As induções (generalizações e previsões), os argumentos por analogia e os argumentos de autoridade são argumentos não-dedutivos.
“Outro importante estilo não-dedutivo de argumentação é conhecido como inferência a favor da melhor explicação ou (…) abdução. Com este tipo de argumento (…) ponderamos a plausibilidade de uma hipótese em função do tipo de explicação que oferece. A melhor hipótese é aquela que explica mais. Assim, por exemplo, se chego a casa e encontro entranhas de rato na cozinha e o meu gato a dormir profundamente com um ar muito satisfeito no preciso momento em que habitualmente pede para ser alimentado, a melhor explicação do que aconteceu na minha ausência é que o meu gato apanhou e comeu um rato e depois pôs-se a dormir uma sesta.
(…) Mas há outras possíveis explicações para o que sucedeu. Por exemplo, outro gato pode ter entrado através da gateira e ter deixado as entranhas do rato no chão da cozinha. Ou talvez a minha mulher, tentado confundir-me, tenha matado e desmembrado um rato deixando-o ali para incriminar o gato. A minha conclusão de que foi o meu gato que matou e comeu o rato é, contudo, a mais plausível em circunstâncias como estas. Isso é assim porque, enquanto as hipóteses alternativas conseguem explicar as entranhas, não explicam a razão por que o gato parece tão satisfeito.
Este tipo de raciocínio é muito importante na ciência e no quotidiano. Mas, como mostram os exemplos anteriores, não é completamente fiável. Há sempre outras possíveis explicações dos mesmos factos [embora menos prováveis, atendendo às várias circunstâncias envolvidas]. A minha mulher podia ter incriminado o gato, tendo escolhido precisamente um dia em que o gato estivesse particularmente inactivo de modo a que ele dormisse durante a hora habitual da refeição. A conclusão da inferência a favor da melhor explicação não se segue, então, inevitavelmente das premissas, ao contrário do que sucede com um argumento dedutivo válido.
(…) As inferências a favor da melhor explicação carecem da fiabilidade dos argumentos dedutivos. Isto não deve ser interpretado como uma crítica à inferência a favor da melhor explicação. Usamos este estilo de raciocínio precisamente nas circunstâncias em que a dedução é impossível: quando, por exemplo, tentamos compreender a causa ou explicação de algo e há mais do que uma perspectiva possível acerca de como as coisas acabaram por ser o que são.”
Nigel Warburton, Elementos Básicos de Filosofia, 2ª edição, 2007, Lisboa, pp. 187-189.
Nota: as palavras argumento, raciocínio e inferência exprimem aproximadamente o mesmo.
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