Quando alguém propõe discutir publicamente assuntos como o casamento dos homossexuais ou a eutanásia, e se coloca a possibilidade de alterar a legislação existente a seu respeito, há sempre pessoas que, em vez de argumentarem a favor ou contra, procuram fugir à questão, alegando que há assuntos mais urgentes para nos preocuparmos. Claro que, se lhes dermos ouvidos, o casamento dos homossexuais ou a eutanásia nunca serão publicamente debatidos e as leis jamais mudarão.
Um argumento que por vezes se utiliza contra o estudo da Filosofia é o facto da vida humana ser demasiado curta para discutir assuntos supostamente tão abstractos como a justiça, a liberdade ou a beleza – sobretudo quando existem problemas mais imediatos e prementes como a crise económica e a guerra do Iraque, para não falar no penalti escandalosamente roubado pelo árbitro no domingo passado.
Tendo em conta que na sociedade portuguesa muitas pessoas atribuem pouco valor à escola e ao conhecimento, a situação retratada no cartoon não é tão irreal como pode parecer à primeira vista.
Cartoon encontrado no blogue Quarks e Gluões.
4 comentários:
Há realmente um problema muito grande, e este, infelizmente, não é só da sociedade portuguesa.
Principalmente na faixa etária mais jovem há uma indiferença muito grande em relação a temas actuais e sociais. São poucos os jovens que têm uma opinião formada e ainda menos os que fazem questão de a demonstrar e debater.
Questões como a homossexualidade e a eutanásia ainda são vistas com muito preconceito por esta sociedade (tanto pelos mais jovens como pelos mais velhos) e enquanto assim for nunca se conseguirá debater conscientemente estas questões.
Cátia:
A falta de disponibilidade para discutir (e, atenção, discutir não implica concordar com as mudanças) certos problemas deve-se muitas vezes à existência de preconceitos (no caso de alguns políticos não se trata exactamente de preconceitos pessoais mas do medo de enfrentar os eventuais preconceitos dos eleitores).
Mas não só: há também muita apatia e indiferença e desinteresse por tudo aquilo que não seja imediato e pessoal. Isso vê-se bem nas enormes percentagens de abstenção em todos os actos eleitorais - não só eleições políticas como os referendos acerca do aborto.
Relativamente a essa apatia creio que os jovens, na sua maioria (e não na totalidade, claro) são ainda piores que as pessoas mais velhas.
Quanto aos preconceitos... pelo que observo nas aulas são geralmente menos preconceituosos que as gerações mais velhas.
A filosofia ocupa um papel importante na vida de todos nós, mesmo sem nos apercebermos estamos a utiliza-la quando pedimos aos nossos pais para nos deixarem saír e estes negam recorremos sempre a justificações como " tive boas notas, ou portei-me bem", isto é argumentação.
O que a disciplina de filosofia faz é colocar-nos a pensar sobre coisas que a sociedade nos quer impingir e que se as analisar-mos podem não ser o que inicialmente parecem.
Suscistando assim o nosso espírito crítico para deixar-mos de ser as marionetas do governo por exemplo e passarmos a ver o que nos rodeia tal qual é e não como as outras pessoas querem que vejámos.
Esta disciplina serve também para acordar muitas mentes preguiçosas, que não se dão ao trabalho de pensarem no que devem ou não devem fazer deixando-se levar muitas vezes pelo que os outros dizem (na adolescência isso é frequente). Todos nós temos capacidade para ver o que está certo ou errado, o que é bom ou mau para nós (não me estou a referir a pessoas portadoras de doenças que estejam impossibilitadas de executar esta acção), a filosofia é como uma espécie de despertador faz-nos despertar do mundo onde tudo está certo para o mundo que está coberto de remendos que são ocultados para que não sejam visíveis à " vista desarmada".
Só pensando nas coisas conseguimos descobrir o que elas verdadeiramente são.
Bom comentário, Tatiana!
Espero que continue a ouvir esse despertador ao longo da sua vida!
Só uma observação:
a filosofia e o exercício do pensamento crítico não nos faz discordar necessariamente das outras pessoas, do governo, etc. O que importa é que pensemos nos assuntos com a nossa própria cabeça em vez de nos limitarmos a concordar com a tradição, com a autoridade, etc.
Se após uma reflexão cuidadosa concluirmos que em relação a uma certa coisa o governo ou a maioria das pessoas tem razão, concordar não significa falta de pensamento crítico nem de autonomia intelectual.
O que conta é o valor dos próprios argumentos e não a pessoa do argumentador (nem que sejamos nós!).
Boas férias! E, já agora, aproveite para ler uns livros.
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