Ó rapaz, é Zeus tonitruante que detém o desfecho
de tudo quanto existe e tudo dispõe como quer.
Não há inteligência nos homens, mas vivemos
efémeros como gado, sem sabermos
como o deus terminará cada coisa.
Porém a esperança e a credulidade
alimentam-nos a vontade do impossível.
Uns esperam que venha o dia, outros as estações.
Não há ninguém que não julgue chegar ao ano
seguinte, amigo da riqueza e da prosperidade.
Mas a velhice, nada invejável, apanha um homem
antes de chegar à sua meta; a outros mortais
destroem as doenças miseráveis; e Hades envia
outros para debaixo da negra terra, mortos por Ares.
Outros agitados na tempestade marítima
e nas ondas numerosas do mar purpúreo
morrem, quando não conseguem sustento em terra.
Outros ainda atam uma corda ao pescoço em desgraçado
destino e deixam por sua vontade a luz do sol.
Assim, nada existe sem misérias, mas incontáveis
desgraças e sofrimentos inesperados existem
para os mortais. Mas se eu tivesse o poder de persuadir,
não estaríamos apaixonados pelas desgraças,
nem daríamos cabo do coração com dores amargas.
Semónides
(Poema retirado de: “Poesia Grega - de Álcman a Teócrito”, organização, tradução e notas de Frederico Lourenço, Edição Livros Cotovia, Lisboa 2006, pág. 26).
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