No início deste ano lectivo, no dia em que os sindicatos assinaram um acordo com o governo e o actual modelo de avaliação foi decretado (ver aqui), decidi que não voltaria a “lutar” pelos interesses da "classe" (que não existe). Assim, embora o modelo aprovado continuasse a ser criticável e a sua credibilidade discutível tinha-se tornado uma lei e eu preferia ser avaliada a não ser (40% dos professores pensaram como eu, alguns deles contestatários activos do modelo anterior). Portanto, solicitei aulas assistidas e investi, como sempre tenho investido, na minha prática lectiva.
Mal sabia eu que as aulas assistidas seriam a melhor parte deste processo. Só no final deste ano lectivo - porque as minhas condições de trabalho não me permitiram fazê-lo antes e o prioritário era ensinar os alunos - li com atenção a legislação em vigor antes de elaborar o relatório de autoavaliação, cujo preenchimento é obrigatório por todos os professores (com ou sem aulas assistidas). Durante esta árdua e aborrecida tarefa ocorreram-me muitas questões. Eis alguns exemplos.
1º As orientações emanadas do ministério quanto à estrutura do relatório são vagas, não são claras e dificilmente podem ser avaliadas de forma objectiva. Vejamos alguns dos items de preenchimento obrigatório:
Contributo do docente para os objectivos e metas da escola, considerando as seguintes dimensões: componente social e ética; desenvolvimento do ensino e da aprendizagem; participação na vida da escola e relação com a comunidade educativa.
Em relação a este último item é necessário que o docente apresente evidências, cuja natureza não é explicitada e cada professor e cada escola interpretam de modo diferente.
A minha primeira reacção foi de perplexidade: Onde é que eu coloco o que fiz? Como é que se apresentam evidências que permitam avaliar, com imparcialidade e rigor, items como “a componente social e ética”, “a participação na vida da escola e a relação com a comunidade educativa”?
Faz sentido que a estrutura do relatório não seja intuitiva e compreensível? Que os professores tenham de passar horas a ler para percebem onde devem colocar a descrição e a apreciação das actividades lectivas e não lectivas realizadas?
Como é que se pode pedir (nos documentos do ministério) capacidade de síntese, rigor e objectividade quando as directrizes são tudo menos claras, rigorosas e sintéticas?
2º Qual é o item do relatório em que são consideradas as reais condições de trabalho do professor? Todos são avaliados em todos os items como se fossem iguais, mas de facto não são: como distinguir os professores que leccionam a duas turmas dos que leccionam a cinco ou seis? Como distinguir os professores que leccionam duas disciplinas dos que leccionam quatro? Terão todos o mesmo tempo para participar nas actividades e projectos da escola? Pode-se comparar e avaliar, com justiça e rigor e utilizando os mesmos critérios, os desempenhos destes professores?
3º Como é que se avalia a qualidade das actividades e projectos em que o docente se envolve na escola? Quais são os critérios para considerar aquelas que são mais ou menos relevantes para a vida da escola? Valem todas o mesmo? É a olho? Depende da quantidade ou de encher mais ou menos a vista? Quem é que avalia essas actividades e projectos? É um órgão independente? Como se garante a imparcialidade e a objectividade dessa avaliação?
4º Como garantir a originalidade - em termos científicos e pedagógicos – e a autoria dos materiais didácticos apresentados, quando existe um banco de dados enorme na Internet e algumas pessoas se limitam a alterar os cabeçalhos com o nome da escola (já constatei esse facto em relação aos recursos que disponibilizo neste blogue) e utilizam como se fosse por si concebido aquilo que foi originalmente concebido por outros professores?
5º Como distinguir um professor empenhado que investe mais na sua aprendizagem e na dos seus alunos daquele que investe nas actividades e projectos folclóricos - científica e pedagogicamente irrelevantes - em detrimento da preparação e leccionação das aulas?
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