segunda-feira, 17 de junho de 2013

Para que serve a greve dos professores?

Para que servem os professores

A afirmação feita no cartaz - “Os professores servem para ensinar os alunos que não querem aprender” - não deve ser entendida literalmente, pois, como é óbvio, os professores devem ensinar tanto os alunos que querem aprender como os que não querem. Na verdade, a afirmação sugere que ensinar estes é ainda mais difícil que ensinar os outros e que do trabalho dos professores fazem parte tarefas muito difíceis.

Os professores têm de saber muito bem aquilo que ensinam, mas têm também de saber comunicar o que sabem. E precisam de saber motivar os alunos, nomeadamente aqueles para quem o próprio conhecimento não é motivação suficiente. Contudo, isso não basta. Os professores têm ainda de saber manter a disciplina de modo a que nas aulas exista um ambiente favorável à aprendizagem. Atualmente espera-se também que os professores saibam detetar os problemas pessoais e familiares dos alunos e sejam uma espécie de psicólogos e assistentes sociais. Assim, a um professor é exigido: conhecimento, clareza e rigor,  autoridade, calma e ponderação, capacidade de reação, criatividade, iniciativa e dinamismo, imparcialidade, etc.

Mesmo que retirássemos da lista algumas expectativas exageradas e inadequadas, continuaria a ser muita coisa. Por isso, mas não só, os professores precisam de tempo para preparar as aulas, elaborar e corrigir testes e as muitas outras tarefas que têm a seu cargo. Precisam de tempo para ler e pensar. Precisam de tempo para aprender. E precisam de tempo para a vida pessoal e familiar: sim, para serem bons professores precisam de dedicar tempo à vida pessoal e familiar.

Contudo, o que se tem passado nos últimos anos vai no sentido contrário: mais horas de aulas, mais disciplinas ou níveis, mais turmas e mais alunos, mais horas de atividades não letivas, mais relatórios e outras burocracias que consomem cada vez mais tempo. Atualmente, a maior parte dos professores trabalha muito mais do que as 35 horas semanais que têm no horário e mais até que as 40 horas que o governo quer implementar. Enquanto muitos professores estão no desemprego, os outros trabalham demais e com cada vez menos condições para fazer um trabalho de qualidade.

Os professores trabalham mais mas recebem menos dinheiro, devido aos cortes salariais e de subsídios e ao facto de as progressões na carreira estarem congeladas há anos. Este último aspeto é particularmente absurdo, pois os professores continuam a fazer as ações de formação exigidas pela lei e a cumprir os trabalhosos e burocráticos procedimentos da avaliação do desempenho docente, mas depois isso não tem qualquer consequência nem no salário nem na progressão na carreira.

Não admira por isso que nas escolas cresça o desalento. Os professores, senão todos pelo menos a grande maioria, sentem-se pressionados, perseguidos e desrespeitados. Tentam não se sentir encurralados e não baixar os braços, mas isso é cada vez mais difícil.

Ora, as medidas que este governo pretende adotar vão piorar ainda mais essa situação. No próximo ano as direções de turma deixarão de fazer parte da componente letiva e por isso muitos professores darão mais uma hora de aulas do que davam. O ministro da Educação prometeu que o aumento da carga horária para 40 horas semanais não implicaria um aumento das horas letivas, mas existe o receio – infelizmente plausível, dados os antecedentes - de que a promessa não seja cumprida ou seja apenas cumprida formalmente e não na prática (por exemplo através da transferência dos 100 minutos de apoio para as horas não letivas, à semelhança do que vai acontecer com a direção de turma). Se a isso acrescentarmos a mobilidade especial e a possibilidade de ser obrigado a trabalhar muito longe de casa ou ir para o desemprego, ao desalento provocado pela falta de condições de trabalho juntam-se a insegurança e o medo.

Mas como é que professores que se sentem desalentados e com medo podem ser rigorosos e criativos nas aulas? Como é que conseguem ter autoridade diante dos alunos se são publicamente desrespeitados pelo governo? Um escravo pode ser obrigado a trabalhar se o trabalho implicar apenas força física, mas não se implicar inteligência e criatividade. Por isso, mesmo que, por hipótese, o governo tenha razão quanto à necessidade de austeridade, não tem razão relativamente ao modo como está a tratar os professores.

O dinheiro que o governo poupará com as medidas que quer adotar não compensará a despesa implicada pela diminuição da qualidade do ensino e com o insucesso escolar dela decorrente.

É por isso, e não por estarem a ser manipulados pelos sindicatos, que tantos professores fizeram greve às reuniões de avaliação e hoje não foram vigiar o exame de Português. E é também por isso que a greve não é contra mas sim a favor dos alunos.

2 comentários:

José Batista disse...

Parabéns.
Se me fosse permitido assinaria por baixo.
Obrigado.

Virginia disse...

Concordo em pleno.

Virgínia Barros ( professora aposentada)