sábado, 27 de dezembro de 2014

Pensar de A a Z

Pensar de A a Z, de Nigel Warburton.
Tradução de Vítor Guerreiro. Revisão científica e prefácio de Desidério Murcho.
Editorial Bizâncio, Setembro de 2012, 240 pp
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Nigel Warburton Pensar de A a Z

Imagine que um colega seu afirma que uma certa ideia - por exemplo que se deve apostar na produção de vinho - é falsa pois Salazar também a defendia. O leitor compreende que há algo de errado nessa afirmação, mas tem dificuldade em explicar porquê.

E como mostrar o erro de um vizinho que nega a existência de Deus alegando que é ridículo acreditar num velho de barbas brancas sentado numa nuvem?

O livro Pensar de A a Z, do filósofo inglês Nigel Warburton, poderia dar-lhe uma ajuda. Ensinar-lhe-ia, por exemplo, que o seu colega cometeu a falácia das más companhias e o vizinho a falácia do espantalho. Com uma linguagem clara e simples, Warburton explica o que é uma falácia (um argumento que parece correto mas não é) e analisa algumas das falácias mais frequentes. Assim, a falácia das más companhias ocorre quando se rejeita uma ideia apenas porque foi defendida por alguém muito censurável (claro que Warburton não dá o exemplo de Salazar mas sim de Hitler) e a falácia do espantalho ocorre quando alguém caricatura ou distorce uma perspectiva rival para a derrubar mais facilmente. Mas essa ajuda também poderia vir, por exemplo, das páginas dedicadas à falácia democrática, à falácia do custo perdido ou à falácia de Van Gogh.

Pensar de A a Z, além das falácias, aborda vários outros tópicos importantes da chamada lógica informal: estratégias de persuasão como a culpa partilhada, o advogado do diabo e envenenar o poço; erros como a confusão entre alguns e todos, a confusão entre correlação e causa e a precisão inapropriada; e conceitos lógicos fundamentais como validade, dedução e indução.

As explicações dadas por Nigel Warburton são sempre ilustradas com exemplos muito esclarecedores e não pressupõem conhecimentos prévios, pelo que podem ser compreendidas por leitores sem formação filosófica.

Nas palavras do autor, o livro é “uma introdução ao pensamento crítico” e oferece “alguns instrumentos básicos para o raciocínio claro acerca de qualquer assunto”. A intenção é ajudar o leitor a identificar falácias e outros erros argumentativos comuns, de modo a não se enganar nem ser enganado, mas sobretudo ajudá-lo a defender melhor as suas ideias e a pensar pela sua própria cabeça.

O livro está organizado por ordem alfabética e com entradas que remetem muitas vezes para outras entradas (por exemplo, mentir remete para parcimónia com a verdade e pedantismo, por sua vez, remete para ambiguidade e retórica), pelo que pode ser lido do princípio ao fim ou começando numa entrada interessante e depois seguindo essas referências cruzadas.

Inclui ainda um “Prefácio à edição portuguesa” da autoria de Desidério Murcho, que, além de esclarecer de modo breve mas rigoroso muitos conceitos lógicos, explica a importância da lógica para a reflexão e para a argumentação.

Por isso, a leitura deste livro pode ser proveitosa para pessoas muito diferentes. Como é dito no prefácio, os tópicos que aborda estão presentes “não só na nossa vida diária, como também na nossa vida económica, científica, tecnológica, artística, religiosa, política e pessoal” e sem dominá-los “não é fácil ter uma vida humana plenamente realizada”.

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