A filosofia, afresco de Raffaello Sanzio.
Quando esta manhã li o exame de Filosofia que os meus alunos estavam a fazer suspirei de alívio. É um bom exame e os alunos que se prepararam conseguirão certamente obter bons resultados.
Não tem erros nem ambiguidades, a linguagem é clara, as questões – com uma possível exceção - incidem em tópicos filosóficos relevante e testam competências diversificadas, sem esquecer – como já tem sucedido – a capacidade crítica e argumentativa. A extensão é adequada e o grau de dificuldade é equilibrado, havendo perguntas fáceis e outras mais difíceis (as questões de lógica talvez pudessem ser mais difíceis).
Ainda assim, vale a pena apontar dois aspetos menos conseguidos.
A questão 1 do grupo II, sobre a crítica de Platão aos sofistas, era dispensável pelo mesmo motivo que era dispensável lecionar esse tema (imposto pelas Orientações e não propriamente pelo Programa): a sua relevância filosófica é duvidosa, tal como a sua articulação com os outros tópicos do capítulo da argumentação.
Num exame de Filosofia é acertadíssimo pedir aos alunos – como é feito na questão 2 do grupo IV – para redigir um texto argumentativo. Contudo, a escolha do problema a discutir não foi feliz. A maior parte dos alunos não costuma gostar muito de Filosofia da Ciência e quase todos teriam mais a dizer e a discutir se, em vez do “papel da experiência científica na validação das hipóteses”, tivessem perguntado a sua opinião acerca do livre-arbítrio ou da existência de Deus.
Contudo, esses senãos não comprometem a qualidade do exame. Li os critérios de correção um pouco à pressa mas julgo poder dizer que são também adequados e claros.
Hoje foi, portanto, um bom dia para o ensino da Filosofia em Portugal. Oxalá os resultados sejam também bons.
8 comentários:
A pergunta do D. Hume e do Descartes muita gente errou na escolha múltipla.
Considero que o conteúdo das perguntas 1. e 2. do Grupo III, se sobrepõe,, no que diz respeito a Kant. Parece-me que os critérios, para a questão 2. vão muito para além do que se pode interpretar na pergunta. Aliás, cheguei a colocar, neste blog, uma dúvida que se prendia com um dos tópicos das Orientações de Exame-3.1.3.: a natureza dos deveres morais que vai ao encontro desta questão. No entanto, só obtive uma resposta muito restrita e penso que isto deve ter que ver com alguma leitura de algum autor ou obra para a qual nem todos os professores estão sensibilizados. Aliás, porque não fizemos todas Formação como os nossos colegas das outras disciplinas, para a correção de provas de exame? Quem fez? Como foram selecionados?
Porquê o anonimato?
Julgo que os conteúdos das 2 questões que referiu não se sobrepõem, embora haja alguma proximidade e calculo que alguns alunos tenham sentido dificuldade de separar as coisas.
De qualquer modo, é preciso ver que na segunda pergunta a ideia não é simplesmente explicar a teoria de Kant, mas compará-lo com Stuart Mill e discutir se há ou não deveres absolutos.
Não percebo porque diz que os critérios vão além do que a pergunta pede.
Os alunos não só sentiram dificuldade, como consideraram que não deveriam repetir o que já tinham dito anteriormente, pelo que é capaz de distorcer os resultados.Eu, ontem, considerei, logo, uma cotação exagerada, para esta questão, atendento ao que eu admitia que estava nela compreendido, exceptuando como logo disse, a comparação com S. Mill.
Veja-se nos cenários de resposta da questão 1.
– Distinção entre imperativo categórico e imperativo hipotético: o imperativo categórico envolve uma
obrigação absoluta ou incondicional e o imperativo hipotético é uma obrigação condicional.
– Identificação do imperativo categórico como imperativo da moralidade: o imperativo categórico exige
que se cumpra o dever por dever (por simples respeito pela lei moral).
Questão 2:
– Caracterização do conceito de dever moral absoluto: os deveres morais absolutos são obrigações que
devem ser sempre cumpridas.
– Explicitação do imperativo categórico como obrigação moral absoluta, em Kant: o imperativo categórico exige conformidade da máxima da ação com a universalidade da lei; não admite situações em que seja aceitável violar a lei moral, impondo, portanto, deveres morais absolutos.
O anónimo está a exagerar o problema, mas não gosto do anonimato e não vou responder mais.
Não entendo porque é que um professor de filosofia não haveria de assumir quem quando faz uma cois tão natural como analisar e discutir publicamente um exame de filosofia.
Peço desculpa, mas o anonimato só se prende com algo muito mais prosaico. Não queria usar a conta Google da escola, embora seja a melhor solução, para que a consulte com regularidade. A minha outra conta não é Google. Tinha uma já muito antiga, da qual não me lembro de nada! Poderia ter criado outra...mas há umas mulheres que são assim- isto para não cometer falácias, é claro!
Considero que o exame foi bastante fácil. As questões de escolha múltipla parecem-me bem formuladas. Na 8, sobre Descartes e Hume, a afirmação "Para o primeiro, o conhecimento tem de ser indubitável; para o segundo, pode não ser indubitável", não me parece muito adequada.
A questão 1 do grupo II, parece-me filosóficamente relevante uma vez que serve para destacar a filosofia como procura da verdade e não como simples estratégia de persuasão , mas parece-me mal formulada porque a crítica de Platão aos sofistas que depois é referida nos critérios de correção não está implícita no texto. Apenas dá a entender que para Platão ser Sofista era algo de negativo.
Estou de acordo com o Carlos Pires quando diz "Julgo que os conteúdos das 2 questões que referiu não se sobrepõem, embora haja alguma proximidade e calculo que alguns alunos tenham sentido dificuldade de separar as coisas."
A primeira questão é para distinguir os imperativos categóricos dos hipotéticos e dizer que só as ações que se fundamentam em imperativos categóricos é que têm valor moral porque são feitas apenas pela necessidade de se cumprir o dever.
Na segunda questão é para dizer que os deveres são absolutos, que as leis morais nunca podem ser transgredidas, independentemente das consequências. Mentir é sempre errado mesmo que isso trouxesse benefícios. Julgo que aqui, ao contrário do que consta nos critérios de correção, não havia necessidade de falar do imperativo categórico outra vez, mas sim do caráter deontológico rígido da teoria Kantiana.Os critérios de correção é que se repetem um pouco.
Para Mill as normas morais não são absolutas, mas podem ser transgredidas, se disso resultar boas consequências. As normas morais estão sujeitas ao princípio da máxima felicidade.
Acho que teria sido preferível para evitar estas situações fazer apenas uma questão para se comparar Kant e Mill. Porquê duas questões sobre Kant e se deixam de fora autores como Rawls,Kuhn ou Descartes que só aparecem na escolha múltipla? O David Hume é que nunca falha. E a filosofia da ação, o determinismo, a estética ou a religião, os valores?
Eu não referi estes temas por serem da minha preferência. Mas se constam da matriz e os alunos os estudam não podem ser sucessivamente esquecidos.
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