Temos consciência do carácter finito da nossa existência e, por isso, do facto de não ser indiferente o modo como utilizamos o nosso tempo de vida.
Contudo, pensar acerca de um problema como o sentido da vida, suscita uma certa repulsa à maior parte das pessoas: é uma questão vaga, aparentemente, desligada do quotidiano, demasiado abstracta e não produz resultados imediatos. Em suma, uma enorme perda de tempo destinada a gente ociosa e com pretensões “intelectuais”…
Mas será mesmo assim?
Perguntarmos pelo rumo atribuído ou a atribuir à nossa existência não será antes uma tarefa decisiva que cada um de nós deve levar a cabo, se quiser viver de um modo consciente e livre?
A. C. Grayling, no livro O significado das coisas, dá uma resposta interessante a essa pergunta:
«Sócrates disse, celebremente, que uma vida sem reflexão não merece a pena ser vivida. Queria ele dizer que uma vida vivida sem ponderação nem princípio é uma vida tão vulnerável ao acaso e tão dependente das escolhas e acções de terceiros que pouco valor real tem para a pessoa que a vive. Queria ainda dizer que uma vida bem vivida é aquela que possui objectivos e integridade, que é escolhida e orientada pelo que a vive, tanto quanto é possível a um agente humano enredado nas teias da sociedade e da História.
Como a expressão sugere, a “vida com reflexão” é uma vida enriquecida pelo pensamento acerca das coisas relevantes: valores, objectivos, sociedade, as vicissitudes características da condição humana, aspirações tanto pessoais como públicas (…). Não é necessário chegar a teorias apuradas sobre todos estes assuntos, mas é preciso conceder-lhes pelo menos um nadinha de reflexão (…). Pensar sobre estes assuntos é como examinar um mapa antes de começar a viagem (…). Uma pessoa que não pense na vida é como um forasteiro sem mapa numa terra estrangeira: para alguém assim, perdido e desorientado, um desvio no caminho é tão bom como qualquer outro e, se o rumo tomado conduzir a um local que vale a pena, terá sido meramente por acaso.»
A. C. Grayling, O significado das coisas, Lisboa, 2002, Edições Gradiva, pp. 11-12.
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