domingo, 15 de fevereiro de 2009

O paradoxo do hedonismo e o Dia dos Namorados

On A Claire Day by Carla Ventresca and Henry Beckett



“A maioria das pessoas não seria capaz de encontrar a felicidade ao decidir deliberadamente gozar a vida sem se preocupar com ninguém nem com coisa alguma. Os prazeres assim obtidos pareceriam vazios e em pouco tempo tornar-se-iam insípidos. Procuramos um sentido para a vida que vá para além do prazer pessoal e sentimo-nos realizados e felizes quando fazemos as coisas que consideramos plenas de sentido. Se a nossa vida não tiver sentido algum para além da nossa própria felicidade, é provável que, ao conseguirmos aquilo que julgamos necessário para essa felicidade, constatemos que a própria felicidade continua a escapar-nos.

Tem-se dado o nome de “paradoxo do hedonismo” ao facto de as pessoas que procuram a felicidade pela felicidade quase nunca a conseguirem encontrar, ao passo que outros a encontram numa busca de objectivos totalmente diferentes.”

Peter Singer, Ética Prática, Gradiva, 1ª edição, 2000, pág. 357.


Ao defender que podemos encontrar a felicidade e o sentido da vida quando tentamos pôr em prática objectivos a que atribuímos sentido e valor, Peter Singer tem em mente objectivos de natureza ética: ajudar pessoas necessitadas, combater a pobreza, combater algumas das várias formas de desigualdade e discriminação existentes no mundo, contribuir para a preservação do ambiente, etc.

A ideia é que o mero prazer pessoal não é suficiente e que precisamos de objectivos mais amplos e mais vastos que a nossa própria vida.

Muitas pessoas não seriam de facto capazes de “encontrar a felicidade ao decidir deliberadamente gozar a vida sem se preocuparem com ninguém nem com coisa alguma”, pois não são psicopatas dispostas a fazerem tudo aquilo que lhes der satisfação pessoal, mas não parecem ter os objectivos de natureza ética valorizados por Peter Singer.

Há muitas pessoas que são como as personagens do Cartoon: valorizam acima de tudo algumas relações afectivas – o amor pelos pais ou pelos filhos, o amor pela pessoa por quem se apaixonaram, etc. Para elas, mesmo que não seja o Dia dos Namorados, a pessoa amada é sempre o centro do mundo. Mas não procuram combater a pobreza nem se empenham na preservação do meio ambiente.

O amor que essas pessoas sentem por algumas pessoas próximas será suficiente para que tenham objectivos mais vastos que as suas próprias vidas ou não passará isso de uma outra forma de procurar o mero prazer pessoal? Ou seja: se não forem activistas de causas eticamente relevantes, estarão essas pessoas condenadas a procurar a felicidade pela felicidade e, por isso, a só encontrarem a amarga infelicidade?


1 comentário:

diconvergenciablog disse...

Julgo que o prazer é das poucas coisas que garantem uma aparente felicidade. Penso também que a felicidade não é susceptivel de ser avaliada, é subjectiva, depende de cada um.
O que é certo é que o homem não sabe o que anda aqui a fazer, quanto menos tiver essa noção, mais feliz será.