segunda-feira, 23 de março de 2009

O argumento ontológico

“O argumento ontológico é uma tentativa de mostrar que a existência de Deus se segue necessariamente da definição de Deus como o ser supremo. Porque esta conclusão pode ser retirada sem recorrer à experiência, diz-se que é um argumento a priori.
De acordo com o argumento ontológico, Deus define-se como o ser mais perfeito que é possível imaginar; ou, na mais famosa formulação do argumento, a de Santo Anselmo (1033-1109), Deus define-se como “aquele ser maior do que o qual nada pode ser concebido”. A existência seria um dos aspectos desta perfeição ou grandiosidade. Um ser perfeito não seria perfeito se não existisse. Consequentemente, da definição de Deus seguir-se-ia que Deus existe necessariamente, tal como se segue da definição de um triângulo que a soma dos seus ângulos internos será de 180 graus.
Este argumento, que tem sido usado por muitos filósofos, incluindo René Descartes (1596-1650), na quinta das suas meditações, não convenceu muita gente; mas não é fácil de ver exactamente o que há de errado nele.”

Nigel Warburton, Elementos Básicos de Filosofia, 2ª edição, 2007, Lisboa, pp. 40-41.

O argumento ontológico tem sido alvo de diversas objecções, inclusivamente por parte de filósofos que defendem a existência de Deus.

Consegue pensar em alguma objecção contra esse argumento?

9 comentários:

João Pedro disse...

Estrutura do argumento:

Deus acumula todas as perfeições.
Existir é melhor do que não existir.
Logo, Deus existe.

O argumento é válido e dedutivo.

Vamos assumir que a segunda premissa é verdadeira.

Se ela for verdadeira, ao dizermos que Deus acumula todas as perfeições, já estamos a assumir que Ele existe.

Logo, este argumento é falaciosamente circular. Isto, porque a sua conslusão é assumida tida como verdadeira nas premissas

João Pedro disse...

Onde se lê "assumida tida", deve-se ler só um verbo, deixo à escolha do freguês.

Anónimo disse...

Será o argumento falaciosamente circular ou circularmente falacioso? Parece-me ser a segunda forma a que se encontra correcta.

Carlos Pires disse...

João Pedro:

A reconstituição do argumento ontológico que apresentou não é boa. Se fosse assim seria um argumento circular. Mas não é o caso.
O argumento ontológico é criticável de diversas formas, mas não dessa.
O ponto de partida do argumento não é “Deus acumula todas as perfeições”, mas sim – mantendo parte da sua expressão – “a ideia de Deus é a ideia de um ser que acumula todas as perfeições”.
Este argumento caracteriza-se precisamente por isso: por tentar deduzir a existência de Deus a partir do facto de termos a sua ideia. O que é muito provavelmente incorrecto, mas não circular: uma coisa é a ideia de X e outra coisa diferente é X.

Daqui a 2 ou 3 dias tenciono publicar um post sobre o argumento ontológico (um diálogo em que alguém apresenta o argumento para convencer um ateu de que Deus existe). Pode ser que o esclareça melhor.

Obrigado pelo comentário.

Carlos Pires disse...

Caro anónimo:

Como procurei explicar no comentário anterior, o argumento ontológico não é circular.

Seja como for, não consigo perceber que diferença possa haver entre "falaciosamente circular" e "circularmente falacioso".

João Pedro disse...

Caro Carlos Pires:

Obrigado pela resposta.
Já vi o meu erro.

A reconstituição do argumento será:

A ideia de Deus é a ideia de um ser que acumula todas as perfeições.
Existir é melhor do que não existir.
Logo, Deus existe.


Alguma coisa tem de haver de mal com o argumento, pois ele pode ser facilmente levado ao absurdo.

Vejamos:

Tenho a ideia de um ser que acumula todas as perfeições excepto a da honestidade (podíamos usar outras qualidades).
Existir é melhor do que não existir.
Logo, um ser que acumula todas as perfeições excepto a da honestidade existe.


Fico à espera do referido diálogo.



Quanto à questão do falaciosamente circular e circularmente falacioso, penso que o anónimo tem razão.
Ser-se circularmente falacioso parece implicar que se possa ser falacioso sem ser circular: isto está correcto.
Ser-se falaciosamente circular parece implicar que se possa ser circular sem ser falacioso: isto está incorrecto.

Assim, apesar de aceitar que se trata de uma preciosidade, a expressão "circularmente falacioso" é a mais correcta.

Cumprimentos!

Carlos Pires disse...

Claro que se pode ser falacioso sem ser circular (mas não o contrário). Mas isso não é exprimível através da expressão "circularmente falacioso" (como seria possível? Então e o 'circularmente'?).

De resto, para quê complicar o que é simples? Discutir ideias vale a pena. Discutir palavras formuladas de modo pouco claro não vale a pena.

Anónimo disse...

eu posso pensar numa igualdade social,mas a real sociedade não e igual a que estou pensando,a sociedade que estou pensando e um ideal,e o ideal não tem as mesmas transformações do acontecimento,então e só uma ideia e a ideia e diferente do real

Anónimo disse...

o ser humano e imperfeito,deus e perfeito,o homem pode ver a imperfeição,mas não pode ver a perfeição,por que o homem não e perfeito,so quem pode ver a perfeição e aquele que e perfeito,logo,deus existe