sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

O que é o amor?


Fotografia de Cartier-Bresson: Boulevard Diderot

Quando uma pessoa ama outra ocorrem no seu cérebro diversos fenómenos neurológicos. As crenças e tradições assimiladas no processo de socialização têm também um papel decisivo no comportamento amoroso. Há décadas atrás esses factos não eram conhecidos.
Actualmente, restará no amor algum tópico filosófico ou é tudo uma questão de sinapses, neurotransmissores e padrões culturais?

Sucederá ao amor o mesmo que sucedeu à origem do mundo (refiro-me ao princípio do Universo e não ao quadro de Gustave Courbet)? Há séculos atrás esse era um problema filosófico. Actualmente é um tema (embora ainda problemático) da Física e da Astronomia.
Será que, na actualidade, o amor ainda é um tema filosófico? Ou, pelo contrário, tudo o que há a dizer sobre esse sentimento diz respeito a ciências empíricas como a Biologia, a Psicologia e a Sociologia?

Seja qual for a resposta que a cara leitora ou caro leitor dê a essas questões, o aspecto mais relevante em termos filosóficos está associado a esta outra questão:
Porquê?

4 comentários:

Porfirio Silva disse...

Uma coisa me faz confusão: por qual razão um dado problema (a orgiem do mundo, no caso) deve ser OU da filosofia OU de certas disciplinas científicas?
Penso que mesmo o ainda-quase-positivista Karl Popper explicou, há tempo suficiente para se ter percebido, que não há maneira de separar claramente o que é física e o que é metafisica - com a consequência de que a tentativa de "expulsar" a metafísica da ciência só pode tornar a própria ciência limitada ou até vesga.
Mas, enfim: entre nós faz uma certa carreira triunfante uma ideia acerca do que é a filosofia, a qual autoriza esta forma de ver as coisas.
Ainda por cima, tratando-se também de "fenómenos neurológicos", era mais do que necessário perceber que os "dados científicos" podem, só por si, não valer de nada - sem filosofia associada...
Mas isto sou eu a dizer, claro...
Saudações filosóficas.

Carlos Pires disse...

Talvez a divergência entre o que o Porfirio escreveu e o que eu escrevi seja apenas terminológica.

Muitos problemas têm aspectos filosóficos e aspectos físicos, biológicos, etc. Em vez de dizer que são problemas diferentes é preferível dizer que são aspectos diferentes do mesmo problema.

Seja como for,creio que não é simplista nem positivista distinguir os aspectos que são filosóficos dos que não são - mesmo que as fronteiras dessa distinção mudem um pouco com o aparecimento de novos dados.

O facto de se tentar distinguir os aspectos filosóficos dos aspectos não filosóficos de um problema não significa que a filosofia e as ciências não possam ser mutuamente úteis. Por exemplo: a informação empírica derivada da genética e da neurologia é certamente muito relevante na reflexão filosófica acerca do livre-arbítrio.

Mas isso não significa, por outro lado, que todos os problemas tenham necessariamente aspectos filosóficos e não filosóficos. O problema da existência de Deus é um problema apenas filosófico - na medida em que é distinto das abordagens psicológicas, sociológicas, etc. da religião.

Tatiana Nogueira disse...

Penso que não seja relevante a "separação", por exemplo o assunto A tem de ser resolvido pela ciência A e o assunto B resolvido pela ciência B, não vejo qualquer obstáculo a resolução de "problemas" por parte de várias de ciências. Quase todos os temas, se não mesmo todos tiveram origem na filosifia, como por exemplo houve a filosofia da religião, a filosofia da natureza e ainda há, porém algumas delas têm um nome diferente.
Agora já não é filosofia da natureza mas ciências naturais e geologia por exemplo.
Os problemas podem ser estudados por várias ciência que consoante o seu metódo de trabalho nos apresentará diversas resoluções.
Se pusermos um professor de ciências, um de filosofia e outro de Religião Moral por exemplo a falar sobre a existência de Deus, provavelmente teremos 3 respostas distintas para o mesmo problema, o prof. de ciência certamente falará no " big bang" e o surgimento de moléculas, este irá basear-se em estudos ainda não comprovados, o professor de filosofia irá argumentar baseando-se na opinião de filósofos que tentarem solucionar o problema mas não conseguiram e o de Religão Moral na criação do Universo, efectuada por Deus. Porém nenhuma das 3 justificações está livre de uma possível refutação.
Pois o facto de haver várias justificações significa que ainda não chegámos a que realmente solucionará o problema.
Ora isto leva-nos ao argumento da melhor explicação que nos diz que enquanto não descobrímos a real justificação devemos aceitar a que nos parece mais plausível.

Carlos Pires disse...

Tatiana:

Claro que a colaboração de várias disciplinas pode ser útil. As suas abordagens - se forem racionais - podem ser complementares.

Obrigado pelo comentário.