quarta-feira, 27 de maio de 2009

A Internet permitirá a omnisciência?

“Nunca pensei vir a tornar-me omnisciente durante a minha vida, mas, à medida que o Google continua a aperfeiçoar-se e a informação on-line a expandir-se, alcancei a omnisciência, para todos os efeitos práticos.”

T. Sejnowski, “Quando se tornará a Internet consciente de si própria”, in Grandes Ideias Perigosas, coord. de J. Brockman, Tinta da China, Lisboa, 2008, pág. 176.

Se interpretarmos literalmente as palavras de Sejnowski (que é neurocientista computacional), o seu maior erro não é a ingenuidade e imprecisão da omnisciência, mas a ideia pressuposta de que ter um montão de informações guardadas algures equivale a ter conhecimento. Desde quando ter uma grande Biblioteca garante sabedoria?

5 comentários:

João disse...

Boas!

Tema interessante. Acho que tudo o que criticam é como dizem, a omnisciencia esta mal definida, ter uma enorme biblioteca não implica ter sabedoria, mas há algo de verdade na frase se admitirmos que o autor gosta de hiperboles.

Será que não existe um nivel de sabedoria colectiva que surja como um fenomeno emergente (de alto nivel) de milhões de cerebros conectados (ainda que não em tempo real?). Um novo tipo de superconsciencia?

Há para já um obstaculo... A humanidade está longe de viver numa harmonia dirigida para um bem comum como os neuronios de um cerebro, e isto, (sem que tenha qualquer tom politico, não me refiro especificamente a isso - mais a algo como a mentira e o "atrito"...), pode estar a dificultar a consistencia e a completude do processo, talvez essenciais à sua emergencia.

Bem, são só umas ideias.

Bom blogue, parabens. Já vi que têm o meu link e vou por um para voces.

João disse...

Parabens pelo Blogue! Bom trabalho. E bom post, muito interessante.

Mas aparte as voças criticas, com que eu concordo, não será possivel surgir um novo tipo de supra-conhecimento, como fenomeno emergente de alto nivel, graças ao facto do fluxo de informação ser muito mais rapido? Individuos no lugar de neuronios?

Uma forma de consciencia colectiva, de uma meta-inteligencia.

TAlvez quando a humanidade for mais madura.

Carlos Pires disse...

João:

Obrigado pelas palavras simpáticas.

Vou ser muito terra-a-terra.
O que seria uma "superconsciência"?
Para resolver, ou pelo menos clarificar, um problema científico ou filosófico a comunicação e o debate entre um grupo de seres humanos costuma ser muito útil. Normalmente é mais eficaz que as tentativas individuais.
A Internet permite intensificar muito a comunicação e alargar imenso o debate. Desse modo, proporciona oportunidades e possibilidades novas. Muitas. E as novidades muitas vezes são muito diferentes do que se conhecia antes.
Mesmo assim, será de esperar algo tão diferente e "milagroso"?
Não me parece provável. Nem desejável: as tentativas de conseguir graus superiores de harmonia social e mental costumam ser totalitárias.
Ou seja: a Internet não vai alterar a natureza humana (eu sei que a expressão é quase tão vaga e problemática como) "superconsciência".

João disse...

Carlos,

"Mesmo assim, será de esperar algo tão diferente e "milagroso"? "

Não, nada de milagroso, algo bem terra a terra, muito materialista.

Refiro-me a um fenomeno de "formigueiro humano" - com as devidas liberdades um formigueiro serve para ilustrar o que quero dizer.

Usei o termo superconsciencia porque se refere a algo um nivel acima da consciencia do individuo e por interacção com os seus pares. Exemplos rudimentares: fenomenos de cultura pop massificados, viragens de eleitorado...

Mas eu não sei. Estouu só a pensar, e estou de acordo com as criticas colocadas. Todas.

A humanidade está verde.

Mas o aumento da conectividade entre as pessoas sugere que os fenomenos de massas subam um nivel de complexidade, so isso.

E sim, ja vi o ultimo post, a internet não é a panaceia universal para o intelecto.
´Depende daquilo de que fizermos dela.

Tal como os computadores.

Manolo Heredia disse...

Uma coisa é ter um monte de informação guardado algures, outra coisa é ter acesso imediato à informação pertinente quando ela é necessária... O homem tem razão, se a informação for de confiança. O que nem sempre acontece...