Uma pessoa que goste de coisas tão maravilhosas como ervilhas com ovos, amoras, algumas canções de Jorge Palma, filmes de Woody Allen, livros de Ian McEwan ou cartas longas não precisa fazer um grande esforço intelectual para perceber que podem existir pessoas inteligentes e com bom gosto que não gostem dessas coisas.
Mas quem ouve John Coltrane e Stan Getz tocar juntos, por muito que se esforce dificilmente consegue entender o ponto de vista das pessoas que não gostam de Jazz.
Ok! Reconheço que estou a exagerar: há maneiras mais simples e mais rigorosas de dizer que gosto muito, muito desta música!
2 comentários:
Como eu o compreendo! É sempre estranho gostarmos muito, mas mesmo muito de uma coisa e haver pessoas da qual não gostam. Como o contrário. Não conseguirmos gostar de coisas de que outros gostam bastante. Eu acho cada mais que o juízo estético não anda muito longe de gostar ou não de ovos com ervilhas. Ainda que possa haver um "padrão de gosto" educável, transmissível, existirão sempre factores pessoais, subjectivos, intransmissíveis que dificultam a ideia de compreender o juízo estético num plano universal.
JR
JR:
Quase tudo no meu texto era irónico.
Mas, falando agora a sério:
trate-se ou não de uma questão estética, o simples facto de haver divergência de opiniões não implica que se trate de algo meramente subjectivo e que não possa haver uma verdade objectiva nesse campo.
Pode suceder que exista realmente essa verdade mas que ainda não tenha sido descoberta.
Se não acreditarmos que existe, teremos algum bom motivo para estudar, debater e discordar?
Mas claro que nalguns assuntos é mais fácil acreditar na existência da verdade objectiva do que noutros. É mais fácil acreditar que existe no estudo da natureza que na ética. E é mais fácil acreditar que existe na ética do que na estética.
Mas na utilização que fazemos de termos estéticos como "belo" parece existir algo que não existe no gosto pelas ervilhas com ovos. Não sei exactamente o que é (até porque tenho lido e pensado muito pouco acerca da estética), mas é um facto que existe. Ou não?
(Recordo vagamente as leituras da Crítica da Faculdade de Julgar: Kant diz que o juízo sobre o belo é subjectivo como o juízo sobre o agradável - por exemplo, gostar ou não de ervilhas - mas que contrariamente a este é acompanhado de uma 'pretensão se universalidade', COMO SE fosse objectivo... Será isso?)
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