«As pessoas ponderadas afirmam que o amor romântico [que se distingue do amor pelos filhos, pelos pais, pelos amigos...] não é um bom meio para conhecer alguém – pela razão apontada por Stendhal, de que envolvemos o objecto do amor em camadas de cristal e observamos uma visão, ao invés da pessoa, durante todo o tempo que dura o arrebatamento. Nesta perspectiva, trata-se de um estado delirante e o facto de ser [muitas vezes] breve é, portanto, positivo.
Outras pessoas pensam que o amor romântico é a única coisa que nos permite atravessar as camadas que isolam convencionalmente os indivíduos uns dos outros, desnudando a alma a outrem e possibilitando a verdadeira comunicação – aquela que fala a linguagem da intimidade, não através de palavras, mas de prazeres e desejos.
A. C. Grayling, O significado das coisas, Lisboa, 2002, Edições Gradiva, pp. 99-101.
Eis outra (e filosoficamente mais relevante) questão a propósito do “amor romântico” (mais conhecido por amor): será que este contribui para diminuir, ou mesmo anular, o livre-arbítrio? Fica para outro post, também acompanhado por uma canção de Frank Sinatra.
2 comentários:
também acho que o amor não é meio sequer para se conhecer alguém...acredito que se ame o que ou quem se conhece :-)
creio também que a paixão é cega. o amor aceita os outros com as características negativas...mas quem sou eu, para além duma romântica incurável? E também gostaria de saber se é uma característica construída, ou se já nasci assim:-)
Ana:
Julgo que as relações que estabeleceu não são necessárias, ou seja, nuns casos pode ser da maneira como diz e noutros não.
Por exemplo: algumas pessoas podem amar quem conhecem e compreendem muito mal; a paixão (= um amor muito forte?) pode não ser cega e sim lúcida, pois uma pessoa pode estar simultaneamente apaixonadíssima e consciente dos defeitos de outra; etc.
Claro que não sei se a Ana já nasceu assim ou se se tornou assim ao longo da vida. :)
Enviar um comentário