segunda-feira, 8 de março de 2010

Objectivismo Moral

Muitos filósofos defendem que a ética é objectiva e que o valor de verdade dos juízos morais é independente quer das preferências e sentimentos pessoais quer dos costumes sociais. Defendem também que a ética é independente da religião e que a verdade ou falsidade dos juízos morais não deriva da vontade de Deus. Discordam portanto do Subjectivismo Moral, do Relativismo Moral Cultural e da Teoria dos Mandamentos Divinos.

Mas, se os juízos morais são independentes dos sentimentos, dos costumes sociais e da vontade divina, baseiam-se em quê? Segundo os objectivistas morais, baseiam-se na razão, ou seja, na capacidade humana de “raciocinar, compreender, ponderar, ajuizar, etc.” (1) - numa palavra, na capacidade de pensar. Ao pensar sobre questões morais como o aborto, a mentira ou a pena de morte, não nos limitamos a emitir juízos, tentamos também justificar esses juízos através das melhores razões que conseguirmos descobrir.

Nas palavras do filósofo James Rachels:

«Um juízo moral - ou qualquer outro tipo de juízo de valor - tem de ser apoiado em boas razões. Se alguém disser que uma determinada acção seria errada, pode-se perguntar porque razão seria errada e, se não houver uma resposta satisfatória, pode-se rejeitar esse conselho por ser infundado. Neste aspecto, os juízos morais são diferentes de meras expressões de preferência pessoal. Se alguém diz “Eu gosto de café”, não necessita de ter uma razão para isso; poderá estar a declarar o seu gosto pessoal e nada mais. Mas os juízos morais requerem o apoio de razões, sendo, na ausência dessas razões, meramente arbitrários. (…)

As verdades morais são verdades da razão; isto é, um juízo moral é verdadeiro se for sustentado por razões melhores que os juízos alternativos.

Assim, se quisermos entender a natureza da ética, devemos atentar nas razões. Uma verdade em ética é uma conclusão apoiada em razões: a resposta correcta a uma questão moral é simplesmente a resposta que tem do seu lado o peso da razão. Tais verdades são objectivas no sentido em que são verdadeiras independentemente do que possamos querer ou pensar. Não podemos tornar algo bom ou mau pelo simples desejo de que seja assim (…). Isto explica igualmente a nossa falibilidade: podemos enganar-nos sobre o que é bom ou mau porque podemos estar enganados sobre o que a razão recomenda. A razão diz o que diz, alheia às nossas opiniões e desejos.» (2)

(No post Subjectivismo moral (3): Haverá provas em ética? pode encontrar – num texto de James Rachels - um exemplo ilustrativo da ideia de que um juízo moral verdadeiro é um juízo sustentado por melhores razões que os juízos alternativos, bem como a refutação da ideia de que não há provas em ética.)

De acordo com os objectivistas morais, existem critérios transubjectivos e transculturais de valoração. Esses critérios ultrapassam a perspectiva de cada pessoa e de cada sociedade, proporcionando uma forma de avaliar com imparcialidade as acções e as práticas sociais. Podem ser compreendidos e aplicados por todos os indivíduos racionais, independentemente das suas motivações e interesses particulares, bem como da cultura em que foram educados. (3) São culturalmente neutros e independentes dos sentimentos pessoais dos indivíduos.

Um desses critérios é o de a acção individual ou a prática social em questão ser benéfica ou prejudicial para as pessoas que são afectadas por ela. As boas acções e as boas práticas sociais beneficiam as pessoas; as más acções e as más práticas sociais prejudicam as pessoas. (4)

Se avaliarmos práticas como a violação e a excisão à luz desse critério concluiremos que elas são más, pois prejudicam as pessoas. Esse juízo é verdadeiro pois pode ser justificado com boas razões e essa verdade é objectiva: pode ser compreendida, e eventualmente aceite, pelas pessoas envolvidas, independentemente dos seus sentimentos, interesses pessoais e costumes sociais.

Mas é claro que nem todas as pessoas reconhecerão a verdade desse juízo moral. Por exemplo: um violador e um executante da excisão poderão considerá-lo falso. Na sua opinião, essa possibilidade é suficiente para mostrar que esse juízo (e qualquer outro juízo moral) afinal não é objectivo?

 

(1) Dicionário Escolar de Filosofia.

(2) James Rachels, Elementos de Filosofia Moral, tradução de F. J. Azevedo Gonçalves, Lisboa, 2004, Gradiva, pp. 65-67.

(3) Aires Almeida e outros, A Arte de Pensar – 10º ano, vol. 1, Didáctica Editora, Lisboa, 2007, pp. 131-132.

(4) James Rachels, Problemas da Filosofia, tradução de Pedro Galvão, Gradiva, Lisboa, 2009, pág.243.

3 comentários:

João disse...

Carlos:

Bom post. E está em sincronia com o que ando a escrever.

Acho que a lógica não será objectiva porque é referente à espécie humana, portanto referente sempre a sujeitos com capacidade de julgar. Mas isso é uma questão taxonómica, não essencial. Na essência estou de acordo. A moral é avaliavel enquanto moral. Existe melhor ou pior.

Será por isso subjectiva. Mas no entanto também penso que a moral é determinável e que só é relativa às condições em que se julga determinada regra.

Estou cada vez mais convencido que a moral é um padrão de valores com o objectivo tácito de aumentar a prosperidade da "matilha", reduzindo atritos e maximizando recursos.

Aumentando assim a capacidade adaptativa da dita "matilha"

Porque a moral é uma vantagem evolutiva.

Agora gostava que lesses o meu ultimo post e comentasses. Aliás precisava mesmo de um comentário teu.

É sobre isto.

João disse...

Quando disse:

"Acho que a lógica não será objectiva "

queria dizer:

Acho que a moral não será objectiva porque

Anónimo disse...

Sou aluno do 10 ano e ao ler este post consegui tirar as minhas duvidas alem disso consegui tambem entender de uma forma clara e cativante este tema.
Recomendo e recomendei a todos os meus amigos pois graças a este post consegui fazer um otimo teste de filosofia onde tirei 19 valores.
Obrigado