Quadro de Jacques Louis David: "A morte de Sócrates", de 1787.
Se for verdadeiro aquilo que Platão conta no Fédon, Sócrates passou as últimas horas da sua vida a filosofar. Ele e alguns amigos discutiram se a alma é ou não imortal e se poderá ou não existir vida depois da morte. Pelo meio, reflectiram acerca do sentido da existência. Sócrates estava na prisão aguardando a hora da sua execução, uma vez que tinha sido condenado à morte. Consta que Sócrates teve oportunidade de fugir mas não o fez, pois não queria desobedecer à lei – apesar de considerar injusta a sua condenação. Sócrates estava calmo e sereno e por diversas vezes tranquilizou os seus comovidos e chorosos amigos. Ao longo do debate Sócrates incentivou várias vezes os amigos a apresentarem-lhes dificuldades e objecções e aconselhou-os a não se apressarem a concordar com ele.
A certa altura disse-lhes o seguinte:“Se querem um conselho, preocupem-se pouco com Sócrates e muito mais com a verdade! Se vos parecer que o que eu digo é verdadeiro, pois dêem-me razão; caso contrário, apresentem-me tudo o que têm a objectar. E vejam lá, não vá eu, no meu excesso de zelo, iludir-me a mim e a vós também, para logo me escapar como a abelha, depois de ter cravado o ferrão!”
Platão, Fédon, 91c, 5ª edição, Lisboa Editora, 1997, pág. 88.
5 comentários:
Já o nosso (salvo seja) Sócrates, aconselha a que lhe dêem razão antes de pensar. Digo eu, que não sei filosofar.
Muito boa sua postagem! Bom saber do livro!
Patrícia:
É de facto um grande livro. O debate sobre a imortalidade da alma já não é um assunto relevante em termos filosóficos, mas o que Platão lá descreve sobre o sentido da vida, a procura da verdade, a ética da argumentação, etc., continua a ser muito relevante. Além disso há passagens que são muito belas.
Não me lembrava desta precisa fala de Sócrates no Fédon, um excelente critério para qualquer tipo de diálogo ou discussão. Embora o tenha lido e estudado em tradução francesa, era noutros tempos, tem realmente "passagens muito belas" (CP salientou isso. É, quanto a mim um dos diálogos de Platão mais comovedores. Aliás também o é a A Apologia de Sócrates. Eleva ao sublime a nossa humana condição. (Claro que teria de demonstrar, pelo que não é mais do que uma mera opinião.
Não me lembrava desta passagem do Fedon, um excelente critério para qualquer discussão de qualquer índole, mas não tão fácil de seguir como isso. É junto com a Apologia de Sócrates dos diálogos mais comovedores de Platão. Atinge-nos de forma sublime na nossa humana condição.
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