quarta-feira, 22 de outubro de 2008

O amor à verdade

René Magritte, "Os amantes", 1928

Quando uma pessoa ama outra procura-a, gosta de estar com ela e de vê-la. Os amantes representados por René Magritte têm os rostos cobertos e certamente que não se conseguem ver um ao outro. Porque terá Magritte escolhido representá-los assim? O que queria ele dizer-nos?

(Ou será que não nos queria dizer nada? Será possível pintar um quadro como aquele e não querer transmitir nenhuma ideia?)

Etimologicamente, a palavra “filosofia” significa amor ao saber. O que é equivalente a dizer amor à verdade ou até desejo de aprender. Assim, um filósofo é um amante da verdade: tal como uma pessoa ama outra pessoa e sente desejo por ela, um filósofo ama a verdade e deseja possuí-la.

Mas, se um filósofo é um amante (da verdade), poderá ele estar retratado nesta pintura de Magritte?

Talvez a comparação não possa ser feita em todos os pontos, pois no quadro de Magritte o amor parece recíproco. Ora, embora faça sentido dizer que as pessoas amam a verdade, não parece fazer sentido dizer que a verdade ama as pessoas.

Esqueçamos a parte da reciprocidade. O que pode então significar a comparação entre um filósofo e uma pessoa que está diante do objecto do seu amor, mas de cara tapada e com os olhos vendados?

Significará que algumas pessoas, apesar de serem capazes de filosofar, não o fazem (talvez por preguiça) e como que fecham os olhos diante da vida?

Significará que algumas pessoas, apesar de serem capazes de filosofar, não o fazem por temerem aquilo que podiam descobrir (por exemplo que não sabem justificar as suas crenças mais básicas) e optam por viver iludidas?

Significará que um desejo muito forte e obsessivo por uma coisa, por exemplo a verdade, pode afinal afastar-nos dela?

9 comentários:

Vitor Guerreiro disse...

Pode ser que as pessoas não estejam obcecadas com a verdade mas com outras coisas: com a tradição, com a admiração dos pares e dos alunos, com o seu público... pode ser que faça da filosofia uma espécie de religião poética com rituais exibicionistas algo "pimba"... etc.

Carlos Pires disse...

Caro Vítor Guerreiro:

Discordo da sua crítica.
Fazer comparações, dar exemplos e “colori-los” com um outro pormenor, mostrar imagens e descrevê-las… Nada disso é pimba nem anti filosófico – e não transforma a filosofia numa espécie de religião poética. Ora, é só isso que está no post: dizer por exemplo “Quando uma pessoa ama outra procura-a, gosta de estar com ela e de vê-la” constitui apenas um exemplo ‘colorido’.
Trata-se de recursos úteis quando se ensina filosofia a adolescentes, que na sua maioria nunca leram nenhum livro mais elaborado que o Harry Potter (não estou a contar com as sebentas que resumem as obras literárias que o programa de Português considera obrigatórias e que a maioria lê em vez destas). E podem ser utilizados sem que isso implique mais simplificações do que aquelas que são requeridas pela idade dos alunos e pelo facto de se estarem a iniciar no estudo da filosofia.
Indicar a etimologia grega da palavra “filosofia” e apresentar a velha analogia entre o filósofo e o amante não significa nenhuma obsessão com a tradição. A tradição é uma “coisa” como outra qualquer: deve ser examinada criticamente e não rejeitada em bloco e de modo automático. Essa etimologia e essa analogia fazem certamente parte do que não deve ser rejeitado.
Quanto ao exibicionismo: está enganado, mas não faz sentido argumentar a esse respeito.
Já agora: obrigado pela tradução de “Introdução à estética”.

Vitor Guerreiro disse...

Viva,

Não fui muito claro. Não quis criticar o uso de imagens em geral ou de ilustrações. Afinal, também usamos experiências mentais, que são ilustrações.

Estava a pensar no detalhe dos amantes com a cara tapada. Pensei no fingimento de uma relação amorosa com a verdade, o que me parece ser o caso de algumas práticas académicas mais focadas na tradição e no historicismo: um fingimento de uma relação profunda com a filosofia, com a procura da verdade, quando na verdade o que se procura é deslumbrar os outros e enganar-nos a nós próprios.

Ou seja: eu estava a pensar a partir da imagem e não a questionar a presença da imagem.

Um abraço

Anónimo disse...

Talvez a imagem (adaptando-a à filosofia) queira dizer que tal como as pessoas se amam umas às outras e que se se amam de verdade os defeitos não são obstáculo talvez o mesmo aconteça com as pessoas que amam a verdade pois, independentemente do que venham a descobrir (os defeitos), amam esse saber, essa verdade. O receio não se sobrepõe à vontade de saber, de filosofar, de argumentar e lutar para que sejamos ouvidos. Adaptado à filosofia este pode ser um dos caminhos a optar para a interpretação do quadro de René Magritte.

Anónimo disse...

René Magritte ilustrou dois amantes com os rostos cobertos que, relacionando o quadro com algumas ideias filosóficas, poderá querer dizer que muitas vezes as pessoas tem capacidade para pensar e reflectir sobre os assuntos mas não o fazem porque não querem. Ou seja, uma interpretação do quadro poderá ser a de que os amantes podem ter criado uma imagem perfeita um do outro e, para que essa imagem subsista, preferem manter os olhos tapados.
A interpretação referida anteriormente pretende, metaforicamente, comparar os amantes a pessoas que tem capacidade para filosofar mas que não o fazem pois têm medo do que possam vir a descobrir com tal acto. Por exemplo, poderiam vir a descobrir que muitas das verdades que aceitam sem qualquer justificação poderiam não estar correctas, pois não existem argumentos a favor de tais afirmações.

Anónimo disse...

Segundo a imagem, podemos interpretar duas pessoas de cara tapada que demonstram o seu amor um pelo outro. Amor físico e intelectual da pessoa que se encontra à nossa frente. Mas, devido ao facto de na imagem ambos terem o rosto tapado, podemos então comparar isto a qualquer um site de Internet que promova "free sex" sem compromissos onde a sexualidade e quiça seja algo considerado banal (ex: Hi5). Sim porque convenhamos aos milhares que têm e mostram de tudo, recebem de tudo e mais além, recebem pedidos de amizade de pessoas que não conhecem, e que têm o descaramento de dizer que amam certos e determinados indivíduos deste tal "ponto de encontro".

Assim sendo, passo a citar a descrição referida abaixo da imagem: "tal como uma pessoa ama outra pessoa e sente desejo por ela, um filósofo ama a verdade e deseja possuí-la".

Então podemos dizer que um filósofo ama a verdade sobre qualquer assunto, procura o conhecimento, e procura possuir essa mesma verdade. Ou talvez não!?

Vejamos, comparando esta afirmação à imagem e ao meu primeiro parágrafo, digo então que um filósofo de rosto tapado beija a verdade também tapada. Isto é, este filósofo procura uma verdade? Não, este filósofo diz amar aquela verdade, que é aquilo em que ele acredita e pense ser o correcto sem olhar para o seu núcleo. Não apresentando razões para a sua escolha, desejando assim possuir algo desconhecido.



Nota: Quando falo no filósofo de cara tapada, não me refiro aos filósofos em geral. Não querendo estar a criticar a filosofia nem nenhum bom filósofo.

Cumprimentos,

capwilliam disse...

É deveras surpreendente os comentarios, nota-se que não existe o fundamental. um amor verdadeiro, é muito facil amar uma bela mulher, no desabroxar de sua juventude, agora façamos uma viagen pelo tempo, estamos agora a 51 anos do casamento,como diz o nordestino uma reca de filhos e netos e alguns bisnetos, nos finais de semana uma alegria contagiante, todavia existe um pequeno problema... A madame contraiu uma doença cognominada ALZHEIMER e agora mané será que o amor resiste? voce esta com apenas 76 anos, as empregadas sumiram, os filhos desde a muito vem a casa dos Pais como visitantes. Claro estou cada dia mais apaixonado pela dona Janice a mãe de meus filhos... Isto não é ficção e sim verdade verdadeira. agora tenho certesa de que casei por amor. desculpem-me a vuda tem dessas coisas. ainda tenho tempo para escrever alguns sumarios... veja no Capwilliam - tenho pouco mais de 41300 visitas. e mesmo não lembrando após dez minutos minha mulher as ler e comenta, após algum tempo me fala, é tá muito bom não me convida mais para criticar ou elogiar seus escritos.
A vida é assim, de altis e baixos todavia o amor não morre nunca se é verdadeiro. um grande abraço

Filosofia na Escola disse...

Boa noite amigo, tem um blog que vem plagiando os posts do seu blog. Aliás, o blog dessa pessoa vive de plágios. Confira aí
http://jovensfilosofosnosapopemba.blogspot.com.br/

Anónimo disse...

Bom, graduado em filosofia, Penso que o amor é uma ilusão humana.

A imagem utilizada é de bom tom quando do interlocutor, não tem a nossa capacidade de reflexão dai utilizar imagem que ao meu ver é uma forma de se materializar o pensamento exteriorizando o pensamento ao mundo físico vem bem a calhar.

COM OBJETIVO DE PACIFICAR AS DISCUSSÕES É SABIDO A TODOS OS FORMADOS EM FILOSOFIA QUE MUITOS FILÓSOFOS DESCORDAVAM DE OUTROS E DE FATO PERCEBE-SE ALGUNS ERROS NA TENTATIVA DE EVIDENCIAR A VERDADE, MAS FOI POR ESSE VIÉS QUE CHEGAMOS A EVOLUÇÃO ATUAL DO SABER, PORTANTO SE ALGUÉM TIVER UMA RESPOSTA MAIS PLAUSÍVEL QUE NOS AGRACEIA COM A SUA SABEDORIA.

EM SUMA NÃO FIQUEM GRADEANDO COMO SE FOSSE DONOS DA VERDADE, PENSO SER ESSA PRATICA FILOSÓFICA FEIA POR DEMAIS.

HÁ! CUIDADO COM A INTERPRETAÇÕES DO PENSAMENTO ALHEIO.