Fotografia de Nawal Al Saadawi (para mais informações ver aqui).
«“Subitamente, a lâmina afiada pareceu cair entre as minhas coxas e cortou um pedaço de carne do meu corpo. Gritei de dor apesar da mão firme na minha boca, porque a dor não era apenas uma dor, era como um ferro em brasa que percorria o meu corpo todo. Ao fim de alguns momentos, vi uma poça de sangue à volta das minhas ancas. Não sabia o que tinham cortado do meu corpo, nem tentei descobrir. Apenas chorei e gritei pela minha mãe. O choque mais brutal foi quando olhei em volta e a vi em pé, a meu lado.” É assim que a egípcia Nawal Al Saadawi conta como aos seis anos lhe cortaram o clitóris. O relato está no livro “The Hidden Face of Eve” (1977), que se tornou uma obra de referência sobre direitos das mulheres no mundo árabe.»
Alexandra Lucas Coelho, Revista Pública.
Sendo o relativismo cultural, aparentemente, uma teoria a favor da tolerância não nos conduzirá a admitir práticas moralmente intoleráveis como esta?
Pode-se ultrapassar esta contradição?
Esta é uma questão que deixo aos leitores, em particular aos alunos do 10ºB que irão ter teste amanhã.
3 comentários:
Olá Sara
Eu considero-me um relativista cultural, mas nunca aprovaria, nem vi ser aprovada esta prática (nem outras atentatória dos direitos humanos).
A discussão sobre o relativismo cultural é velha e este exemplo está sempre está sempre a aparecer...no entanto parece-me um mito urbano (o de que os relativistas culturais aprovam estas práticas, não as práticas em si que infelizmente são bem reais)
Olá André,
O que é que significa dizeres que és um relativista cultural?
Eu penso que estarás a confundir duas coisas diferentes: o respeito pela diversidade cultural e a defesa do relativismo cultural, que é uma tese respeitante à natureza dos valores e dos princípios morais.
Que há povos com muitas tradições e hábitos diferentes e respeitáveis é um facto. O que os defensores do relativismo cultural defendem é que a partir daí podemos concluir que todos os valores e juízos morais são relativos à cultura em causa e que não há, portanto, princípios morais universais, válidos para todos os homens e em toda e qualquer cultura - o que já não é um facto. Ao contrário do que tu dizes, um relativista cultural não pode criticar a prática da excisão, desde que esta seja aprovada pela maioria dos membros da sociedade a que pertence. É contraditório fazê-lo. Defender os direitos humanos implica negar a tese fundamental da teoria do relativismo cultural. Por isso, julgo que não tens razão e não se trata de um mito urbano, só que muitas pessoas que gostam de falar da multiculturalidade preferem omitir este tipo de exemplos que põem em causa o abraço fraterno entre as diferentes culturas, não vão estes ser vistos como sinal de intolerância e quebrar a desejada harmonia entre povos que se pretende. Hipocrisia, é claro!
Até logo.
Enquanto não encontro tempo para te responder uma boa notícia:
"Guiné-Bissau proíbe mutilação genital feminina"
http://dezanove.pt/190705.html
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