domingo, 27 de fevereiro de 2011

Um mar de dúvidas

“A meditação que fiz ontem mergulhou-me em tamanhas dúvidas que não as posso esquecer mais, nem vejo como se podem resolver. Como se tivesse caído inesperadamente num redemoinho de águas profundas, estou tão perturbado que não posso pôr pé firme no fundo, nem nadar para a superfície. Contudo, esforçar-me-ei e tentarei de novo (…)”.

Descartes, Meditações sobre a Filosofia Primeira, tradução de Gustavo de Fraga, Livraria Almedina, Coimbra, 1985, pág. 117.

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Nós…

… os habitantes do 3º calhau a contar do Sol, mais conhecido por Terra, somos bastante parecidos uns aos outros.

As belas imagens deste vídeo sugerem que, embora existam muitas diferenças entre os seres humanos, também existem bastantes semelhanças e alguns interesses e valores universais. Por isso, talvez seja possível que ideias como democracia e direitos humanos um dia destes possam ser postas em práticas em lugares como a Tunísia, o Egipto e a Líbia. Porque a democracia e os direitos humanos, embora tenham surgido na Europa, não são ideias europeias – mas sim humanas.

Referi a Tunísia, o Egipto e a Líbia porque nesses países ocorreram recentemente revoluções que derrubaram ditadores (na Líbia a queda do ditador ainda não ocorreu, mas tudo indica que isso acontecerá em breve), embora ainda não seja certo se o regime político que lhes sucederá será uma democracia ou uma nova ditadura, eventualmente de carácter religioso.

Human Planet, vídeo da BBC

Vídeo encontrado aqui.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Cartoons cartesianos

Descartes revisitado
Para perceber o sentido de humor destes cartoons convém conhecer algumas das ideias filosóficas defendidas por Descartes.
Assim, agora que já terminamos o estudo da filosofia cartesiana, podem escolher um deles e esclarecer-me: afinal, qual é a piada?

Frank_and_Earnest_Descartes_12-15-07 Sou rico, logo existo

Outros cartoons cartesianos no Dúvida Metódica:

1. Provar a existência de Deus a partir de uma ideia: uma piada de mau gosto?

2. A esposa de Descartes

3.  Versão materialista do "Penso, logo existo"
4. Uma dúvida existencial e uma certeza póstuma

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

O “Deus dos filósofos” e o “Deus da fé”

image Blaise Pascal (matemático e filósofo).

“É o coração que sente Deus e não a razão. Eis o que é a fé: Deus sensível ao coração, não à razão.”

Pascal, Pensamentos, Editions du Seuil, Paris, 1967.

A afirmação de Pascal pode ser entendida como uma crítica a Descartes. Explique porquê.

Críticas a Descartes: Ficha de trabalho

Ficha de trabalho 11º ano - críticas a Descartes

Descartes: argumentos para provar a existência de Deus.

1 – O argumento da marca

“Olhando para o seu próprio ‘eu’, que é tudo o que lhe resta neste momento, Descartes descobre que tem uma ideia de perfeição. Argumenta, então, que uma tal ideia implica uma causa. No entanto, a coisa que originou essa ideia deve possuir tanta ‘realidade’ como ela, e isso inclui a perfeição. Isto implica que só uma causa perfeita, isto é, Deus, pode servir. Por isso, Deus existe e legou-nos a ideia de perfeição como um sinal inato da sua acção nas nossas mentes, assim como um artesão deixa a sua marca gravada no seu trabalho.”

Simon Blackburn, Pense – Uma Introdução à Filosofia, Gradiva, 2001, pág. 42.

2 – O argumento ontológico

“O argumento ontológico é uma tentativa de mostrar que a existência de Deus se segue necessariamente da definição de Deus como o ser supremo. Porque esta conclusão pode ser retirada sem recorrer à experiência, diz-se que é um argumento a priori.

De acordo com o argumento ontológico, Deus define-se como o ser mais perfeito que é possível imaginar; ou, na mais famosa formulação do argumento, a de Santo Anselmo (1033-1109), Deus define-se como “aquele ser maior do que o qual nada pode ser concebido”. A existência seria um dos aspectos desta perfeição ou grandiosidade. Um ser perfeito não seria perfeito se não existisse. Consequentemente, da definição de Deus seguir-se-ia que Deus existe necessariamente, tal como se segue da definição de um triângulo que a soma dos seus ângulos internos será de 180 graus.

Este argumento, que tem sido usado por muitos filósofos, incluindo René Descartes (1596-1650), na quinta das suas meditações, não convenceu muita gente; mas não é fácil de ver exactamente o que há de errado nele.”

Nigel Warburton, Elementos Básicos de Filosofia, 2ª edição, 2007, Lisboa, pp. 40-41.

O solipsismo e a necessidade de Deus no sistema cartesiano

Fiz, para utilizar nas aulas, uma sistematização de algumas das ideias fundamentais  da filosofia cartesiana.

Descartes - síntese.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Ética: fichas de trabalho sobre Kant e Stuart Mill

Luís Rodrigues mandou-nos por email diversos materiais para o ensino da filosofia da sua autoria. Dada a qualidade e interesse dos mesmos divulgaremos alguns no Dúvida Metódica. O nosso obrigado ao Luís pela generosa partilha!

Para começar, publicamos duas fichas sobre as teorias éticas de Kant e de Stuart Mill. Esperemos que ainda vão a tempo de ajudar os alunos e os professores envolvidos na preparação do teste intermédio.

Luís Rodrigues é professor na Escola Secundária Professor Reynaldo dos Santos, de Vila Franca de Xira, e é autor, entre outras obras, de manuais de Filosofia para o 10º e 11º anos. É dele o manual de Filosofia adoptado na nossa escola para o 10º ano (cujo site é O Laboratório do Pensamento).

 

A TEORIA ÉTICA DE KANT - QUESTÕES DE ESCOLHA MULTIPLA e Correcção

A TEORIA ÉTICA DE MILL – O UTILITARISMO - QUESTÕES DE ESCOLHA MÚLTIPLA e correcção

 

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Mais preparação para o teste intermédio de Filosofia

No próximo dia 22 realizar-se-á o teste intermédio de Filosofia do 10º ano. Se as coisas não correrem bem, a causa não será a falta de instrumentos de estudo, uma vez que têm vindo a público diversos materiais úteis tanto para alunos como para professores.

Esperemos que a vagueza do programa de Filosofia e a falta (da responsabilidade do Ministério) de orientações claras para a sua gestão  não traia esse esforço. Teste intermédio de filosofia 10º

A Porto Editora publicou recentemente a obra Testes Intermédios - Filosofia - 10.º ano, de Pedro Galvão e Paula Mateus.

Limitei-me a folhear e ainda não li, mas, tendo em conta que os autores são co-autores dos manuais Arte de Pensar, a expectativa de que se trata de uma obra competente e útil é muito plausível.

Na Internet também se podem encontrar diversos materiais úteis. Além das Fichas que a Sara publicou no Dúvida Metódica (aqui e aqui), vale a pena consultar esta proposta de trabalho de Carlos Café.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Contra a discriminação ou a promoção da homossexualidade?

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O leitor André, no post anterior, chamou a  atenção para uma notícia do jornal Público que vale a pena ler.

Dado que este ano lectivo alguns professores, em cada conselho de turma,  têm - obrigatoriamente - de abordar temas relacionados com a Educação sexual, faz todo o sentido reflectirmos a propósito do assunto discutido na notícia e da questão colocada:

O tipo de campanha noticiada no jornal baseia-se em pressupostos ideológicos que visam promover a homossexualidade ou, pelo contrário, promove a igualdade e a não discriminação? 

Os cartazes desta  campanha deveriam ser afixados em todas as escolas públicas? Porquê?

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

O papel da imagem na sociedade actual

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Para quem quer e pode (entenda-se, não é professor do ensino secundário): este colóquio terá lugar hoje, dia  17 e nos dias 18 e 19 na Fundação Calouste Gulbenkian. Para saber mais: aqui.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Amor e desamor

No Dia dos Namorados, e para quem precisa de um dia especial para comemorar o amor ou relembrar o desamor, dois presentes para os leitores (ambos belíssimos, na minha modesta opinião): uma famosa fotografia de Elliott Erwitt e um poema de Vinicius de Moraes (cantado pelo próprio e por Toquinho).

Elliott Erwitt, Kiss Fotografia de Elliott Erwitt: "California kiss", Santa Mónica, Califórnia, 1955.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

É tudo relativo…não é?

image Mais informações sobre este livro aqui.

«O sofista da Grécia antiga, Protágoras, é visto como a principal fonte do relativismo (…). “O homem é a medida de todas as coisas”, diz. A sua posição é que a verdade o é para alguém. Não existe nenhuma verdade e ponto final. Uma resposta rápida (e correcta) é questionar o status da afirmação de Protágoras – tal como devíamos questionar qualquer afirmação que defenda o relativismo. “Todas as verdades são relativas”. Isso é relativo ou não? Se não for, então é uma auto-refutação, por isso devíamos rejeitá-la. Se for, devíamos responder: “Isso está tudo muito certo, senhor Protágoras, mas porque haveríamos de ter em conta o que diz? Afinal, o senhor está apenas a falar de como as coisas lhe parecem a si, não como elas são”.

O senhor Protágoras bate com os pés e grita: “Mas eu sou o grande Protágoras que pensou nestas coisas e viu…” Aqui hesita – o que tem de dizer para nos influenciar não consegue dizê-lo com consistência, pois tem de dizer que os seus argumentos são melhores do que os dos outros e não é assim apenas relativamente a si. Tem de dizer que viu… ahm… ahm a verdade. Ponto final.»

Peter Cave, Duas vidas valem mais do que uma?, Academia do livro, tradução de Maria A. Campos, Lisboa, 2008, pág. 88-89.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Argumentos contra o utilitarismo

1. Direitos.

“(…) Suponhamos que um voyeur espiava secretamente a senhora York espreitando pela janela do seu quarto, e secretamente lhe tirava fotografias quando ela estava despida. Suponhamos ainda que fazia isto sem se denunciar e usava as fotografias apenas para o seu prazer pessoal, não as mostrando a mais ninguém. Nestas circunstâncias a única consequência da sua acção é um aumento da sua própria felicidade. Ninguém mais, nem mesmo a senhora York, sofre qualquer infelicidade. Como poderia então o utilitarismo negar que as acções do voyeur são correctas? Mas é óbvio para o senso comum moral que não são correctas. O utilitarismo parece ser, pois, inaceitável.

A moral da história a retirar deste argumento é que o utilitarismo está em conflito com a ideia de que as pessoas têm direitos que não podem ser espezinhados só porque alguém antecipa bons resultados. Neste caso, é o direito da senhora York à privacidade que é violado; mas não seria difícil pensar em casos similares nos quais outros direitos estão em causa – o direito à liberdade religiosa, à livre expressão ou mesmo o próprio direito à vida. Pode acontecer que bons objectivos sejam servidos por meio da violação destes direitos. Mas não pensamos que os nossos direitos devam ser postos em causa com tanta facilidade. A noção de um direito pessoal não é uma noção utilitarista. Bem pelo contrário: é uma noção que estabelece limites à forma como um indivíduo pode ser tratado, independentemente dos bons objectivos que poderiam ser alcançados.”

2. Relações pessoais

«Na prática, ninguém está disposto a tratar todas as pessoas como iguais, pois requereria que abandonássemos as nossas relações especiais com os amigos e com a família. Todos somos profundamente parciais quanto à família e amigos. Gostamos deles e vamos até onde for preciso para os ajudar. Para nós, não são apenas membros da grande multidão da humanidade – são especiais. Mas tudo isto é inconsistente com a imparcialidade. Quando somos imparciais, a intimidade, o amor e a amizade são lançados pela janela fora.

(…) Como seria se não tivéssemos mais em conta o nosso marido ou esposa do que estranhos do que nunca vimos antes? A própria ideia é absurda; não só é profundamente contrária às emoções humanas normais como a instituição do casamento não poderia sequer existir à margem de acordos sobre responsabilidades e obrigações especiais. E como seria tratar os nossos filhos com o mesmo amor concedido a estranhos? Como John Cottingham afirmou, “um pai que deixa o filho arder, porque no edifício em chamas está alguém cuja futura contribuição para o bem-estar geral promete ser maior, não é um herói; é (merecidamente) objecto de desprezo moral, é um leproso moral”.»

James Rachels, Elementos de Filosofia Moral, tradução de F. J. Azevedo Gonçalves, Lisboa, 2004, Edições Gradiva, pp. 158-159 e 162.

O utilitarismo: ideias básicas

john-stuart-mill-action-philosophers

A banda desenhada foi retirada deste sítio.

“O utilitarismo clássico, a teoria de Bentham e Mill, pode ser resumido em três proposições: primeiro deve-se julgar que as acções são moralmente certas ou erradas somente em função das suas consequências. Nada mais importa. Segundo ao avaliar as consequências, a única coisa que interessa é a quantidade de felicidade ou de infelicidade criada. Tudo o resto é irrelevante. Terceiro, a felicidade de cada pessoa conta da mesma maneira. Como explica Mill,

a felicidade que forma o padrão utilitarista do que é correcto na conduta não é a felicidade do próprio agente, mas a de todos os implicados. Entre a felicidade do agente e a dos outros, o utilitarismo exige que o agente seja tão estritamente imparcial como um espectador desinteressado e benévolo.

Assim, as acções correctas são as que produzem o maior equilíbrio possível de felicidade e infelicidade, sendo a felicidade de cada pessoa contabilizada como igualmente importante.”

James Rachels, Elementos de Filosofia Moral, tradução de F. J. Azevedo Gonçalves, Lisboa, 2004, Edições Gradiva, pp. 151-152.

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Portugal sem futuro

Quais serão as consequências futuras da indisciplina consentida, da falta de exigência, da desvalorização do conhecimento e de muitos outros erros que caracterizam a educação que é actualmente ministrada em Portugal?

Veja AQUI uma antevisão muito pessimista e, infelizmente, plausível. A única coisa pouco realista é o ano: chegaremos, certamente, àquela degradação muito antes de 2045.

Quando se ouvem responsáveis políticos falar de assuntos educativos, quer sejam do governo quer sejam da oposição (de esquerda ou de direita), percebe-se logo que não são de esperar mudanças políticas positivas.

Não vale também a pena esperar que os ideólogos do ‘eduquês’ e os muitos professores que, acriticamente, os seguem, tenham um vislumbre súbito de lucidez e percebam o mal que estão a fazer.

No que diz respeito à educação, Portugal não tem futuro. Mas, se não tem futuro na educação, então …

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Uma dúvida inspiradora para os alunos do 11º ano

sceptic

Imagem encontrada na Internet, sem referência de autor.

“Eu penso que sou um céptico radical… mas não posso ter a certeza!”

O estudo para o próximo teste implica reflectir sobre o cepticismo radical. Assim sendo, alguém me pode explicar qual é o significado desta frase? Fará ela sentido?

Obrigada!