Contrariamente ao que algumas pessoas pensam, afirmar que existem juízos morais objetivos (e recusar, portanto, o relativismo e o subjetivismo na moralidade) não é sinal de arrogância intelectual nem de dogmatismo. Defender essa ideia não consiste em dizer “nós – as pessoas que partilham a cultura X - estamos certos e eles estão errados” ou sequer “eu estou certo e tu estás errado”, mas sim que é possível alguém estar objetivamente certo e alguém estar objetivamente errado – nós ou eles, eu ou tu. Ou seja: não se trata de defender que nós é que temos a verdade no bolso ou que eu é que sei tudo, mas sim de recusar a ideia de que nenhum dos lados pode estar errado. Com efeito, segundo algumas teorias éticas (relativismo moral cultural e subjetivismo moral) em relação aos assuntos morais não pode haver verdades objetivas mas apenas verdades relativas – à cultura ou ao indivíduo; pelo que dois juízos morais opostos podem ser ambos verdadeiros (um é verdadeiro para X e o outro é verdadeiro para Y, mas nenhum deles é verdadeiro em si mesmo).
Defender a objetividade dos juízos morais envolve também a ideia de que o lado que está certo está certo porque os seus juízos morais estão melhor justificados, independentemente dos desejos, sentimentos e costumes das pessoas envolvidas. Tem razão quem se apoiar nas melhores razões. E essa justificação pode ser compreendida e aceite por pessoas com personalidades e culturas diferentes umas das outras.
Se pensarmos em juízos morais como “as mulheres devem ter direitos semelhantes aos homens” ou “a tortura é errada”, podemos plausivelmente dizer que as pessoas que os consideram verdadeiros estão certas e que as pessoas que os consideram falsos estão erradas, pois existem razões fortes a favor desses juízos.
Se pensarmos em juízos morais como “o aborto é sempre errado” ou “o aborto é correto em certas situações”, temos de ser mais cautelosos, uma vez que mesmo entre os maiores especialistas existem divergências profundas sobre esse problema e está em disputa qual dos juízos é realmente verdadeiro. Contudo, se defendermos o objetivismo moral podemos acrescentar: não podemos garantir qual dos juízos é verdadeiro, mas um deles é verdadeiro e o outro falso. E é precisamente por isso que esse problema é tão debatido: para tentar estabelecer qual é a verdade acerca dele.
A respeito desta questão pode ver também os posts:
A divergência de opiniões é incompatível com a objetividade?
Defender a objetividade não significa que se seja dogmático.
Sem comentários:
Enviar um comentário