«(…) Os cépticos sustentam que, na verdade, não sabemos o que pensamos saber.
A visão do senso comum, é claro, sustenta que de facto conhecemos o mundo exterior (…).
Existem muitas crenças que abandonaríamos com muita satisfação, caso alguém conseguisse demonstrar que estamos errados. Mas, quando se trata das crenças mais arraigadas do nosso senso comum - como a crença de que sabemos que as árvores existem - não ficamos nada satisfeitos por abandoná-las.
Na verdade, ter as nossas crenças mais elementares ameaçadas pode ser uma experiência bem desconfortável, especialmente quando não vemos como defendê-las. Dizemos que é um disparate o que o filósofo está a dizer. (…) "Claro que eu sei que as árvores existem."
Mas o filósofo pode apontar que em muitos outros casos se comprovou que o senso comum estava errado. Por exemplo, noutros tempos, o senso comum afirmava que a Terra era plana. As pessoas simplesmente achavam que era óbvio que a Terra fosse plana. Afinal, parece plana, não parece? Os marinheiros até tinham medo de chegar ao fim da Terra e cair. Também nessa época algumas pessoas ficavam muito irritadas quando a sua crença comum era desafiada. Hoje, porém, sabemos que a Terra não é plana. 0 senso comum estava enganado.
(...) Num outro sentido, porém, o cepticismo pouco importa. Não altera em nada a nossa vida quotidiana. Mesmo os cépticos continuam a viver sua rotina diária. Alimentam os seus gatos. Lavam as suas roupas. Vão trabalhar. Encontram um amigo para tomar café. Nem mesmo o céptico consegue realmente evitar acreditar que o mundo que vê é real, apesar de não encontrar razão para acreditar que é real. Parece que nascemos naturalmente crentes: não podemos fugir a isso.»
Stephen Law, Os Arquivos Filosóficos (São Paulo, 2003, págs. 60-69).
1. Qual é a tese defendida pelos cépticos relativamente à possibilidade do conhecimento?
2. Como argumentam os cépticos para defender o seu ponto de vista? 3. Na sua vida quotidiana, o céptico contradiz-se? Porquê?
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