Quadro do pintor Georg Baselitz, intitulado Oberon (Remix) de 2005.
Sólon, um famoso legislador ateniense, numa das inúmeras viagens que realizou foi visitar o rei Creso a Sardes. A propósito desta visita Heródoto relata o seguinte:
«À sua chegada, foi hospedado por Creso no seu palácio. Depois, no terceiro e no quarto dia, por ordem de Creso, os servidores passearam Sólon pelos tesouros e mostraram-lhe toda a riqueza e opulência aí existentes. Depois de ter observado e examinado tudo, quando considerou o momento oportuno, Creso perguntou-lhe: “Hóspede ateniense, até nós chegaram muitas vezes relatos a teu respeito, por causa da tua sabedoria e das tuas viagens, como, por amor à sabedoria, tens percorrido toda a terra, levado pela curiosidade. Veio-me agora o desejo de te perguntar se já viste alguém que fosse o mais feliz dos homens”. Interrogou-o dessa forma, na esperança de ser ele o mais feliz de todos, mas Sólon, sem qualquer lisonja e com sinceridade, responde: “Sim, ó rei, Telo de Atenas”. Surpreendido com a resposta, Creso perguntou com interesse: “Porque julgas que Telo é o mais feliz?” E ele explicou: “Natural de uma cidade próspera, por um lado, teve filhos belos e bons e de todos eles viu nascerem filhos e todos permanecerem com vida; por outro lado, depois de gozar uma vida próspera, para o nosso meio, teve o mais brilhante termo de vida. Declarada guerra pelos Atenienses contra os seus vizinhos de Elêusis, ele ocorreu em auxílio, provocou a fuga dos inimigos e morreu da forma mais gloriosa. Os Atenienses sepultaram-no com exéquias públicas no próprio local em que tombou e tributaram-lhe grandes honras.”
“ (…) Ora, no longo tempo de uma vida, há ocasião para ver e padecer muitas coisas que uma pessoa não queria (…). É necessário ver o fim de cada coisa e como se vai concluir. É que a muitos deixa o deus a felicidade e depois os abate sem apelo”.
Ao falar assim, Sólon não agradou nada a Creso e foi despedido, sem dele receber qualquer palavra. Considerava grande estultícia que alguém, sem ter em conta os bens presentes, aconselhasse a observar o fim de cada coisa».
Heródoto, Histórias (livro 1º), Lisboa, 1994, Edições 70, pp. 74-77.
Estas duas concepções opostas de felicidade - de Creso e Sólon – continuarão a dizer-nos alguma coisa?
Ou estarão, do ponto de vista histórico, completamente ultrapassadas?
2 comentários:
Creio que jamais estarão ultrapassadas.
Bom, passo por aqui para avisar. O Xis-xis mudou de endereço. Quero que se sinta em casa: http://scienceblogs.com.br/xisxis/
Abraços e boa semana!
Isis:
Julgo que a resposta à questão colocada depende de inúmeros factores, nomeadamente do indivíduo e da cultura em causa.
Agradeço a sua informação- Espero que esta também seja uma casa aprazível para si!
Cumprimentos.
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