segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Subjetivismo moral: a moralidade é algo muito pessoal

EU«Segundo o subjetivismo moral, na ética só há opiniões pessoais e não verdades universais; cada um tem a sua “verdade”. Para os subjetivistas, os juízos morais descrevem apenas os nossos sentimentos de aprovação ou reprovação acerca do das pessoas e daquilo que elas fazem. O certo e o errado dependem, portanto, dos sentimentos de cada um. Assim, quando afirmamos que uma acção é errada estamos apenas a dizer que temos sentimentos negativos em relação a ela.»

Aires Almeida e outros, Arte de Pensar – 10º ano, vol. 1, Didática Editora, Lisboa, 2007, pág. 106.

Assim, um juízo moral é verdadeiro se estiver de acordo com os sentimentos de uma pessoa. Só é falso se não estiver de acordo com esses sentimentos.

Ou seja: dizer “X é correto” significa “gosto de X” ou “aprovo X”; dizer “Y é incorreto” significa “não gosto de Y” ou “desaprovo Y”.

Um exemplo.

Se a Maria Felismina sente repulsa pelo sofrimento dos animais, dirá: “fazer sofrer os animais é moralmente errado” e, para ela, esse juízo é verdadeiro. Se a Leopoldina não sente essa repulsa nem outro sentimento negativo e pelo contrário gosta de caçar e de usar casacos de peles, dirá “fazer sofrer os animais não é moralmente errado” e, para ela, esse juízo é verdadeiro.

Segundo o subjetivismo moral, têm ambas razão – cada uma delas tem a sua verdade. O juízo de uma não vale mais que o juízo da outra. Trata-se de duas perspetivas igualmente “válidas” sobre o assunto. Nos temas éticos não há lugar para uma verdade objetiva e universal, face à qual se pudesse dizer que o juízo contrário é falso.

Fazer sofrer os animais não é mau ou bom em si mesmo. Nada é bom ou mau em si mesmo, mas apenas em relação aos sentimentos de uma certa pessoa. E, como os sentimentos são subjetivos e variam imenso de pessoa para pessoa, uma mesma ação pode ser má para uma pessoa e boa para outra. E, como foi dito, ambas têm razão.

Essa maneira de pensar é defendida por algumas pessoas, porque parece favorecer a liberdade de cada pessoa, ao sustentar que ninguém deve impor aos outros as suas convicções morais; e porque parece promover a tolerância entre pessoas com convicções morais diferentes. Contudo, podem levantar-se contra ela várias objeções muito fortes. Quais?

Leituras:

Aires Almeida e outros, Arte de Pensar – 10º ano, vol. 1, Didática Editora, Lisboa, 2007.

Harry Gensler, “Ética e subjetivismo” – Crítica, Revista de Filosofia: http://criticanarede.com/fil_subjectivismo.html

1 comentário:

Francisco Vieira disse...

Concordo em absoluto com a citação inicial proposta. É por isso que dificilmente se encontrará, não obstante as várias tentativas nesse sentido, uma ética universal.

Todas as propostas de definição e conduta são pessoais e como tais subjectivas e, assim, a união ou a soma de todas elas. só poderá criar uma mais forte mas sempre subjectiva.

Só quando nos colocamos num plano não pessoal, portanto, não subjectivo, será possível, apresentar e propor uma ética universal aceite por todos, ou pelo menos, pela maioria.

O problema, prático, é que tal impessoalidade é difícil de alcançar, de imediato, e a maior parte dos interessados e, sobretudo, os beneficiários, dificilmente estão disponíveis para aceitar e por em prática, porque isso apresenta, sugere ou impõe uma conduta pessoal que a maioria não quer, porque não está em condições de poder aceitar.

Nestes termos, e com o homem, ou melhor, com os níveis de consciência do homem actual é difícil vislumbrar, a curto ou a médio prazo, alguma alteração substantiva que gere, de facto, mudança, de pensamentos, logo de acções.

O que nos remete, para (um)a ética subjectiva, aquela que cada um está interessado ou pode aspirar sem se violentar na sua prossecução.

Estamos num impasse? Creio que sim. Creio ainda que a mudança só poderá acontecer quando a maioria "despertar" despertado de uma minoria ter "despertado" e proposto (um)a ética não pessoal nem subjectiva. Então, sim, estaremos perante uma ética universal.

Impõe-se um novo paradigma.

Para sermos ou querermos ser éticos temos de nos interessar pela ética e quando o fazemos já estamos a começar a ser éticos. Entrámos no caminho...