Primo Levi - um jovem químico italiano de origem judaica, deportado para Auschwitz em 1944 – descreveu a sua experiência, neste campo de extermínio nazi, no livro “Se isto é um homem”.
Para ilustrar o significado atribuído por Kant a uma acção praticada por dever, costumo citar nas aulas este excerto:
“ (…) um operário civil italiano (Lorenzo) trouxe-me um bocado de pão (…), todos os dias, durante seis meses; ofereceu-me uma camisola sua cheia de remendos; escreveu por mim um postal para Itália e fez-me chegar a resposta. Por tudo isto, não pediu nem aceitou alguma compensação, porque era bom e simples, e não achava que o bem devesse fazer-se para obter compensações.
(…) creio que devo justamente a Lorenzo o facto de estar vivo hoje; não tanto pela sua ajuda material, quanto por me ter constantemente lembrado com a sua presença, com a sua maneira tão linear e fácil de ser bom, que ainda existia um mundo justo para além do nosso, algo e alguém ainda puro e incontaminado, não corrupto e não selvagem alheio ao ódio e ao medo; algo que mal se pode definir, uma remota possibilidade de bem, pela qual, porém, valia a pena conservar-se.
As personagens destas páginas não são homens. A sua humanidade está sepultada, ou eles mesmos a sepultaram, debaixo da ofensa que sofreram ou que infligiram a outrem. Os SS maus e estúpidos, os políticos, os criminosos, os proeminentes grandes e pequenos (…) todos os degraus da insana hierarquia criada pelos Alemães, estão paradoxalmente unidos numa única desolação interior.
Mas Lorenzo era um homem; a sua humanidade era pura e incontaminada, estava fora deste mundo de negação. Graças a Lorenzo, aconteceu-me não esquecer que também eu era um homem”.
Após a leitura destas palavras, experimentem olhar atentamente para a fotografia do post anterior…
1 comentário:
Olá, Sara!
Tenho o livro, mas ainda não o li. Vou utilizar o excerto no teste de diagnóstico, pois é muito bom. Obrigado pela partilha.
Cumprimentos
F. Pinheiro
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