Ao passar revista aos cavaleiros Carlos Magno deteve-se diante de um cavaleiro de armadura branca e perguntou-lhe quem era.«- Eu sou (…) Agilulfo Emo Bertrandino das Guildivernas e outras, de Carpentras e Sura, cavaleiro de Selímpia Citerior e Fez!- Aaah… - fez Carlos Magno, e avançou o lábio inferior dando um pequeno assobio como que a dizer: “Se tivesse que me recordar do nome de todos, estava bem arranjado!” Mas de repente franziu as sobrancelhas. – Porque não levantaste a viseira e não mostraste o rosto? (…)A voz saiu nítida da babeira. – Porque eu não existo, Sire.- Ora esta! – exclamou o imperador. Temos agora nas nossas fileiras um cavaleiro que não existe. Deixa ver.Agilulfo ainda pareceu hesitar. Depois, com a mão firme, mas lenta, levantou a viseira. O elmo estava vazio. Na armadura branca de irisada cimeira não estava ninguém.- Olha, olha! Vê-se cada uma! - disse Carlos Magno. – E como é que fazeis para prestar serviço, se não existis?- Com a força de vontade – disse Agilulfo – e a fé na nossa santa causa!- Sim senhor, bem dito. É assim que se cumpre o dever. Bem, para um homem que não existe, tendes bom aspecto.Agilulfo era o último da fila. O imperador tinha passado revista a todos; virou o cavalo e afastou-se para a tenda real. Estava velho e procurava afastar da mente as questões complicadas.»Italo Calvino, O cavaleiro inexistente, Teorema, 1986, pp. 10-11.
(Como é óbvio, a disjunção contida no título do post é inclusiva e não exclusiva.)
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