“Tendo achado, em muitos casos, que quaisquer duas espécies de objectos – chama e calor, neve e frio – estiveram sempre combinados, se a chama ou a neve se apresentarem de novo aos sentidos, a mente é levada pelo costume a esperar o calor ou o frio e a crer que uma tal qualidade existe e se descobrirá após uma abordagem mais directa.
Esta crença é o resultado (…) de se colocar a mente em tais circunstâncias. É uma operação da alma [mente] (…) tão inevitável como sentir a paixão do amor, ao recebermos benefícios; ou do ódio, quando nos defrontamos com injúrias. Todas estas operações são uma espécie de instintos naturais, que nenhum raciocínio ou processo do pensamento (…) consegue originar ou impedir.”
David Hume, Investigação sobre o entendimento humano, Edições 70, Lisboa, 1985, pp. 50-51.
Ou seja. Podemos observar, podemos ter impressões de duas coisas, como por exemplo a chama e o calor, mas não da conexão causal entre ambas. Consideramos que uma é causa da outra apenas porque observámos muitas vezes que uma se segue à outra (conjunção constante) e nos acostumámos a esperar que o mesmo suceda da próxima vez. Todavia, não consideramos que se trate apenas de um fenómeno psicológico: acreditamos que existe realmente uma conexão causal entre elas. Porque é que acreditamos nisso? Instinto, diz David Hume.
Sem comentários:
Enviar um comentário