sábado, 27 de junho de 2009

Reler os clássicos: a Antígona de Sófocles (1)

epidauro

Epidauro, um anfiteatro grego, construído na Grécia Antiga.

Hoje vive-se um ambiente, na política em geral e na educação em particular, que não é, utilizando palavras suaves, intelectualmente estimulante. Aproveitar para reler alguns textos clássicos (como a Antígona de Sófocles, por exemplo) pode-nos ajudar a fazer face às constantes tentativas – levadas a cabo pelo Governo, nomeadamente pelo Ministério da Educação - de ficcionar a realidade, pois permite-nos distinguir o que é essencial.

Muitas polémicas políticas que enchem os jornais e os blogues são manobras de diversão, fazem parte de estratégias eleitorais que visam distrair os eleitores do que verdadeiramente importa: a análise dos resultados efectivos das políticas implementadas durante esta legislatura.

Se pensamos no balanço que pode ser feito ao nível da educação, nomeadamente a aplicação do modelo simplex na avaliação do desempenho docente, os resultados obtidos são confrangedores.

Quando o Conselho Científico para a avaliação dos professores emite conclusões (ver aqui e aqui) que põem em causa a imparcialidade e a justeza do processo em curso. Quando o Primeiro Ministro, numa tardia auto-crítica, reconhece publicamente alguns dos problemas verificados na aplicação deste modelo de avaliação (ver aqui). É caso para perguntar: resta o quê deste modelo de avaliação?

A sua aplicação contribui para uma melhoria da qualidade do ensino e da aprendizagem? Se não contribui, como se justifica que ainda se mantenha em vigor?

Vamos todos continuar caladinhos a fazer de conta que vivemos no melhor sistema educativo possível, onde os alunos, a avaliar pelos resultados das provas realizadas a nível nacional, aprendem muito e muito bem?

Para descrever a actual situação na educação (e, infelizmente, noutros sectores da sociedade portuguesa) talvez possam usar-se as sábias palavras que Tirésias, o adivinho, dirige a Creonte para o dissuadir de matar Antígona:

“Reflecte pois nisto meu filho. Errar é comum a todos os homens. Mas quando errou, não é imprudente nem desgraçado aquele que, depois de ter caído no mal, lhe dá remédio e não permanece obstinado. A teimosia merece o nome de estupidez.”

Sófocles, Antígona, traduzido do grego por Maria Helena da Rocha Pereira, Edição Fundação Calouste Gulbenkian, 8ª Edição, Lisboa 2008, pp. 97.

6 comentários:

Carlos Botelho disse...

Citação adequada!

Sara Raposo disse...

Carlos:
Agradeço as tuas palavras.
Apesar de terem passado tantos séculos, parece-me que a natureza humana não mudou assim tanto e as sábias palavras de Sófocles continuam a ser pertinentes e actuais.

Anónimo disse...

Também gostei da citação. e infelizmente gostei da análise.
Wanda

Anónimo disse...

Estou a ler um livro chamado "The Interpretation of Murder" de Jed Rubenfeld que conta uma história na qual Freud é uma das personagens principais. Assim, o livro permite-nos aprender algo sobre a vida e as ideias deste senhor.
Achei interessante partilhar este facto já que o complexo de édipo (uma das bases para toda a ideologia de Freud) foi criada com base numa tragédia de sófocles.

Sara Raposo disse...

Obrigada por partilhar as suas leituras, não conheço o livro que refere.
Sugiro-lhe, se tem interesse pelas ideias de Freud, que leia, além do texto do Édipo Rei de Sófocles, alguns dos textos do próprio Freud que se encontram traduzidos em português. Independentemente de concordarmos ou não com as ideias de Freud, ele é considerado um bom escritor e a leitura dos textos originais do próprio autor (que julgo serem acessíveis) poupa-nos as interpretações dos comentadores que, por vezes, não primam pela clareza.

Anónimo disse...

obrigado pelo conselho. Irei com certeza ler algumas das obras escritas pelo próprio Freud pois achei interessante o modo como ele analisa a mente humana.