Sobre o argumento da aposta, do matemático e filósofo Blaise Pascal (1623-1662), pode ler neste blogue: AQUI, AQUI, AQUI e AQUI.
Eis algumas das objecções a este argumento:
“Não podemos decidir acreditar
Mesmo que aceitemos o argumento do apostador, ficamos ainda com o problema de não nos ser possível acreditar em seja o que for que queiramos. Não podemos, pura e simplesmente decidir acreditar em algo. Não posso decidir acreditar amanhã que os porcos voam, que Londres é a capital do Egipto, ou que existe um Deus todo-poderoso, omnisciente e sumamente bom. Preciso de estar convencido que estas coisas são de facto assim antes de poder acreditar nelas. Mas o argumento do apostador não me oferece quaisquer dados para me convencer que Deus existe: diz-me apenas que, como apostador, será uma boa ideia passar a acreditar que isso é verdade. Mas agora tenho de enfrentar o problema seguinte: para poder acreditar em algo tenho de acreditar que isso é verdade.
Pascal tinha uma solução para o problema de como fazer para acreditar que Deus existe quando isso vai contra os nossos sentimentos: sugeriu que a forma de o fazer era agir como se já acreditássemos que Deus existe – frequentar a igreja, pronunciar as palavras das orações apropriadas, etc. Pascal argumentou que, se dermos sinais exteriores de crer em Deus, acabaremos muito rapidamente por desenvolver a crença propriamente dita. Por outras palavras, há formas indirectas através das quais podemos gerar crenças deliberadamente.
Argumento inapropriado
Apostar na existência de Deus por ganharmos com isso a hipótese da vida eterna, fingindo seguidamente crer realmente na sua existência por causa do prémio que ganharemos se tivermos razão, parece uma atitude inapropriada para tomarmos em relação à existência de Deus. O filósofo e psicólogo William James (1842-1910) foi ao ponto de afirmar que se estivesse na posição de Deus teria grande prazer em impedir a entrada no Céu às pessoas que acreditassem nele com base neste processo. O processo parece, todo ele, insincero e inteiramente motivado pelo interesse próprio."
Nigel Warburton, Elementos básicos de Filosofia, tradução de Aires de Almeida e Desidério Murcho, 2ª Edição, Lisboa, 2007, Editora Gradiva, págs. 59-60.
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