de controle de erros precisamente porque a natureza humana deixa bastas vezes muito a desejar.”

Desidério Murcho, “Façanha matemática” * - http://criticanarede.com/lds_aczel.html

* Sobre o livro: O Último Teorema de Fermat: À descoberta do segredo de um problema matemático secular, de Amir D. Aczel.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

O que é mais importante que a felicidade?

sound of music música no coração felicidade

«A questão da felicidade é por vezes dramatizada sob a forma de uma pergunta [da autoria de John Stuart Mill]: ‘O que preferia ser: um Sócrates infeliz ou um porco feliz?’ Claro que preferiríamos ser um Sócrates feliz, mas o que se pretende demonstrar é que ter autonomia de espírito, ter consciência do mundo, e fazer escolhas próprias é melhor, de longe, do que ser passivamente feliz em prejuízo destas coisas. É por isso que nós – ou, de qualquer forma, a maior parte de nós – coloca objeções às vias fáceis de acesso à felicidade, como seja ingeri-la sob a forma química, pois desse modo não é muito diferente do esquecimento.»

A. C. Grayling, O significado das coisas, Lisboa, 2002, Edições Gradiva, pág. 96.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Odeia a luz que começa a morrer

Um poema citado no filme "Interstellar" (uma sugestão de cinema para as férias!)

 

Não entreis docilmente nessa noite serena,
porque a velhice deveria arder e delirar no termo do dia;
odeia, odeia a luz que começa a morrer.

No fim, ainda que os sábios aceitem as trevas,
porque se esgotou o raio nas suas palavras, eles
não entram docilmente nessa noite serena.

Homens bons que clamaram, ao passar a última onda, como podia
o brilho das suas frágeis ações ter dançado na baia verde,
odiai, odiai a luz que começa a morrer.

E os loucos que colheram e cantaram o voo do sol
e aprenderam, muito tarde, como o feriram no seu caminho,
não entram docilmente nessa noite serena.

Junto da morte, homens graves que vedes com um olhar que cega
quanto os olhos cegos fulgiriam como meteoros e seriam alegres,
odiai, odiai a luz que começa a morrer.

E de longe, meu pai, peço-te que nessa altura sombria
venhas beijar ou amaldiçoar-me com as tuas cruéis lágrimas.
Não entres docilmente nessa noite serena.
Odeia, odeia a luz que começa a morrer.

Dylan Thomas


Tradução: Fernando Guimarães
Podem ouvir uma leitura do autor do poema:

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

A falta de consenso não impede o rigor

menina na janela de dali

Salvador Dali, Rapariga de pé à janela

Na matemática e nas ciências da natureza existem “teorias, amplamente consensuais, que a humanidade foi desenvolvendo ao longo do tempo. A diferença, no caso da filosofia, é que as teorias que temos não são consensuais: são, na verdade, especulativas. São-no por boas razões: porque não temos em filosofia o género de processo de prova ou confirmação que temos noutros domínios. Porém, a especulação pode ser feita com mais rigor ou com menos rigor; em filosofia, desenvolvemos teorias especulativas, mas muitíssimo rigorosas. E submetemos essas teorias a uma crítica tenaz, para evitar tanto quanto possível os erros. Assim, apesar da teorização filosófica ser especulativa, não se confunde de modo algum com a mera opinião subjetiva; a filosofia não é uma espécie de jornalismo das ideias.”

Aires Almeida e Desidério Murcho, Janelas para a Filosofia, Lisboa, Gradiva, Novembro de 2014, pág. 19.

Mais informações sobre o livro: Abrir Janelas.

Janelas para a filosofia de aires almeida e desidério murcho

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Flor do deserto: guião de análise do filme


Título original do filme: Desert Flower
De: Sherry Horman
Com: Liya Kebede, Sally Hawkins, Anthony Mackie, Timothy Spall
Género: Drama
GB, 2009, Cores,
O filme, Flor do deserto, é baseado na história da modelo somali Waris Dirie.  Ela nasceu numa família nómada da Somália  e  foi submetida a uma prática vulgar no seu país e em vários outros, chamada mutilação genital feminina ou excisão. Mais tarde, quando se tornou conhecida internacionalmente, escreveu um livro e tornou-se uma activista contra essa tradição cultural.
Após o visionamento do filme, responda às seguintes questões:

1. Dê três exemplos que ilustrem as diferenças existentes entre a cultura inglesa e a da Somália.
2. Enuncie dois juízos morais, cujo valor de verdade seja diferente para uma pessoa que aceite o código moral dominante na sociedade inglesa e uma que aceite o código moral na sociedade somali.
3. Com base em que valores da cultura somali se justifica a prática da excisão?
4. De acordo com os valores morais dominantes nos países europeus, como é avaliada, do ponto de vista moral, a prática da excisão?
5. Na sua opinião, haverá ações que possam ser moralmente boas ou más, independentemente do contexto cultural? Porquê?
6. Indique duas passagens do filme que justifiquem a seguinte afirmação: a defesa das ideias do relativismo moral e cultural conduz ao conformismo.
7. Ao condenar a prática da excisão no seu país, a modelo somali admite que os valores morais dependem apenas da cultura? Porquê?
8. A defesa dos direitos humanos e do relativismo serão compatíveis? Justifique.
9. Explique o significado do título atribuído ao filme: "Flor do deserto".
10. Gostou do filme? Explique porquê.
A professora: Sara Raposo

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Dia Mundial da Filosofia: as opiniões dos alunos

Os textos, enviados para a caixa de comentários, sobre o problema proposto no Dia Mundial da Filosofia já se encontram disponíveis, podem ser lidos AQUI.

Um obrigada a todos os alunos que participaram (do 11º A, 11º B e 10º D)!

Os autores dos dois melhores comentários - a quem se será entregue o livro "Logicomix" da Gradiva - serão conhecidos na primeira semana de aulas do 2º período. Nessa data também serão publicados neste blogue os dois textos seleccionados.

domingo, 30 de novembro de 2014

O ranking das escolas... Mas e as outras disciplinas?

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O jornal “Expresso” publicou ontem um ranking interativo das escolas - que pode ser consultado AQUI - e onde o leitor poderá ver a posição em que ficou cada escola. A imagem anterior refere-se ao distrito de Faro. Além das médias obtidas nos exames de Português, Física e Química, Biologia e Geologia e Matemática, disponibilizam-se outros dados pertinentes a que vale a pena dar atenção, como por exemplo: “a percentagem de alunos carenciados” e o “número de provas realizadas”.
O ranking apresentado, independentemente de se concordar ou não com a sua publicitação (e eu sou a favor), foi elaborado segundo critérios discutíveis, nomeadamente o facto de se considerarem só as classificações obtidas nos exames nacionais das disciplinas de Português, Física e Química, Biologia e Geologia e Matemática. Veja-se o quadro seguinte:
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Porquê privilegiar as disciplinas específicas dos cursos de ciências (Física e Química, Biologia e Geologia e Matemática) em detrimento dos cursos de humanidades?
A "média da escola”, que determina a sua posição no ranking, é calculada  a partir dos resultados dos exames de quatro disciplinas, mas é apresentada como sendo “da escola”. No caso do ensino secundário, é preciso dizer que isto é uma fraude. A média da escola, para ser verdadeira, teria de considerar todos os exames nacionais realizados, o que não acontece. Os alunos do secundário fazem exames nacionais de Filosofia, de História A, de Espanhol, de Geografia, entre vários outros. Contudo, as classificações destes não são consideradas no ranking. E porquê? Que critério foi utilizado?
Se for as disciplinas com maior número de inscrições nos exames a nível nacional (como julgo que é), então é preciso dizer que o ranking é só dessas disciplinas e não das escolas. Mas mesmo considerando apenas esse redutor critério numérico, está a ser esquecido o facto de o número de inscritos em Filosofia ter vindo a subir de ano para ano (em 2014 fizeram exame 11.513 alunos, dos quais 7.956 eram internos).
Na realidade, “as médias das escolas”, vindas agora a público, não são as mesmas que o ministério da educação considera nas suas estatísticas, pois estas englobam a média obtida na totalidade dos exames. E isso, além de deturpar a verdade, é injusto. No caso da disciplina de que posso falar - Filosofia - no ano passado a escola Pinheiro e Rosa foi a escola do Algarve (apesar do número de alunos e de turmas ser menor do que de várias outras) onde mais alunos internos realizaram o exame nacional de Filosofia e a média, à semelhança de anos anteriores, foi positiva (a diferença entre a média das classificações internas que atribuí, 13,41, e a média da classificação interna obtida no exame pelos alunos internos foi de 2,38 valores. A média total das classificações dos alunos internos da escola foi de 10.92, ver dados AQUI e AQUI).
Porque não haveriam estas classificações ser tidas em conta no ranking? Como se explica que em certas escolas, com um número muito maior de alunos, apenas três ou quatro tenham realizado o exame de Filosofia e nesta escola isso não aconteça? Porque é que a Filosofia, ou outra disciplina com exame nacional, haveria de ficar de fora quando se trata de fazer o apuramento da média da escola?
É um absurdo que assim seja. Contudo, os jornalistas do Expresso fazem passar para a opinião pública a ideia de que “a média das escolas” é objetiva e transparente. Não é, é antes uma fraude.
Mas há, sem dúvida, um efeito perverso nesta fraude (e que a maioria das pessoas conhece bem): na hora dos alunos e encarregados de educação escolherem a escola, um dos fatores relevantes - entre vários outros - a ter em conta é o lugar ocupado no ranking por essa escola. E isso atrai ou afugenta a inscrição de alunos nesse estabelecimento de ensino. Assim, é bom termos consciência de que a imagem pública veiculada nos jornais poderá condicionar, pelo menos em parte, o futuro de uma escola.
Por isso, é inadmissível que se penalize a imagem pública das escolas devido ao desempenho dos alunos apenas em algumas disciplinas e se ignore o bom trabalho que possa ter sido feito noutras.

Matriz do 2º teste do 10º ano: turma D

2014-15 10º Matriz Do 2º Teste by dmetódica

Links de apoio ao estudo:

A - Sobre o problema do livre-arbítrio.

Determinismo
Terá o determinista radical razão?

Formulação do problema do livre-arbítrio (1)

Pêssegos e duelos: exemplos ilustrativos do problema do livre-arbítrio

O Determinismo

A resposta do determinismo radical (2)

Se o determinismo radical for verdadeiro, salvar 155 pessoas não tem qualquer mérito

Argumentos a favor do Libertismo

O livre-arbítrio existe, pois temos consciência dele

Determinismo Moderado

B - Sobre o problema da justificação dos juízos morais.

A cigarra, a formiga e os valores

Nós…

Enterrar viva uma pessoa é errado ou isso é relativo?

Uma tradição admissível, segundo os relativistas culturais

A verdade dos juízos morais depende da opinião pessoal?

Será a ética subjectiva?

Haverá provas em ética?

Bom estudo!

terça-feira, 25 de novembro de 2014

A postura filosófica de Sócrates: um esclarecimento aos leitores

busto de Sócrates do Museu do Vaticano

Esta escultura representa o filósofo grego Sócrates (470-399 a.C). É da época romana e foi feita a partir de um original grego do séc. IV a.C (atribuída ao escultor  Lisipo). Pode ser visitada no Museu do Vaticano, na sala dos filósofos, em Itália.

Num diálogo intitulado Críton, Platão relata a forma como Sócrates (condenado à morte pelo tribunal em 399 a.C por, entre outras acusações, corromper a juventude) responde à proposta que alguns dos seus discípulos lhe fazem: fugir em vez de aceitar a sentença fatal.

Críton: (…) Mas, caro Sócrates, uma vez mais te peço, obedece-me e salva-te. É que, se morreres não será para mim uma desgraça só, além de ficar privado de um amigo como não tornarei a achar outro, ainda farei aos olhos da maioria, que não nos conhece bem, nem a mim nem a ti, o papel de alguém que podendo salvar-te, se quisesse gastar dinheiro, não esteve para se incomodar. E que fama pode haver mais vergonhosa que parecer ter em maior conta o dinheiro do que os amigos? A maioria das pessoas nunca acreditará que foste tu que não quiseste sair daqui, apesar da insistência dos nossos pedidos.

Sócrates: Portanto, meu caro, não devemos preocupar-nos muito com as afirmações da maioria, mas sim (…) com a verdade. Não é, por isso, boa a tua sugestão inicial de que devemos preocupar-nos com a opinião da maioria sobre a justiça e a bondade (…). Em todo o caso, poderá alguém observar: a maioria é muito capaz de nos mandar matar.

Críton: Evidentemente, poderia muito bem dizer-se isso, ó Sócrates.

Sócrates: Mas, meu caro, a lógica seguida parece-me ser a mesma de há pouco. E repara de novo se este princípio permanece ou não: o que mais importa não é viver, mas viver bem.”

Platão, Êutifron, Apologia de Sócrates, Críton, Edição Imprensa Nacional – Casa da Moeda, Lisboa, 1990.

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

DIA MUNDIAL DA FILOSOFIA: vem pensar e debater online

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Segundo a UNESCO, dia 20 de Novembro, é o DIA MUNDIAL DA FILOSOFIA.

A melhor forma de celebrar este dia é debater ideias. Afinal, a capacidade argumentativa e a atitude crítica – que o estudo da disciplina de Filosofia permite desenvolver – devem PRATICAR-SE nas aulas e na nossa vida em geral. A menos que queiramos viver sem pensar por nós próprios, escravos dos preconceitos, da opinião da maioria, dos interesses instalados, das falsas autoridades e por ai adiante...

Assim, fica o desafio (dirigido a todos os alunos da escola e a outros eventuais interessados) - apresentem a vossa opinião e debatam (na caixa de comentários deste blogue) a seguinte questão ética:

Devemos fazer o que está certo mesmo quando não ganhamos com isso?

Ao responder tem em conta o exemplo da notícia de jornal: Como agirias se fosses um dos três funcionários na situação seguinte? Porquê? (Também podes assinalar a tua resposta no questionário online na barra lateral deste blogue.)

“Três funcionários da Câmara Municipal da Póvoa de Varzim foram distinguidos pela autarquia com um voto de louvor por devolverem um envelope com mais de quatro mil euros que encontraram num centro de processamento de lixo.

Fonte autárquica disse hoje à agência Lusa que o envelope, com o dinheiro e cheques, foi detetado (…) por trabalhadores municipais que procediam à separação de papel. O envelope continha um depósito no valor de 4407 euros feito pelo cliente de um banco numa dependência desta instituição e que, por descuido, terá caído num balde do lixo. Seguiu, depois, o trajeto normal dos resíduos até ao ecocentro. Após os três funcionários terem encontrado o pacote, fizeram-no chegar aos responsáveis da Câmara Municipal que, por sua vez, o entregaram à instituição bancária em causa, identificada no envelope.”                  

Jornal Diário de Notícias de 18-11-2014.

Além do que se pode ganhar numa discussão – a oportunidade de aprendermos uns com os outros –, os dois melhores textos argumentativos dos alunos da escola serão publicados num post deste blogue e receberão como prémio o livro “Logicomix: Uma Busca Épica da Verdade”. Além de ser escrito numa linguagem acessível e clara, este livro de banda desenhada tem um discurso rigoroso do ponto de vista científico e filosófico e é graficamente atraente. O difícil neste livro (que é um enorme sucesso internacional) é mesmo parar de o ler. Para saber mais, ver AQUI.

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Informações úteis:

- Só serão considerados a concurso os comentários enviados até cinco dias a contar da data de publicação deste post.

- A publicação dos melhores trabalhos dos alunos da escola e a atribuição dos prémios ocorrerá na primeira semana de aulas do 2º período, em data e lugar a anunciar. O júri é constituído por dois professores.

- Os alunos da escola devem escrever, no final, o nome completo e a turma a que pertencem. Quando o comentário enviado exceder o número de palavras permitido, devem dividir o texto em dois comentários diferentes (escrevendo parte 1 e 2) e colocar o nome em ambos.

- O blogue possui moderação de comentários, por isso os textos dos alunos não são publicados imediatamente, só após aprovação dos autores.

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Sobre o poder da retórica

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Quino, Potentes, prepotentes e impotentes, Ed. D. Quixote.
image Quino, "Potentes, Prepotentes e Impotentes", Editorial Teorema, 2004.
image Cartoon retirado daqui.
Nos dois textos seguintes são apresentados  pontos de vista diferentes sobre o papel da retórica, caracterize cada um deles.
«Um retórico do passado dizia que o seu ofício era fazer que as coisas pequenas parecessem grandes e como tal fossem julgadas.
(…) Arquidamo (…) não terá ouvido sem espanto a resposta de Tucídides, ao qual perguntara quem era mais forte na luta, se Péricles, se ele: “Isso será difícil de verificar, pois quando o deito por terra, ele convence os espectadores que não caiu, e ganha”.
Os que, com os cosméticos, caracterizam e pintam as mulheres fazem menos mal, pois é coisa de pouca perda não as ver ao natural, ao passo que estes outros fazem tenção de enganar, não já os olhos mas o nosso juízo, e de abastardar e corromper a essência das coisas.»
Montaigne, Ensaios, antologia, tradução de Rui Bertrand Romão, Relógio de Água Editores, Lisboa, 1998, pág. 147.
***
Num diálogo intitulado Críton, Platão relata a forma como Sócrates (condenado à morte pelo tribunal em 399 a.C por, entre outras acusações, corromper a juventude) responde à proposta que alguns dos seus discípulos lhe fazem: fugir em vez de aceitar a sentença fatal.
“Críton: (…) Mas, caro Sócrates, uma vez mais te peço, obedece-me e salva-te. É que, se morreres não será para mim uma desgraça só, além de ficar privado de um amigo como não tornarei a achar outro, ainda farei aos olhos da maioria, que não nos conhece bem, nem a mim nem a ti, o papel de alguém que podendo salvar-te, se quisesse gastar dinheiro, não esteve para se incomodar. E que fama pode haver mais vergonhosa que parecer ter em maior conta o dinheiro do que os amigos? A maioria das pessoas nunca acreditará que foste tu que não quiseste sair daqui, apesar da insistência dos nossos pedidos.
Sócrates: Portanto, meu caro, não devemos preocupar-nos muito com as afirmações da maioria, mas sim (…) com a verdade. Não é, por isso, boa a tua sugestão inicial de que devemos preocupar-nos com a opinião da maioria sobre a justiça e a bondade (…). Em todo o caso, poderá alguém observar: a maioria é muito capaz de nos mandar matar.
Críton: Evidentemente, poderia muito bem dizer-se isso, ó Sócrates.
Sócrates: Mas, meu caro, a lógica seguida parece-me ser a mesma de há pouco. E repara de novo se este princípio permanece ou não: o que mais importa não é viver, mas viver bem.”
Platão, Êutifron, Apologia de Sócrates, Críton, Edição Imprensa Nacional – Casa da Moeda, Lisboa, 1990.

Retórica e argumentação: recursos didácticos deste blogue

Meios de persuasão

Ethos, logos, pathos

Ethos, Logos, Pathos & Pizza

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Dez anos depois, uma sonda chegou a um cometa a 500 milhões de quilómetros

Primeiro pouso controlado no núcleo de um cometa

Imagem do cometa 67P/Churyumov–Gerasimenko, tirada pela sonda Rosetta a 6 de novembro. A área onde a nave-robô Philae pousou situa-se na zona superior da imagem, tem cerca de um quilómetro quadrado e foi batizada de Agilkia. (foto ESA/Rosetta/NavCam – CC BY-SA IGO 3.0)

Em Darmstadt os cientistas da Agência Espacial Europeia recebem o primeiro sinal enviado pelo robô Philae a partir do cometa. Foto: ESA

"É a primeira vez na História que uma sonda pousa no núcleo de um cometa.

Philae, a sonda-robô que se desprendeu de Rosetta esta manhã, efectuou em cerca de sete horas a viagem de 22,5 quilómetros até à superfície do cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko, onde pousou com sucesso numa área de apenas um quilómetro quadrado, baptizada como Agilkia.

O sinal que confirmou o sucesso da operação chegou à Terra cerca de 28 minutos depois, às 17h03, após atravessar cerca de 500 milhões de quilómetros.

Via Twitter, chega a informação de que Philae está à superfície, mas que os seus arpões não dispararam.

Para além de fotos, Philae irá recolher dados para o primeiro estudo detalhado de um comenta realizado in situ. Os dados serão enviados para Rosetta, que os reenviará para a Terra, durante os 17 meses que ficará em órbita.

A sonda Rosetta foi batizada em homenagem à Pedra de Roseta, o fragmento de uma estela do Antigo Egito que permitiu a decifração dos hieróglifos egípcios. Philae recebeu o nome da ilha onde foi encontrado um obelisco que também contribuiu para essa decifração. Esta missão, controlada pelo Centro Europeu de Operações Espaciais, terá como resultado o estudo mais aprofundado alguma vez feito sobre um cometa."

Informação retirada DAQUI.

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Uma janela aberta para...

Janelas para a Filosofia

Apresentação

"Todos temos vários pressupostos filosóficos, quer nos apercebamos disso quer não. Seja porque temos convicções sobre o que é correcto ou incorrecto fazer, seja porque temos convicções sobre o que é ou não justo na nossa sociedade. Este livro abre janelas para o mundo da filosofia, ajudando-nos a reflectir com autonomia sobre esses e outros pressupostos filosóficos.

Da filosofia moral e política à filosofia da arte e da religião, da teoria do conhecimento à filosofia da ciência e à lógica, este livro apresenta alguns dos problemas, teorias, argumentos e conceitos que constituem o núcleo da reflexão filosófica. As ideias não são apresentadas como dogmas mortos que nos resta apenas apreciar, mas antes como propostas vivas que urge discutir.

Será que os valores são relativos? Porquê? O que fundamenta a moral? O que é o bem último, aquilo em função do qual os outros bens são bens? E qual é o critério da acção correcta? Serão as consequências? Ou as intenções? Ou será a virtude o que mais conta na ética?

Eis algumas das perplexidades filosóficas que inauguram este livro. Conduzindo o leitor gentilmente, de maneira despretensiosa e simples, encorajando-o a reflectir por si, Janelas para a Filosofia é mais do que uma apresentação da filosofia: é um convite ao filosofar.

Em vez de dogmas mortos, as ideias dos filósofos tornam-se propostas vivas que apetece discutir. Kant e Mill, Aristóteles e Platão, Popper e Kuhn, Collingwood e Tolstói, Anselmo e Nagel, Rawls e Nozick, Gettier e Dickie — estes são apenas alguns filósofos, antigos e contemporâneos, que somos convidados a discutir neste livro singular.

Este livro é do máximo interesse para qualquer pessoa dada à reflexão, curiosa acerca dos pressupostos filosóficos que inevitavelmente temos. Leitura indispensável em universidades e escolas, para professores e alunos, e com uma linguagem clara e despretensiosa, mas rigorosa e sólida, este é o livro de apresentação da filosofia que há muito fazia falta."

Pode continuar a ler AQUI.

Terá o determinista radical razão?

Fotografia do filme cinema Paraiso

(Fotografia do filme de Guiseppe Tornatore “Cinema Paraíso”.)

Determinista [radical]: Que sera sera. O que tiver de ser será. A vida é como um filme. Somos as criaturas que aparecem no ecrã. Pensamos que temos vontade própria. Afinal, estamos apenas a dar forma a acontecimentos predeterminados.”

Será mesmo assim?

Que objecções  podemos apresentar ao determinista radical?

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Determinismo

Determinism

"Events within a given paradigm are bound by causality in such a way that any state of an object or event is determined by prior states. Every type of event, including human cognition (behavior, decision, and action) is causally determined by previous events."

A informação e a imagem foram retirados DAQUI.

Determinismo

"Na sua versão radical, é uma teoria que afirma que todos os estados ou acontecimentos do mundo são determinados por estados ou acontecimentos que lhes são anteriores, de acordo com as LEIS DA NATUREZA. Nesta versão, defende-se que, para qualquer acontecimento b, existe um acontecimento a anterior tal que é impossível que ocorra a sem que, consequentemente, ocorra b. Se esta versão mais radical for verdadeira, levanta-se o problema de saber se é compatível com o LIVRE-ARBÍTRIO, isto é, se a ACÇÃO humana pode ser concebida como genuinamente livre — os compatibilistas defendem que sim; os incompatibilistas, que não. O determinismo não deve ser confundido com o fatalismo, que é a doutrina segundo a qual nada do que fizermos agora terá eficácia causal. Além disso, nem todos os deterministas são radicais, existindo filósofos que defendem um determinismo moderado."

A informação foi retirada DAQUI: Dicionário escolar de Filosofia online, da Plátano Editora.

Há um link para este dicionário na barra lateral deste blogue. Aconselho, vivamente, aos alunos do ensino secundário a sua consulta.

sexta-feira, 31 de outubro de 2014

O princípio do dano

O princípio do dano de Stuart Mill explicado com muita clareza.

Acerca do mesmo assunto pode ler também:

Polícia apreende livros por considerar a capa pornográfica... Na Coreia do Norte? Não, em Portugal!
Deveria a gordura ser proibida?

Clicar no símbolo parecido a um envelope no canto inferior direito para ativar as legendas.

quinta-feira, 30 de outubro de 2014

O que está em jogo na ética é a nossa vida

Pablo Picasso, "Mulher ao espelho".

“Liberdade é poder dizer «sim» ou «não»; faço-o ou não faço, digam o que disserem os meus chefes; isto convém-me e eu quero-o, aquilo não me convém e, portanto, não o quero. Liberdade é decidir (…).
E para não te deixares levar não tens outro remédio senão tentar pensar pelo menos duas vezes no que te dispões a fazer… Da primeira vez em que pensas no motivo da tua acção, a resposta à pergunta «porque faço isto?» (…) faço-o porque mo mandam fazer, porque é costume fazê-lo, porque me apetece. Mas se pensares uma segunda vez, a coisa já muda de figura. Faço isto porque mo mandam fazer, mas…porque obedeço eu ao que me mandam? Por medo do castigo? Por esperar uma recompensa?
E se me mandarem fazer coisas que não me parecem convenientes, como quando ordenaram ao comandante nazi que eliminasse os judeus no campo de concentração? Não poderá uma coisa ser «má» - quer dizer não me convir – por muito que me a mandem fazer, ou «boa» e conveniente mesmo que ninguém me mande que a faça?
(…) entre as ordens que nos são dadas, entre os costumes que nos rodeiam ou que nós criamos, entre os caprichos que nos assaltam, teremos aprender a escolher por nós próprios. Não podemos evitar, para sermos homens e não carneiros (peço desculpa aos carneiros), pensar duas vezes no que fazemos.”

Fernando Savater, Ética para um jovem, Ed. Presença, pág. 40-41.

O que é a ética?

Elementos de Filosofia Moral

A reflexão acerca dos problemas abordados na ética ou filosofia moral, além de ter um enorme interesse teórico, tem a vantagem de nos fazer repensar as nossas ações e as dos que nos rodeiam.

Que critério podemos utilizar para distinguir uma ação moralmente certa de uma errada?

O que significa uma pessoa ter ética ou não ter ética (uma expressão vulgarmente utilizada no dia a dia)?

O livro "Elementos de Filosofia moral", do filósofo James Rachels, é uma excelente introdução acerca de alguns dos problemas e teorias  mais relevantes desta área de estudo da Filosofia.

Para quem quer saber do que trata a ética, eis uma resposta  possível (que não é uma citação do livro referido, mas se encontra na revista de Filosofia online, Crítica):

«A ética (também chamada filosofia moral) é uma disciplina central da filosofia. Na sua acepção mais abrangente, é o estudo dos princípios que permitem a vida boa. Era esta a acepção de ética dos filósofos da antiguidade grega, como Epicuro ou Aristóteles. Mais tarde, tornou-se comum uma perspectiva mais restritiva da ética, segundo a qual esta estuda a questão de saber como temos o dever de agir. Era neste sentido que, tal como muitos filósofos contemporâneos, Kant e Mill entendiam a ética.

A ética divide-se em três grandes áreas: a metaética, a ética normativa e a ética aplicada.

Em metaética estuda-se a natureza da própria ética. Trata-se de saber qual é a natureza dos juízos éticos; por exemplo, serão os juízos éticos relativos à cultura? Será a acção intrinsecamente egoísta?

Na ética normativa estuda-se dois problemas centrais relacionados: O que é o bem último? O que é uma ação correcta? No primeiro caso trata-se de saber quais são os bens últimos, distinguindo-os cuidadosamente dos bens instrumentais. A felicidade, por exemplo, ou a vontade boa, são candidatos muito discutidos ao título de bens últimos. No segundo caso trata-se de saber o que faz uma acção correcta ser correcta. Por exemplo, será que no que respeita à correcção de uma acção tudo o que conta é as suas consequências? Ou conta também, e sobretudo, a intenção com que foi executada?

A ética aplicada é o estudo dos problemas práticos da ética; por exemplo, será sempre incorrecto fazer um aborto, seja qual for a circunstância?

As palavras “ética” e “moral” são hoje em dia geralmente usadas como sinónimas (mas não o eram por Hegel, no séc. XIX), dado que originalmente o termo latino moralis foi criado por Cícero a partir do termo mores para traduzir o termo grego ethos; e tantomores como ethos significam “costumes.”»

(Aires Almeida e Desidério Murcho, Pensar com os Filósofos)

Texto retirado daqui.