quinta-feira, 30 de julho de 2009

Os paradoxais frutos do facilitismo

O facilitismo que tem caracterizado as políticas educativas (deste governo e dos anteriores) dá nisto: se os exames não são escandalosamente fáceis os resultados são maus.

Segundo o jornal Público, “todos os exames do ensino secundário mais concorridos tiveram média negativa na segunda fase. Aconteceu assim a Português e Matemática: na língua materna, da primeira para a segunda fase, a média desceu de 11 para 8,9; e a Matemática de 10 para 8,8. Nas disciplinas que já tinham tido média negativa na primeira fase, o desempenho ainda foi pior agora. A média em Física e Química passou de 8,4 para 8,0, enquanto em Biologia e Geologia desceu de 9,5 para 8,8”.

Nos últimos anos a educação em Portugal tem sofrido reformas e alterações constantes – muitas delas avulsas e incoerentes. Mas continuamos a precisar de mudar. A educação portuguesa continua a precisar de ser reformada.

Esperemos que desta vez se perceba que a mudança tem de ser feita com a cabeça e não com os pés!

8 comentários:

Anónimo disse...

Não é nada bonito ou aconselhável citar acriticamente um jornal. Claro que aqui interessa desancar no governo e por isso tudo serve. Não só não se podem comparar resultados da 1a e 2a fase dos exames, como olhar apenas para os resultados globais é enganador. Deviam ser comparados apenas os resultados dos exames dos alunos internos. E aí não há hecatombe. Matemática A teve 10,5 de média contra 10,6 no ano passado. Não vejo anormalidade. Fisica e Biologia são inferiores, mas há outras que são superiores ao ano passado como Geografia A, Desenho A e Historia A. Parece-me normal!

Carlos Pires disse...

Caro anónimo:

Não percebeu o post.

Em primeiro lugar, no post não se critica especificamente este governo, mas sim “as políticas educativas (deste governo e dos anteriores)”. Repare no final da frase: “e dos anteriores”.
A triste verdade é que em relação à promoção do facilitismo este governo não é original, embora nesse aspecto tenha conseguido ser mais eficaz que os outros. Outra parte dessa triste verdade é que os defensores teóricos do facilitismo (os ideólogos do “eduquês”) se encontram espalhados por vários partidos políticos e conspurcam com as suas nefastas ideias não só o partido que apoia o governo como os partidos da oposição.

Em segundo lugar, os maus resultados dos exames são uma constante quando não há aldrabices facilitistas (e nessa aldrabice não há responsabilidade dos governos anteriores, mas apenas deste) – e o facto de no ano passado e neste alguns exames merecerem essa qualificação foi demonstrado por observadores de inegável competência, alguns deles estrangeiros. O que leva a esses maus resultados é algo que está a correr há muitos anos – seria quase tão estúpido responsabilizar este governo por isso como pretender (como este governo pretendeu) que a melhoria dos resultados de Matemática no ano passado (em que os exames foram escandalosamente fáceis) se devia ao plano de acção para a matemática (PAM), que estava apenas em aplicação no ensino básico.
O significado desses maus resultados está muito para além de comparações (que devem ser feitas!) entre a 1ª e a 2ª fases, entre este ano lectivo e os anteriores, entre os alunos internos e externos, entre disciplinas diferentes, entre escolas diferentes, etc.

Em terceiro lugar: o que não é de facto bonito nem aconselhável é a parcialidade e a desonestidade intelectual que o caro anónimo revela na defesa do governo.

Em quarto lugar: se der uma vista de olhos no blogue (o que não o deve interessar, pois, contrariamente ao que insinuou, não tem aplicação política e partidária) verá que, independentemente de desancar ou não desancar no governo, nos interessam muitas coisas diferentes e todos elas têm relevância educativa, cultural e filosófica.

Em quinto lugar: o anonimato não é bonito nem aconselhável, mas sim uma grande cobardia.

Anónimo disse...

Esta ministra da educação é a melhor ministra da educação que já houve em Portugal. Só não fez mais reformas porque os malandros dos professores não deixaram.
J.C.

Carlos Pires disse...

JC:

Há certamente muitos professores que são malandros. Mas todos? É improvável, para não dizer mais.

Não faz sentido fazer reformas só por fazer. As reformas têm que fazer sentido: a emenda não pode ser pior que o soneto.

Há cerca de 140 mil professores em Portugal.
Muitos querem que as coisas mudem. Por exemplo, querem ser avaliados para que o seu mérito seja reconhecido e recompensado.
Há outros que não são assim e não querem que nada mude e estarão sempre contra toda e qualquer forma de avaliação. Isso não é surpreendente. É assim que as coisas são em todas as sociedades e grupos sociais.
Quando o poder político pretende fazer mudanças e implementar reformas deve contar com a resistência dos segundos. Os sociólogos chamam a isso resistência à mudança.
Para ultrapassar essa resistência, manda a estratégia política e o bom senso que o poder político se apoie nos sectores reformistas do grupo atingido pelas mudanças - no caso os professores que querem mudanças, que querem ser avaliados, etc.
Este governo (e os seus defensores, como se vê pelo seu comentário e pelo comentário anónimo) hostilizou não só os professores que não querem mudanças como os professores que as querem; ou seja: desprezou os melhores aliados que podia ter.

Inabilidade política, falta de ideias claras sobre a educação (a influência do "eduquês" é um ácido corrosivo que estraga tudo o que está próximo) e também ignorância sociológica. Curiosamente, a ministra é socióloga.

Anónimo disse...

Quando se acusa um interlocutor de "desonestidade intelectual" é porque faltam argumentos e claro.. quem discorda só pode ser um defensor do governo e fica tudo arrumado. Sim, isso é discussão de alto nível!
Aquilo que faz é efectivamente desancar no governo (e noutros, mas isso é marginal) com resultados que estão mal apresentados. E claro vem a "promoção do facilitismo". Não sei como sequer existem exames para quem quer promover o facilitismo. Tanta teoria da conspiração não é obviamente sustentável, mas com este tipo de argumentação que ignora os dados concretos da realidade e os substitui por pinceladas impressionistas (e isso sim é mesmo eduquês) não se vai longe.

Carlos Pires disse...

Caro Anónimo:

Acusou-me daquilo que fez. Isso é desonestidade mental. Dizê-lo não é falta de argumentos, mas afirmar o óbvio.
Se ler outra vez o post, a minha reposta ao comentário do leitor JC, e já agora um ou outro post do DM, verá que não tenho propriamente falta de argumentos.

E assino o que escrevo. Não me escondo cobardemente atrás do anonimato.

José Ricardo Costa disse...

Caro Carlos Pires,

Perdoe-me a intromissão. Mas não consigo entender como tem coragem de dar conversa a certas pessoas. Pelo segundo comentário dá logo para perceber ao que vem o anonimozito. Cá para mim ainda é aquela besta da CONFAP disfarçado.

A Filosofia pode ser a arte de argumentar. Mas só é possível argumentar quando se está de boa-fé na discussão.

Abraço,

JR

Carlos Pires disse...

JR:

A intromissão é bem vinda.

Não é preciso grande coragem para responder a pessoas da estirpe dos anónimos, mas é verdade que acaba por ser inútil. O sectarismo partidário torna-os ceguetas.

Mesmo assim, creio que os professores devem tentar explicar à sociedade o que se está a passar nas escolas. Muitas pessoas não têm noção da gravidade dos problemas. Não sabem, por exemplo, que as leis actuais permitem que no básico um aluno passe de ano com 8 ou 9 negativas.
É preciso falar publicamente dessas coisas senão isto nunca mais melhora. A esse respeito talvez valha a pena dar uma espreitadela aqui: http://aula-aberta.blogspot.com/

Abraço