quarta-feira, 8 de julho de 2009

Seremos responsáveis pelo futuro?

Se o senhor Roberto agredir propositadamente o senhor Luís, é – e isto é consensual - considerado responsável pelo sucedido. O culpado pelo sofrimento do senhor Luís é o senhor Roberto!

Mas, e se o senhor Roberto e o senhor Luís viverem em épocas diferentes e o senhor Roberto fizer propositadamente algo (poluir irremediavelmente um ribeiro, por exemplo) que irá prejudicar o senhor Luís daqui a algumas décadas? Será correcto responsabilizar moralmente o senhor Roberto por esse prejuízo? Será correcto tentar impedi-lo, através dos recursos legais de um Estado de Direito, de realizar tais acções?

A nossa responsabilidade moral cinge-se apenas ao presente ou estende-se ao futuro? Caso se possa mostrar que algumas acções que realizamos no presente terão  consequências futuras muito danosas, haverá algum motivo racional para não as censurar moralmente e não tentar impedir – através da criação de leis – a sua realização?

E, se em vez das acções de um indivíduo, como o senhor Roberto, estivermos a considerar as acções de um Estado – a resposta a essas perguntas alterar-se-á?

Estas são algumas das questões que vale a pena fazer perante esta notícia do jornal Público:

«O esboço da declaração que está a ser preparada para o encontro das 17 nações do MEF (Fórum das Grandes Economias, representando 80 por cento das emissões poluentes) na cimeira do G8 em Itália, que começa hoje, deixou cair qualquer referência à meta de reduzir 50 por cento das emissões de gases com efeito de estufa (GEE) até 2050.»

3 comentários:

Anónimo disse...

O ambiente é de facto um tema global alarmante, sem dúvida que sem a Terra, a nossa derradeira casa, não conseguiríamos viver. No entanto, não concordo que as nossas acções sejam penalizadas pelas suas consequências no futuro. Isto
porque é impossível saber. A vida é feita de escolhas, ir à praia em vez de ir ao cinema, comer morangos em vez de melão, etc... Imaginemos que daqui a muitos anos, haverá uma escassez de melão resultante de maus anos agrícolas e tempos atmosféricos desfavoráveis à produção. Serei eu culpado por escolher comer morangos hoje? Como poderia eu saber?
(Não sei se é uma Redução ao Absurdo, mas não é essa a minha intenção)
No entanto, concordo com a penalização das indústrias poluentes. Existe um efeito imediato que apenas se agrava com o futuro. Não sei se consigo expressar as minhas ideias com clareza, mas a minha crença base é a de que esta regra não poderia ser utilizada para tudo.
Seria impossível prever e calcular todos as nossas acções, mesmo as más que por vezes são necessárias. Um empresário que despede o seu empregado, deverá ser acusado legalmente se este se suicidar? Como poderia ele saber?
Se um professor meu me der uma classificação negativa no comportamento, (suponhamos que estava indeciso num 9 ou num 10 e que decidiu dar 9) e se a média geral acabasse por dar negativa pelo comportamento, dando origem a uma classificação final negativa, teria o meu professor culpa se eu acabasse por ser uma pessoa falhada pessoalmente, sempre atormentado por aquela nota? Como poderia ele saber?
E uma outra visão: e se nos responsabilizarem por gastarmos electricidade em sites como o Google em vez de algo como o Blackle? Deveríamos ser multados por usar o Google? Será que não temos o direito de ser um pouco egoístas e viver um pouco para nós próprios?
Talvez o impacto do Google seja mínimo, o impacto de comer morangos em vez de melões seja mínimo, talvez esteja a desenvolver uma "visão curta" do que poderia acontecer, mas com os casos que consigo conceber, esta regra não me parece justa.
Boas Férias,
Eurico Graça

Carlos Pires disse...

Olá Eurico!

Bom comentário!

É preciso distinguir o Direito e a Ética. Nem tudo o que achamos eticamente errado pode (nem deve, aliás) ser contemplado em normas jurídicas. Por exemplo: mentir à namorada pode ser eticamente errado mas daí não se segue que deva haver normas jurídicas proibindo e penalizando tal acção.

Quando se fala em proibições e penalizações legais, claro que se tem em mente casos graves e objectivos como as indústrias poluentes e não o consumo de morangos.

Em relação a casos menos graves pode-se colocar a questão da sua moralidade ou imoralidade, embora não faça sentido dar-lhes um enquadramento jurídico. Por exemplo: se utilizar plástico é mais poluente que utilizar de vidro é ou não contrário à ética utilizar plástico?
(Sei de pessoas que andam com um copo de vidro na mochila para não utilizarem copos de plástico nas máquinas de água e de café – será que não temos todos o dever de fazer o mesmo?)

O sentido do post é este: Para determinar isso (se é ou não contrário à ética…) deve-se considerar apenas as consequências presentes ou também as futuras?

Claro que não é fácil calcular as consequências futuras. Claro que nos podemos enganar. Mas será essa possibilidade de erro razão suficiente para excluir os seres futuros da nossa ponderação ética?

Ainda não tive oportunidade de espreitar as pautas mas espero que o Eurico e todos os seus colegas tenham obtido boas notas nos exames!

(Espero também que o calor do verão não o impeça de ler 20 ou 30 livros – ou pelo menos 13 – e de dar uma ocasional espreitadela no DM!)

Votos de boas férias!

Anónimo disse...

Boa noite caros amigos, estou a fazer um trabalho sobre o ambiente, mais propriamente a acção da Humanidade na Terra, até que ponto somos culpados pela destruição da nossa "casa". E ao pesquisar encontrei este blog, que me suscitou alguma atenção, e aqui expresso a minha opinião, que vale o que vale.Infelizmente maior parte dos terrestres não fazem ideia da importância que é conservarmos o nosso Planeta, uns por desconhecimento e outros por ignorância. Os que não conhecem a causa, tem que ser alertados, mas os ignorantes não têm desculpas pois são eles que nos estão a matar aos poucos...As grandes economias têm que andar para a frente,mesmo que se tenha que comprar guerras, que tenham que morrer milhares de pessoas. O importante é controlar o ouro negro, até um dia, pois acho que esta fonte de energia não é renovável. Para finalizar a ética, é relativa, pois poder deixar um mundo melhor para os que ainda aí vêm para mim é ético, mas para outra pessoa pode não ser. Contudo, esta questão não deveria ser ética mas sim moral, pois se fosse moral todos nós teríamos contas a prestar a alguém "juridicamente"...Mas isto já são outros quinhentos amigos, é melhor ficarmos por aqui e na medida das nossas possibilidades lutarmos por um mundo melhor...