sexta-feira, 30 de março de 2012

Amigos improváveis

O filme "Amigos improváveis" estreou ontem nas salas de cinema em Portugal. Vi hoje e recomendo, vivamente, a quem gosta de cinema!

O que se passa nas cabeças das outras pessoas?

pensamento«- …Pode-se sempre correr as persianas da consciência. Nunca sabemos ao certo o que outra pessoa está realmente a pensar. Mesmo que decida contar-nos, nunca podemos saber se está a dizer-nos a verdade, ou a verdade toda. E, pelo mesmo raciocínio, ninguém pode conhecer os nossos pensamentos como nós os conhecemos.

- E provavelmente ainda bem. A vida social seria bem mais difícil de outra forma.

Exatamente. Imagine como teria sido a festa dos Richmonds se toda a gente tivesse aqueles balões por cima das cabeças, como na banda desenhada para crianças, com Pensamentos… dentro delas. - Ao dizer isto, ele crava os olhos em Helen, como se a especular sobre os pensamentos dela nesse momento.

Ela cora ligeiramente. – Suponho que é por isso que as pessoas leem romances – diz ela. Para descobrir o que se passa nas cabeças de outras pessoas.

- Mas tudo aquilo que descobrem realmente é o que se passou na cabeça do escritor.»

David Lodge, Pensamentos secretos, Edições Asa, Porto, 2002, pág. 52.

Pode ler outro interessante excerto do romance aqui, e uma boa crítica  (de Desidério Murcho) aqui.

pensamentos secretos de David Lodge

quinta-feira, 29 de março de 2012

O argumento do quarto chinês

O Quarto Chinês é uma experiência mental concebida pelo filósofo John Searle para tentar mostrar que um computador não pode pensar e refutar a ideia de inteligência artificial.

Mais informações aqui, no blogue Mente, Cérebro e Ciência, e neste divertido vídeo.

quarta-feira, 28 de março de 2012

terça-feira, 27 de março de 2012

Nada deve parecer impossível de mudar...

Bertold Brecht, dramaturgo alemão (1898-1956). Para saber mais, ver aqui.

Desconfiai do mais trivial, na aparência singelo.
E examinai, sobretudo, o que parece habitual.
Suplicamos expressamente: não aceiteis o que é de hábito como coisa natural, pois em tempo de desordem sangrenta, de confusão organizada, de arbitrariedade consciente, de humanidade desumanizada, nada deve parecer natural nada deve parecer impossível de mudar.

Bertold Brecht

Ando a ler alguns dos poemas de Brecht. Embora a exortação inicial deste poema - a recusa do ponto de vista do senso comum e o apelo à crítica - seja uma ideia difícil de recusar, o pressuposto de que no domínio social e político "nada deve parecer impossível de mudar" é bastante mais problemático. A crença nos benefícios das mudanças políticas (baseadas em ideias que se aceitam acriticamente como verdadeiras, sem discutir) pode conduzir a que não se olhem aos meios para conseguir alcançar este fim desejável. Contudo, certas revoluções, realizadas em nome de grandes ideais libertadores, não constituirão na realidade novas formas de opressão, onde apenas mudaram os opressores? Vejam-se os factos ocorridos na antiga União Soviética durante o regime comunista.

Por outro lado, mesmo em democracia, há situações que se repetem em épocas históricas diferentes e que parecem ser quase impossíveis de mudar. Por exemplo, em Portugal, a desresponsabilização de alguns políticos que, ao "esquecerem" o bem comum em nome do qual deveriam governar, lesaram os interesses do país.

Portanto, creio que Brecht não tem razão.

segunda-feira, 26 de março de 2012

Como uma baleia vê os homens

baleia«Sempre tão atarefados, e com longas barbatanas que agitam com frequência. E como são pouco redondos, sem a majestosidade das formas acabadas e suficientes, mas com uma pequena cabeça móvel onde parece concentrar-se toda a sua estranha vida. Chegam deslizando sobre o mar, quase como se fossem pássaros, e infligem a morte com fragilidade e graciosa ferocidade. Permanecem longo tempo em silêncio, mas depois entre eles gritam com fúria repentina, com um amontoado de sons que quase não varia e aos quais falta a perfeição dos nossos sons essenciais: chamamento, amor, pranto de luto. E como deve ser penoso o seu amar-se: e áspero, quase brusco, imediato, sem uma macia capa de gordura, favorecido pela sua natureza filiforme que não prevê a heróica dificuldade da união nem os magníficos e ternos esforços para a realizar.

Não gostam da água e têm medo dela, e não se percebe porque a frequentam. Também eles andam em bandos mas não levam fêmeas e adivinha-se que elas estão algures, mas são sempre invisíveis. Às vezes cantam, mas só para si, e o seu canto não é um chamamento, mas uma forma de lamento angustiado. Cansam-se depressa, e quando cai a noite estendem-se sobre as pequenas ilhas que os transportam e talvez adormeçam ou olhem para a lua. Vão-se embora deslizando em silêncio e percebe-se que são tristes.»

Antonio Tabuchi, A mulher de Porto Pim, 5ª edição, Difel, pp. 94-95.

(Antonio Tabuchi morreu hoje. Inexplicavelmente gostava de Portugal.)

sexta-feira, 23 de março de 2012

O analfabeto político

Em Portugal, a indignação em nome dos grandes princípios morais e a ideia que os males de que padece o país (na educação, na economia, etc) se devem, sobretudo, aos políticos - que são todos corruptos e incompetentes - é frequente. A discussão pública das políticas concretas pelo comum dos cidadãos e o assumir de posições públicas, já não é muito frequente.

As generalizações falaciosas sobre a incompetência dos governantes são fáceis de fazer e permitem sacudir a água do capote do comum dos cidadãos. Há muitas pessoas que são capazes de desabafar o que lhes vai na alma com os seus "amigos" do Facebook, numa conversa em tom indignado e suficientemente vago, onde ninguém se compromete com críticas fundamentadas a aspectos concretos desta governação ou da anterior. Porém, quando se trata de assumir, no local de trabalho, nas instituições aquilo que pensam, vemos - por estranho que possa parecer - que a indignação expressa nas conversas privadas se esvanece e a passividade, o seguidismo tomam o seu lugar. Na ausência de uma entidade abstrata (o sistema, os políticos, o governo...) que possa ser alvo da indignação, para muitas pessoas parece deixar de existir alguém, em concreto, a quem possa pedir-se responsabilidades pelas  decisões e ações tomadas (seja por ministros, diretores, comissões, etc). Assim, aparentemente, não há ninguém a quem possa pedir-se contas. Eu penso que é com este tipo de impunidade que muitos políticos incompetentes contam. No fundo sabem que muitas pessoas em Portugal falam, falam, mas acabam por não incomodar nada, mesmo que tenham meios (legais e outros) ao seu dispor para criticar e reclamar não os utilizam. O conformismo costuma falar mais alto.

Falo, naturalmente, da realidade que conheço: a dos professores e das escolas. E estou a pensar na aplicação de medidas políticas recentes, como por exemplo, as respeitantes à avaliação dos professores e ao novo modelo de gestão das escola (os chamados agrupamentos). Creio, no entanto, que a atitude que aqui descrevo se aplica a outras profissões e em relação às políticas dos governos (deste e dos anteriores) em geral. Isto apesar de em todos os documentos orientadores do ministério da educação (desde aos mais gerais aos mais específicos) constar este nobre objetivo: a promoção da atitude crítica (dos alunos e dos professores).

É esta a democracia que temos. É preciso dizer que se lhe falta qualidade, isso não se deve apenas ao facto de Portugal ter políticos incompetentes (isso também acontece nos outros países), mas ao facto de muitos portugueses se demitirem de discutir política (com uma certa altivez e repulsa moral pela atividade dos políticos) e não criticarem, de forma fundamentada, aqueles que os governam.

quinta-feira, 22 de março de 2012

A causalidade segundo Hume

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“Todos os nossos raciocínios relativos a questões de facto, defende Hume, se baseiam na relação de causa e efeito. Mas como chegamos ao nosso conhecimento das relações causais? (…) Ao olhar apenas para a pólvora, nunca poderíamos descobrir que é explosiva; é preciso experiência para saber que o fogo queima as coisas. Mesmo as mais simples regularidades da natureza não poder estabelecidas a priori porque uma causa e um efeito são dois acontecimentos totalmente diferentes e um não pode ser inferido do outro. Vemos uma bola de bilhar a mover-se na direcção de outra e esperamos que transmita movimento à outra. Mas porquê?

A resposta, obviamente, é que descobrirmos as regularidades da natureza através da experiência. Mas Hume leva a sua indagação mais além. Mesmo depois de termos a experiência das operações de causa e de efeito, pergunta, que bases existem na razão para inferir conclusões dessa experiência? A experiência apenas nos dá informação sobre ocorrências passadas: porque haveria de ser alargada a objectos futuros, que, tanto como sabemos, só se assemelham aos objectos passados na aparência? O pão alimentou-me no passado, mas que razões tenho para acreditar que o irá fazer no futuro?"

Anthony Kenny, Ascenção da Filosofia moderna, Edições Gradiva, Lisboa 2011, págs. 170-171.

Como se podem tentar refutar as ideias que Hume defende?

Cecília e Sophia: ainda a propósito do Dia Mundial da Poesia


Retrato

Eu não tinha este rosto de hoje
Assim calmo, assim triste, assim magro,
Nem estes olhos tão vazios,
Nem o lábio amargo

Eu não tinha estas mãos sem força,
Tão paradas e frias e mortas;
Eu não tinha este coração
Que nem se mostra.

Eu não dei por esta mudança,
Tão simples, tão certa, tão fácil:
- Em que espelho ficou perdida
A minha face?

Cecília Meireles

Coral

Ia e vinha
E a cada coisa perguntava 
que nome tinha

Sophia de Mello Breyner Andresen

quarta-feira, 21 de março de 2012

A maior alegria de todas

O poeta e argumentista Tonino Guerra morreu hoje, aos 92 anos. Eis um dos seus poemas, em que evoca o momento em que foi libertado de um campo de concentração.

A BORBOLETA

Contente mesmo contente
estive na vida muitas vezes
mas nunca como na Alemanha
quando me libertaram
e me pus a olhar uma borboleta
sem vontade de a comer

Tonino Guerra, Histórias para uma noite de calmaria, tradução de Mário Rui de Oliveira, Assírio & Alvim, pág.61.

borboleta

Abismo na primavera

Parece que hoje é o Dia Pessoal, perdão, Mundial da Poesia.

gerard castello lopes homem caminhando

Não sei. Ignoro-o.
Desconheço todo o tempo que andei
sem encontrá-la novamente.
Quem sabe um século? Talvez.
Talvez um pouco menos: noventa e nove anos.
Ou um mês. Poderia ser. De qualquer forma
um tempo enorme, enorme, enorme.
Ao fim como uma rosa súbita,
repentina campânula tremendo,
a notícia.
Saber de pronto
que ia voltar a vê-lá, que a teria
perto, tangível, real, como nos sonhos.
Que troar surdo
Rodando-me nas veias,
estalando lá em cima
sob meu sangue, em uma
noturna tempestade!
E o achado, em seguida? E a maneira
como ninguém compreenderia
que essa é nossa própria maneira?
Um roçar apenas, um contato elétrico,
um apertão conspiratório, uma olhada,
um palpitar do coração
gritando, ululando com silenciosa voz.
Depois
(já o sabeis desde os quinze anos)
esse ruflar das palavras presas,
palavras de olhos baixos,
penitenciais,
entre testemunhas inimigas,
ainda
um amor de “o amo”
de “você”, de “bem gostaria,
mas é impossível…” De “não podemos,
não, você deve pensar melhor…”
É um amor assim,
é um amor de abismo na primavera,
cortês, cordial, feliz, fatal.
A despedida, logo,
genérica,
no turbilhão dos amigos.
Vê-la partir e amá-la como nunca;
e já sem olhos seguir a vê-la ao longe,
lá longe, e ainda segui-lá
ainda mais longe,
feita de noite,
de mordida, beijo, insônia,
veneno, êxtase, convulsão,
suspiro, sangue, morte…
Feita
dessa substância conhecida
com que amassamos uma estrela.

Nicolás Guillén

Via

segunda-feira, 19 de março de 2012

A nossa escola deve agrupar-se com outras escolas ou permanecer independente?

As escolas com contrato de autonomia, como é o caso da Escola Secundária de Pinheiro e Rosa, podem não se agrupar com outras. Deve a nossa escola tentar utilizar essa prerrogativa ou prescindir dela e tentar agrupar-se com outras escolas? (Com quais não se sabe ao certo, embora haja muitas especulações.)

A última palavra é da Direção Regional, mas os órgãos da escola também têm uma palavra a dizer sobre o assunto. O Conselho Geral debaterá o assunto na próxima quarta-feira de forma a emitir um parecer com a posição da ESPR.

Qual é a sua opinião? A nossa escola deve agrupar-se com outras escolas ou permanecer uma escola independente?

Esta pergunta dirige-se a todos os membros da comunidade educativa que leiam este post: professores, alunos, encarregados de educação e funcionários.

O professor André Ramos, membro do Conselho Geral, lerá as opiniões publicadas e tentará que sejam equacionadas no referido debate.

Links sobre Kant

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Qual é o critério da moralidade?

As pessoas não são instrumentos

Devemos mentir para salvar a vida de um amigo? – Não, diz Kant (1)

Devemos mentir para salvar a vida de um amigo? – Não, diz Kant (2)

Quais são as acções que têm valor moral?

Para discutir na primeira aula de Filosofia

“Mentiras boas” e outras objecções à ética kantiana

domingo, 18 de março de 2012

O espírito da avaliação dos professores: ‘We take care of our own’

Concordo com tudo o que a Sara escreveu aqui sobre a avaliação dos professores, mas quero sublinhar uma ideia. As coisas não correram mal apenas porque o modelo era mau, mas também porque muitos dos envolvidos, nomeadamente avaliadores, não fizeram tudo o que podiam e deviam fazer em termos de procura do rigor e da objetividade. 

Conheço casos em que as classificações foram atribuídas com base nas simpatias ou antipatias pessoais dos avaliadores, a despeito das evidências existentes sobre o trabalho das pessoas avaliadas. Conheço casos em que os critérios utilizados foram concebidos ad hominem para favorecer a pessoa A em detrimento da pessoa B. Conheço casos em que, na mesma escola, avaliadores diferentes usaram graus de exigência completamente diferentes sem nunca terem aferido os seus critérios e procedimentos.

O princípio que presidiu ao trabalho de alguns avaliadores foi: “We Take Care Of Our Own”, como se diz na bonita canção de Bruce Springsteen. O modelo de avaliação inventado pelos governos anteriores não ajudou, mas a responsabilidade pelas injustiças existentes nesses casos é dos avaliadores (os chamados relatores que assistiram a aulas e outras pessoas que integraram comissões em que se conceberam critérios de avaliação e se avaliaram relatórios). Algumas dessas pessoas revelaram uma enorme falta de profissionalismo e de honestidade.

Como disse, conheço casos. Gostava de os apresentar ao Ministério da Educação, se os seus responsáveis estivessem interessados em avaliar a avaliação que foi feita, mas já se percebeu que não estão.

Porque é que a avaliação dos professores não foi avaliada?

Numa altura em que nas escolas e no Ministério da Educação e da Ciência se prepara a aplicação do novo modelo de avaliação dos professores (ver aqui a legislação agora em vigor e o novo estatuto da carreira docente), há uma coisa que salta à vista: a avaliação dos professores não foi avaliada.

Porque motivo o atual ministério não apresentou publicamente um balanço dos resultados obtidos com a aplicação do modelo de avaliação de professores anterior, agora revogado?

O que é que correu bem? O que é que correu mal? Qual foi o seu grau de eficácia? Quais as principais dificuldades detetadas na sua implementação? Qual o grau de credibilidade das classificações atribuídas? Qual foi o feedback dos professores avaliados quanto às classificações que lhes foram atribuídas? Quantas reclamações existiram?

Como é que se pode mudar o modelo anterior e implementar outro, sem fazer um balanço em que se responda a estas questões e se faça uma avaliação crítica dos resultados obtidos? Onde está o rigor e a transparência que o ministro Nuno Crato, antes de ser ministro, não se cansava de invocar?

Como se justifica, então, a introdução de mudanças no modelo anterior? E serão, de facto, as alterações introduzidas relevantes ou pura cosmética que permitirá que tudo continue a ser como até aqui?

Curiosamente, apesar de, em privado, muitos professores declararem a sua insatisfação com os modelos de avaliação socráticos e enumerarem exemplos de muitas injustiças a que este deu azo, poucos são os professores que assumem em público o que pensam.

Mas eu percebo porquê. As escolas são estruturas hierárquicas, onde o respeitinho é muito bonito e ideia da crítica e discussão poderem ser utilizadas para melhorar o que funciona mal é só para constar nos decretos do ministério. Na prática, fazê-lo poderá ser prejudicial, em termos pessoais e profissionais, para quem o faz. As escolas deixaram de ser sítios onde o que se diz e faz pode ser livremente discutido. É preciso pensar, com cuidado, com quem nos relacionamos, o que dizemos, o que fazemos e, naturalmente, nas relações pessoais e profissionais que estabelecemos. Os chamados aspetos  relacionais e éticos - éticos... - tal como no anterior modelo de avaliação continuam a ser contemplados no novo modelo de avaliação: 20% (da avaliação final) continua a ser respeitante à “participação na escola e relação com a comunidade”. Portanto, não basta investir na competência científica e pedagógica… É preciso investir nas relações interpessoais certas, pois destas depende – muitas vezes ou quase sempre – o convite para cargos, para a participação em projetos e outras atividades (é claro que, embora seja assim, não fica bem dizê-lo!). Portanto, na prática os que forem mais subservientes e fizerem menos ondas têm à partida mais hipóteses. Ou seja: quem não der graxa não se safa!

Sou apologista da avaliação dos professores e defendo que, tal como em qualquer outra profissão, é necessário distinguir os desempenhos e reconhecer o mérito dos profissionais realmente meritórios. Porém, depois de ter constatado a grotesca caricatura de “rigor, objetividade, imparcialidade e justiça” que alguns avaliadores, utilizaram no modelo anterior, não posso deixar de continuar a questionar-me e questionar o ministro Nuno Crato:

Como é que se avalia, no novo modelo, a dimensão da “participação na escola e relação com a comunidade”? Que instrumentos irão os avaliadores utilizar para distinguir as atividades em que um professor participa - e que são científica e pedagogicamente relevantes - das atividades folclóricas destinadas à mera promoção pessoal e ao interesse próprio? Como evitar a falta de transparência e de imparcialidade por parte dos avaliadores? Como evitar as injustiças decorrentes de critérios díspares aplicados por avaliadores dos diferentes departamentos numa mesma escola e os avaliadores de escolas diferentes?

Em suma: como evitar o descrédito, a sensação de injustiça e de falta de transparência de tudo isto a que agora se chama “avaliação de professores”? E que foi, em vez da promoção da qualidade do ensino, o principal resultado da avaliação feita no ano passado…

Creio que uma parte da resposta é: uniformizar e objetivar critérios e tornar todos os dados relativos à avaliação de cada professor (incluindo o relatório apresentado), obrigatoriamente, públicos. Um forte argumento a favor da transparência é que os outros professores da escola (à semelhança do que acontece com os alunos em sala de aula) devem conhecer e aprender com os colegas a quem são atribuídas classificações mais elevadas. Note-se que atualmente nem sequer as classificações atribuídas são divulgadas. Outra parte da resposta, entre várias outras que não posso agora desenvolver, é ligar a avaliação dos professores à avaliação externa dos alunos através de exames nacionais exigentes e pedagogicamente corretos.

Para terminar: um dos motivos, entre outros certamente, pelos quais a avaliação dos professores não foi avaliada é o facto de alguns dos avaliadores serem piores que os seus avaliados. Uma das várias provas que há desse facto é que alguns avaliadores avaliaram os colegas sem eles próprios terem sido avaliados nas aulas (assistiram às aulas dos outros e avaliaram-nas e não pediram para as suas serem assistidas e avaliadas).

Sinto sempre que me falta fazer qualquer coisa

Vale a pena ler, no blogue Delito de Opinião, o testemunho da filha de uma professora sobre a sua mãe (ver aqui). Também publicado no blogue De Rerum Natura (ver aqui).

Impressiona pela autenticidade e infelizmente também porque faz um retrato real das condições de trabalho que são dadas, atualmente, aos aos professores nas escolas secundárias (e presumo que nas outras). Como comentava uma colega minha: "sinto sempre que me falta fazer qualquer coisa, mesmo que passe os fins de semana a trabalhar". O problema principal é que este qualquer coisa que falta, muitas vezes, não tem nada a ver com estudar ou preparar aulas, mas sim com tarefas burocráticas e informações legais sem fim de que é preciso ter conhecimento, relatórios que é preciso apresentar, atas que é preciso fazer, informações que é preciso dar, etc.

Os professores, para cumprir tudo o que lhes exigem diariamente (incluindo uma intensa participação em atividades que nada têm a ver com as aulas), tornaram-se escravos, sem direito a fins de semana (basta pensar se tiverem 4, 5 ou 6 turmas, por exemplo, na quantidade de testes que levam horas a elaborar e a corrigir), não é suposto terem vida pessoal, nem direito a usufruir daquilo que os poderia fazer dar melhores aulas: ler livros atualizados das disciplinas que lecionam, conhecer práticas pedagógicas novas (e ter tempo para as aplicar), ver filmes, ouvir música e por ai adiante.

Seria interessante o ministro Nuno Crato informar-se e informar-nos: Quantos professores colocaram baixas médicas? Quantos pediram reformas antecipadas? E quantos o fizeram por motivos relacionados com a sua saúde mental: por cansaço, por não conseguirem fazer face às exigências absurdas que lhes colocam, pelo desrespeito com que são tratados pelos alunos, pela desmotivação provocada pelo facto de sentirem que na sala de aula fazem tudo menos ensinar. Eu conheço vários.

Os dois governos de Sócrates fizeram um mal profundo à educação em Portugal e destruíram a vida de muitos professores, como a professora referida neste testemunho. Alguns deles tinham dedicado a sua vida a ensinar, eram competentes, experientes e foram tratados de um modo absurdo e desrespeitoso. E o que ganhou a qualidade da educação em Portugal com estas políticas implementadas pelos anteriores governos?

NADA. É preciso dizê-lo publicamente para que quem continua a afirmar  o contrário possa ter oportunidade de o demonstrar.

sexta-feira, 16 de março de 2012

O sonho de António Machado

image Uma fotografia do filme, Le vieil homme et l`enfant (O velho e a criança), de Claude Berri (França, 1967).

A minha colega Sara Carvalho, professora de Português - a quem agradeço - deu-me a conhecer um belíssimo poema de António Machado (segue-se o original e a tradução portuguesa).

Ei-lo:

Era un niño que soñaba
un caballo de cartón.
Abrió los ojos el niño
y el caballito no vio.
Con un caballito blanco
el niño volvió a soñar;
y por la crin lo cogía...
¡ Ahora no te escaparás!
Apenas lo hubo cogido,
el niño se despertó.
Tenia el puño cerrado.
¡ El caballito voló!
Quedóse el niño muy serio
pensando que no es verdad
un caballito soñado.
Y ya no volvió a soñar.
Pero el niño se hizo mozo
y el mozo tuvo un amor,
y a su amada le decía:
¿ Tú eres de verdad o no?
Cuando el mozo se hizo viejo
pensaba: todo es soñar,
el caballito soñado
y el caballo de verdad.
Y cuando vino la muerte,
el viejo a su corazón
preguntaba: ¿ Tú eres sueño?
¡ Quién sabe si despertó!

O sonho

Era um menino a sonhar
com um cavalo de cartão.
O menino abriu os olhos
e não viu o cavalinho.
Com um cavalinho branco
ele voltou a sonhar;
pelas crinas o prendia...
Assim não te escaparás!
Mal o conseguiu prender,
logo o menino acordou.
Tinha a sua mão fechada.
O cavalinho voou!
O menino ficou sério,
pensando não ser verdade
um cavalinho sonhado.
Já não voltou a sonhar.
E o menino fez-se moço
e o moço teve um amor,
e dizia à sua amada:
Tu és de verdade ou não?
Quando o moço se fez velho
pensava: Tudo é sonhar,
o cavalinho sonhado
e o cavalo de verdade.
E quando chegou a morte,
o velho ao seu coração
perguntava: Tu és sonho?
Quem saberá se acordou!

Antologia poética de António Machado, tradução José Bento, Editorial Cotovia.

quinta-feira, 15 de março de 2012

terça-feira, 13 de março de 2012

Tem razão quem se apoiar nas melhores razões

diálogo e debate de ideias entre diferentes culturasContrariamente ao que algumas pessoas pensam, afirmar que existem juízos morais objetivos (e recusar, portanto, o relativismo e o subjetivismo na moralidade) não é sinal de arrogância intelectual nem de dogmatismo. Defender essa ideia não consiste em dizer “nós – as pessoas que partilham a cultura X - estamos certos e eles estão errados” ou sequer “eu estou certo e tu estás errado”, mas sim que é possível alguém estar objetivamente certo e alguém estar objetivamente errado – nós ou eles, eu ou tu. Ou seja: não se trata de defender que nós é que temos a verdade no bolso ou que eu é que sei tudo, mas sim de recusar a ideia de que nenhum dos lados pode estar errado. Com efeito, segundo algumas teorias éticas (relativismo moral cultural e subjetivismo moral) em relação aos assuntos morais não pode haver verdades objetivas mas apenas verdades relativas – à cultura ou ao indivíduo; pelo que dois juízos morais opostos podem ser ambos verdadeiros (um é verdadeiro para X e o outro é verdadeiro para Y, mas nenhum deles é verdadeiro em si mesmo).

Defender a objetividade dos juízos morais envolve também a ideia de que o lado que está certo está certo porque os seus juízos morais estão melhor justificados, independentemente dos desejos, sentimentos e costumes das pessoas envolvidas. Tem razão quem se apoiar nas melhores razões. E essa justificação pode ser compreendida e aceite por pessoas com personalidades e culturas diferentes umas das outras.

Se pensarmos em juízos morais como “as mulheres devem ter direitos semelhantes aos homens” ou “a tortura é errada”, podemos plausivelmente dizer que as pessoas que os consideram verdadeiros estão certas e que as pessoas que os consideram falsos estão erradas, pois existem razões fortes a favor desses juízos.

Se pensarmos em juízos morais como “o aborto é sempre errado” ou “o aborto é correto em certas situações”, temos de ser mais cautelosos, uma vez que mesmo entre os maiores especialistas existem divergências profundas sobre esse problema e está em disputa qual dos juízos é realmente verdadeiro. Contudo, se defendermos o objetivismo moral podemos acrescentar: não podemos garantir qual dos juízos é verdadeiro, mas um deles é verdadeiro e o outro falso. E é precisamente por isso que esse problema é tão debatido: para tentar estabelecer qual é a verdade acerca dele.

A  respeito desta questão pode ver também os posts:

Objectivismo Moral

Haverá provas em ética?

A divergência de opiniões é incompatível com a objetividade?

Defender a objetividade não significa que se seja dogmático.

Ser livre, independente e ter opinião.

Há em Portugal instituições cujo mérito - na divulgação do conhecimento, da informação e na promoção do debate público - é indiscutível. A Fundação Francisco Manuel dos Santos é uma delas.

Este vídeo de promoção é excelente: pelas ideias que defende e também do ponto de vista estético.

Vale a pena procurar e utilizar o conhecimento que a fundação coloca ao alcance de todos! Pois, para ter opinião é preciso ter antes informação.

segunda-feira, 12 de março de 2012

Erros do facilitismo

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"O aluno a quem não se exige nunca que faça aquilo que não é capaz de fazer, não faz nunca aquilo que é capaz de fazer."

John Stuart Mill

(Via De Rerum Natura.)

domingo, 11 de março de 2012

Qual é, afinal, a tradição?

emoSegundo uma notícia da TSF, no Iraque, “pelo menos 15 adolescentes foram mortos por se vestirem de maneira considerada desviante”. Esses jovens eram adeptos do estilo emo.

Mesmo que as sociedades fossem culturalmente homogéneas, a tese do relativismo moral cultural segundo a qual “moralmente correto” equivale a “socialmente aprovado numa determinada sociedade” prestar-se-ia a várias objeções.

Contudo, no mundo atual – em que os meios de transporte e os meios de comunicação social, como a TV e a Internet, permitem contactos constantes entre os indivíduos das mais diversas sociedades - pouquíssimas sociedades são culturalmente homogéneas. Se o critério do certo e do errado reside na aprovação social que devem fazer os indivíduos que pertencem simultaneamente a grupos sociais com valores e normas diferentes? Se cada grupo aprova valores e normas diferentes e cria tradições diferentes, qual é afinal a tradição que conta? O relativismo cultural não tem nenhuma resposta plausível para essa questão, tal como não permite justificar a censura destes assassinatos (perpetrados em nomes dos valores da maioria). Boas razões, portanto, para rejeitar essa teoria.

Bach na floresta

Este vídeo contém um anúncio publicitário a um telemóvel japonês chamado Touch Wood. “A agência publicitária montou uma espécie de xilofone gigante no meio da floresta, e a ação se desenrola ao som de Jesus bleibet meine Freude da cantata nº 147 (Herz und Mund und Tat und Leben) de Johann Sebastian Bach.” (Fonte: De Rerum Natura.)

Para comparar, eis o original.

sábado, 10 de março de 2012

Links para o 4º teste do 10º ano

Ética

Qual é, afinal, a palavra de Deus?

Subjetivismo moral: a moralidade é algo muito pessoal

O querido Eu terá assim tanto poder?

Uma tradição admissível, segundo os relativistas culturais

O bem e o mal dizem apenas respeito à sociedade e à cultura?

Enterrar viva uma pessoa é errado ou isso é relativo?

Será intolerante criticar os ‘crimes de honra´?

Qual é, afinal, a tradição?

Objectivismo Moral

Subjectivismo moral (3): Haverá provas em ética?

Tem razão quem se apoiar nas melhores razões

A divergência de opiniões é incompatível com a objetividade?

Opcionais:

A defesa dos direitos humanos e do relativismo cultural serão compatíveis?

A ideia de que todas as ideias são preconceituosas não será também preconceituosa?

A excisão genital feminina: o testemunho de Waris Dirie

Se há valores morais objetivos, pode-se defender os direitos humanos

Defender a objetividade não significa que se seja dogmático

Matriz do 4º teste de Filosofia (turmas A, C e D do 10º)

Matriz 4º teste filosofia 10º ano teorias éticas C12

sexta-feira, 9 de março de 2012

Diana Krall

Para estudar as teorias éticas de Kant e Stuart Mill

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 A imagem foi tirada daqui.

A. Links para textos e fichas de trabalho do Dúvida Metódica:

  1. Cumprir o dever pelo dever: um exemplo
  2. Agir bem para evitar problemas
  3. Quais são as ações que têm valor moral?
  4. Qual dos personagens, o Calvin ou a Susie, está a agir de acordo com o princípio kantiano da moralidade?
  5. As pessoas não são instrumentos
  6. Como se formula, na linguagem de Kant, o princípio que o Manelinho encontra escrito no livro?
  7. Devemos mentir para salvar a vida de um amigo? – Não, diz Kant (1)
  8. Devemos mentir para salvar a vida de um amigo? – Não, diz Kant (2)
  9. Três minutos com Kant
  10. “Mentiras boas” e outras objeções à ética kantiana
  11. Qual é o critério da moralidade?
  12. O utilitarismo: ideias básicas
  13. Argumentos contra o utilitarismo

B. Exercícios para resolver e questões para discutir:

As teorias éticas de Kant e Stuart Mill: ideias fundamentais

Ética: fichas de trabalho sobre Kant e Stuart Mill

Dilema ético em BD: Fox Trot

Dilema ético em BD: Zits

Para discutir na primeira aula de Filosofia

Qual é a ação correta?

Enganar por amor

Bem-vindos à discussão dos problemas filosóficos :)

Preparação para o teste intermédio de Filosofia - 2

Teste intermédio de Filosofia: enunciado, resolução e critérios de correcção

C. Para os mais curiosos, que querem saber ainda mais sobre Kant e Mill, sugiro links para alguns dos artigos disponíveis na Crítica, revista de Filosofia online (estas leituras não são obrigatórias para o teste).

A ética de Kant
A teoria moral de Kant
A ética de John Stuart Mill
John Stuart Mill (1806–1873)

Bom estudo! :)

quinta-feira, 8 de março de 2012

Elas e ela

Caminhar sobre as pedras

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

No Dia Internacional da Mulher, deixo uma sugestão: a leitura de um artigo do jornal Público de ontem sobre um estudo realizado pelo INE (Instituto Nacional de Estatística) acerca da situação das mulheres portuguesas.

"As mulheres portuguesas são mais pobres, porque têm taxas de desemprego mais elevadas. Vivem mais, em média até aos 82 anos, e têm filhos cada vez mais tarde. As que estão presas têm vindo a diminuir, mas aumentam as que são vítimas de crimes. Em profissões como a Medicina estão em maioria, como, de resto, entre a população: são 5,5 milhões, ou seja, 52,2% portuguesa. Eis um retrato estatístico no feminino.
Na véspera do Dia Internacional da Mulher, o Instituto Nacional de Estatística (INE) pôs-se a fazer as contas no feminino e concluiu, por exemplo, que a relação de feminilidade se alterou na última década: passou de 107,1 para 109,2 mulheres por cada cem homens. O maior aumento foi no grupo etário dos 75 e mais anos: em dez anos passamos a ter mais 27,3% de mulheres nessa faixa etária.
Em 2010, a idade média das mulheres ao primeiro casamento era de 29,2 anos. Antes disso, têm o primeiro filho - aos 28,9 anos - o que traduz um adiamento da maternidade em 2,4 anos face ao que se passava em 2000. Eventualmente porque têm menos filhos (1,37 crianças em 2011), as mulheres representam 63,8% da população que vive só."

Para continuar a ler este artigo do jornal Público, pode ver AQUI.

quarta-feira, 7 de março de 2012

A divergência de opiniões é incompatível com a objetividade?

Para defender a ideia de que os juízos morais são subjetivos argumenta-se que as pessoas, individualmente consideradas, discordam imenso acerca deles. Para defender a ideia de que os juízos morais são culturalmente relativos argumenta-se que as diversas sociedades têm normas e valores morais muito diferentes. E em ambos os casos nega-se que existam verdades objetivas na ética.

Contudo, o facto de em relação a um assunto Y existirem divergências de opinião implicará que não possam existir verdades objetivas acerca de Y? Esse facto implicará que os juízos feitos acerca de Y sejam subjetivos ou então culturalmente relativos? Esse facto impedirá que se possam avançar ideias acerca de Y compreensíveis e aceitáveis em qualquer sociedade e por qualquer indivíduo capaz de pensar?

Suponha que Y é uma questão científica como, por exemplo, a idade do planeta Terra ou a causa da SIDA. Depois, suponha que Y é uma questão ética como, por exemplo, a excisão ou a violência doméstica. Há, naturalmente, bastantes diferenças entre a ciência e a ética, mas serão elas suficientes para impedir que as respostas às perguntas anteriores sejam semelhantes quer Y seja um assunto científico quer Y seja um assunto ético?

mulher ocidental e mulher muçulmana

Porquê ler?

utilidade dos livros

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segunda-feira, 5 de março de 2012

Estudar para o 4º teste do 11º ano: os céticos, Descartes e Hume.

Seguem-se links para textos e outro tipo de recursos existentes no Dúvida Metódica sobre o cepticismo, Descartes e David Hume. 

Bom estudo! :)

1. Cepticismo radical:

Textos sobre o cepticismo

Uma dúvida inspiradora para os alunos do 11º ano

2. Descartes:

A dúvida metódica (este deveria ter sido o primeiro post deste blogue)

Um mar de dúvidas

Razões para duvidar, segundo Descartes

Como é que Descartes pretendeu ultrapassar o ponto de vista dos cépticos

O solipsismo e a necessidade de Deus no sistema cartesiano

Descartes: argumentos para provar a existência de Deus

A objecção de Kant ao argumento ontológico: a existência não é um predicado

O argumento ontológico: diálogo entre um crente e um ateu

Objecção ao argumento da marca: criar a ideia de perfeição é diferente de criar a própria perfeição

O “Deus dos filósofos” e o “Deus da fé”

Críticas a Descartes: Ficha de trabalho

Descartes e a Matemática

Os conceitos cartesianos de intuição e dedução

A matemática é a priori mas não é inata

Cartoons cartesianos

Como aplicar ideias da Física ao marketing

3. David Hume:

Impressões e ideias

Cegos que começam a ver: impressões e ideias

Como se originou, segundo Hume, a ideia de Deus?

O problema da causalidade

A crença na causalidade é instintiva

As superstições e a crítica de Hume à ideia de causalidade

A minha vida é real: conhecimento ou mera crença?

4. Testes de Filosofia aplicados no ano letivo anterior.

Testes de Filosofia do 11º ano aplicados no 2º período

Matriz do 4º teste do 11º ano: turmas C, D e F

2011-12 11º ano Matriz do 4º Teste

Dilema ético em BD: Fox Trot

Dilema ético em BD (Fox Trot)

Dilema ético em BD: Zits

Dilema ético em BD (Zits)

domingo, 4 de março de 2012

O soave fanciulla, o dolce viso…

Rolando Villazón e Anna Netrebko, cantando ‘O soave fanciulla’ da ópera ‘La bohème’, de Puccini.