“Não tenho corpo. Tudo o que sou é um cérebro a flutuar numa cuba de produtos químicos. Um cientista perverso ligou de tal forma fios ao meu cérebro que tenho a ilusão da experiência sensorial. O cientista criou uma espécie de máquina de experiências. Do meu ponto de vista, posso levantar-me e dirigir-me à loja para comprar um jornal. Contudo, quando faço isto, o que está realmente a acontecer é que o cientista está a estimular certos nervos do meu cérebro de maneira a que eu tenha a ilusão de fazer isto. Toda a experiência que penso provir dos meus cinco sentidos é na verdade o resultado de este cientista perverso estar a estimular o meu cérebro desencarnado. Com esta máquina de experiências o cientista pode fazer com que eu tenha qualquer experiência sensorial que poderia ter na vida real. Através de um estímulo complexo dos nervos do meu cérebro o cientista pode dar-me a ilusão de estar a ver televisão, a correr um maratona, a escrever um livro, a comer massa ou qualquer outra coisa que eu poderia fazer.”
A história do cérebro numa cuba é uma experiência mental, tal como imaginar que a vida é um sonho ou a hipótese do Génio Maligno, de Descartes. Essas experiências mentais sugerem que podemos estar muito enganados em relação ao mundo e a nós próprios e que o conhecimento que julgamos ter é, afinal, uma ilusão.
Claro que não acreditamos que as coisas se passem dessem modo: acreditamos que as coisas são realmente semelhantes ao modo como as percepcionamos e acreditamos que temos realmente conhecimento. Eu acredito, o caro leitor acredita. Acreditamos - mas será que sabemos? Sabemos que a nossa vida é real e não uma ilusão ou apenas acreditamos nisso, tal como algumas pessoas acreditam em Deus e outras que vão ganhar a lotaria?
É que para saber algo não basta ter uma crença – no mínimo, é também necessário que a crença seja verdadeira e esteja justificada. Como podemos justificar a nossa crença de que a vida não é um sonho ou que não somos apenas cérebros numa cuba iludidos por um cientista perverso qualquer?
Os filósofos cépticos consideram que não podemos fazer essa justificação e que, portanto, não sabemos o que julgamos saber sobre o mundo e sobre nós próprios.
Quando se propõe a alguém, nomeadamente a um aluno do ensino secundário, que faça uma dessas experiências mentais e que depois justifique o facto de não acreditar na sua veracidade, uma das respostas mais frequentes é esta: isso é demasiado estranho e improvável para ser verdade.
Descartes e David Hume discordaram dos cépticos, mas fizeram-no de modo bastante distinto. Descartes tentou refutar o cepticismo e demonstrar inequivocamente a falsidade das suas afirmações e não apenas a sua improbabilidade. David Hume considerou que essa demonstração não é possível e que não podemos fazer muito mais do que declarar que a sua elevada improbabilidade.
Qual deles terá razão? Ou serão os cépticos que têm razão?
A imagem foi retirado do blogue de Filosofia Logosfera. Se quiser ler versões mais detalhadas da história do cérebro numa cuba pode fazê-lo em diversos posts do Logosfera ou no site Filosofia & Educação.
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