sábado, 13 de setembro de 2008

A Alegoria da Caverna e a televisão

Na Alegoria da Caverna, Platão descreve um grupo de homens que vivem presos no fundo de uma caverna e que consideram reais as sombras projectadas na parede. Para eles, essas sombras são a realidade – a única realidade.
Platão termina a Alegoria dizendo que os prisioneiros são semelhantes a nós. Essa semelhança significa que nós muitas vezes também confundimos a aparência com a realidade e julgamos verdadeiro o que é falso. Não estamos presos por correntes metálicas como os prisioneiros descritos por Platão, mas por outro género de “correntes”, que não imobilizam o corpo mas sim a mente: preguiça, medo, vícios, falta de espírito crítico, etc.
Inspirando-se na Alegoria da Caverna, o artista brasileiro Maurício criou uma pequena banda desenhada ("As Sombras da Vida") em que compara os prisioneiros, que julgam as sombras reais, com as pessoas “viciadas” em televisão, que confundem as suas imagens com a vida. Como é evidente, não é a televisão em si que é uma “corrente” mas a atitude acrítica e passiva que muitas pessoas têm perante ela.

(Pode encontrar essa banda desenhada aqui: clique em Quadradinhos, depois em Histórias Seriadas e finalmente em Piteco: As Sombras da Vida).
Para ilustrar essa ideia existem muitos outros exemplos: as pessoas que discutem as acções e personalidades das personagens das telenovelas como se estas fossem pessoas reais; as pessoas, nomeadamente crianças, que imitando os feitos dos super-heróis vistos na TV tentam voar ou dar saltos impossíveis; as pessoas que em vez de praticar desporto passam horas sentadas no sofá a ver desportos na TV; etc.

4 comentários:

Anónimo disse...

O texto " A Alegoria da Caverna" faz-nos reflectir quanto à atitude filosófica.
O texto abrange o tema: a condição Humana ao mundo de aparências e onde o Homem tem consciência da sua ignorância. O que quer dizer que o homem está preso ao mundo das opiniões, das crenças, das aparências e dos preconceitos sendo aquele mundo para ele normal e, como tal, não se questiona quanto ao seu aparecimento.
Como libertarmo-nos da ignorância, se não sabemos quem somos? Este é o problema que surge na Alegoria.
Atendendo a isto tudo aqui referido, temos a noção que a atitude filosófica questiona a realidade, e crítica, procurando sempre mais e melhor conhecimento e implica o recurso a argumentos.
Ou seja, muita das pessoas que fica dia e noite sentados num sofá em frente e uma televisão, por vezes esquecem-se de quem são na realidade e imaginam-se como personagens da ficção, fazendo loucuras que vêm passar na TV, julgando também poder fazê-las.
Ou até mesmo quando uma série televisiva retrata o tema do racismo, e vê na ficção o desprezo, a má educação e os maus tratos pelas pessoas de cor, depois reflecte-se na vida real, porque não sabem separar a ficção da realidade fazendo com que a televisão seja cada vez mais uma má influência.
Em suma, as pessoas ainda estão muito ligadas, aos pensamnetos de outras, às opiniões e aos preconceitos passados na TV.

maria reis 11ºA disse...

A "Alegoria da Caverna" demonstra o que de facto acontece na sociedade dos nossos dias. Como? Um dos exemplos é a televisão: muitas das pessoas preferem passar o seu tempo livre à frente de um objecto que só lhes impinge personagens fictícias e os leva a fazer o que lhes é demonstrado. Isto tem como consequência o facto das pessoas já não puxarem por si próprias, mentalmente, e acabam por perder a noção da realidade.
Os prisioneiros da "Alegoria da Caverna" são comparáveis a nós próprios, seres humanos, que preferimos aceitar tudo sem sequer pensar, isto é, todos os conhecimentos que aceitamos sem questionar a sua verdade ou fundamento.
Para concluir, penso que a tese geral deste texto é o facto de que os seres humanos devem pensar por si próprios e que a aquisição de conhecimentos requer um esforço muito árduo.

Tatiana Nogueira disse...

Boa noite professor.
O que sucede com os prisioneiros da alegoria da caverna é o mesmo que acontece com a nossa sociedade, basta-nos substituir as sobras da caverna pela comunicação social.
Os prisioneiros acreditam que os reflexos que vêm são reais tal como sucede nos dias hoje com aquilo que a comunicação social nos quer transmitir.
Grande parte das vezes, aceitamos o que esta nos transmite sem questionar a vericidade das suas afirmações.
Como exemplo mais recente temos a Gripe A, desde da sua primeira divulgação que a sociedade se vê envolvida num ambiente fechado é como se houvesse uma barreira entre o pensamento que a impedisse de pensar sobre tal assunto aceitando tudo o que se diz a seu respeito.
Esta noite encontrei na internet um vídeo[http://www.youtube.com/watch?v=CcgCBiyGljM ] que mostra que devemos raciocionar antes dar por verdadeiras as informações que nos transmitem.

Carlos Pires disse...

Tatiana:

Gostei do seu comentário, que revela uma boa compreensão das ideias do post.

Mas tenho algumas dúvidas em relação ao exemplo que escolheu.

É sabido que a indústria farmacêutica movimenta muitos milhões e que muitas vezes os seus lucros são multiplicados por coisas completamente imorais: investem mais em cosméticos que em medicamentos baratos que poderiam salvar milhões de pessoas, que morrem de doenças como a malária nos países pobres; os medicamentos contra a Sida são vendidos a preços altíssimos pelas empresas que possuem as patentes e as pessoas e os países mais pobres não conseguem comprá-los.

Mesmo assim, parece-me pouco provável que uma empresa ou duas conseguissem montar uma operação tão vasta como aquela que o vídeo descreve, mesmo com o apoio de pessoas politicamente importantes.
Repare que isso envolveria a colaboração (por corrupção ou por ignorância e ingenuidade) de milhares de pessoas pelo mundo inteiro - entre as quais muitos médicos e outros especialistas de saúde muito competentes e capazes de pensar pela própria cabeça.

Pode ser que algum alarmismo tenha sido estimulado, mas explicar tudo desse modo parece-me uma daquelas "teorias da conspiração" de que a internet está cheio.

A Tatiana tem toda a razão quando diz que "devemos raciocionar antes dar por verdadeiras as informações que nos transmitem", mas isso aplica-se também à denúncia dessas informações. Devemos avaliar com espírito crítico a opinião dos que dizem "sim", mas também a opinião dos que dizem "não".

Repare que desde o princípio que no vídeo se dá como adquirido que há algo que anda a ser escondido, que há um engano - ou seja, partem do ponto que deveria ser o seu ponto de chegada. A isso chama-se petição de princípio ou círculo vicioso.

Por outro lado, em vários momentos transparece no que é dito uma rejeição ideológica dos negócios, do capitalismo - como se os negócios fossem sempre algo mau e corrupto, como se a existência de lucros indicasse sempre intenções malévolas e a exploração de alguém.

O que aqui escrevi não significa que os números apresentados no vídeo sejam todos falsos. Não tenho conhecimentos para avaliar isso, mas admito que muitos possam ser correctos. Só pretendi sugerir que o alarmismo que tem envolvido as epidemias de gripe pode ter explicações mais simples que uma conspiração dos malvados capitalistas (embora seja verdade que alguns capitalistas são realmente malvados).

Daqui a alguns dias publicarei no Caderno de Sociologia um texto sobre o alarmismo e sobre um dilema que essas situações colocam às autoridades - e referirei o vídeo que me indicou. Obrigado!