Sou professora há mais de dezassete anos. Sempre desejei ser avaliada (com objectividade e rigor, entenda-se). Mas nunca como agora, em que finalmente se tentou efectuar a avaliação dos professores, me senti tão desrespeitada e tão humilhada. E nunca tive tão poucas condições de trabalho.Hoje, apesar de fazer greve, estou desde manhã a trabalhar em casa: a corrigir testes e a elaborar os testes que irei fazer amanhã a outras turmas. Lecciono aulas a cinco turmas, tenho cento e trinta alunos, sou directora de turma e por isso não tenho alternativa – caso queira fazer o meu trabalho com rigor e honestidade intelectual.Espanta-me a indiferença dos Pais e Encarregados de Educação, dos portugueses em geral e do Senhor Presidente da República em particular, que promulgou os novos Estatutos do Aluno e da Carreira Docente. Qualquer leitor atento dessas duas leis percebe que põem em causa alguns dos pressupostos essenciais do ensino: ao dividir, arbitrariamente e injustamente (sem critérios objectivos), os professores em professores titulares e professores; ao multiplicar os trabalhos burocráticos dos professores quando os alunos faltam; ao impedir que o absentismo dos alunos tenha consequências penalizadoras como a exclusão por faltas (o que promove a desresponsabilização); etc.Os leitores já se perguntaram quantas horas são necessárias para os professores fazerem tudo aquilo que se espera deles? Por exemplo:Quantas horas são necessárias para corrigir os trabalhos e testes de mais de uma centena de alunos?Quantas horas são necessárias para preparar aulas e conceber materiais didacticamente adequados e cientificamente correctos (e, claro está, motivadores)?Ser bom professor implica ensinar bem e tal só é possível se forem dadas aos professores condições de trabalho e, já agora, de repouso. Neste momento, eu e muitos professores não as temos. Tenho-me perguntado: que país é este em que é concebível tratar os educadores das gerações futuras deste modo?
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