terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Julgar que se sabe

Mordillo

Cartoon de Mordillo.

Uma das dificuldades com que os professores se confrontam diariamente é o facto de alguns alunos revelarem lacunas ao nível dos  conhecimentos básicos e, sobretudo, falta de apetência por superá-las. Esses alunos sentem-se pouco incomodados com aquilo que não sabem e não estudam ou estudam de modo inadequado: decoram em vez de compreender e discutir as ideias. Neste ponto de vista provinciano, despreza-se o conhecimento porque não se tem consciência de que quem não o possui está preso mesmo sem o saber.

3 comentários:

Anónimo disse...

Penso que é, na verdade, um problema aquilo que é referido no post. No entanto, mesmo quando os alunos demonstram dominar a maior parte dos conhecimentos que é suposto saberem, acabamos por cair num outro problema que é extremamente bem apresentado pelo excerto do ensaio abaixo apresentado.
Quero apenas concluir ao referir que, apesar de tudo aquilo que o ensaio defende, a filosofia é talvez a única disciplina do ensino actual que tende a contrariar e batalhar contra
um tipo de pensamento e conhecimento cada vez mais uniformizado.

CONFEDERACY OF DUNCES: THE TYRANNY OF COMPULSORY SCHOOLING
by John Taylor Gatto

http://www.spinninglobe.n...

«Let me speak to you about dumbness because that is what schools teach best. Old-fashioned dumbness used to be simple ignorance: you didn't know something, but there were ways to find out if you wanted to. Government-controlled schooling didn't eliminate dumbness - in fact, we now know that people read more fluently before we had forced schooling - but dumbness was transformed.

Now dumb people aren't just ignorant; they're the victims of the non-thought of secondhand ideas. Dumb people are now well-informed about the opinions of Time magazine and CBS, The New York Times and the President; their job is to choose which pre-thought thoughts, which received opinions, they like best. The élite in this new empire of ignorance are those who know the most pre-thought thoughts.

Sara Raposo disse...

Caro anónimo:

Não consegui abrir a hiperligação que enviou, se fizer o favor de enviar o endereço correcto, eu agradeço.

Quanto à ideia de que a disciplina de Filosofia permite o debate livre e aberto das ideias, depende do modo como se entende a filosofia e do professor em causa. Muitos professores de Filosofia, que eu conheço, entendem-na como um conjunto de conhecimentos que os alunos têm de decorar e debitar nos testes, não promovem a discussão nas aulas, não investem na actualização científica e pedagógica. Em suma: dão aulas de Filosofia como dariam de cozinha porque o essencial - a discussão e a reflexão sobre os problemas - lhes passa ao lado e não é posto em prática. Ainda que alguns deles tenham sobre o que fazem um discurso intelectual pretensioso e arrogante, que na verdade, serve para encobrir a sua própria preguiça mental.

Depois de vinte anos a leccionar aulas no secundário, não me parece que a afirmação geral que faz, em relação ao papel que a disciplina de Filosofia pode ter na formação dos alunos, possa ser verdadeira. Aplica-se apenas a casos isolados, ou seja, tal como noutra disciplina qualquer: há os que fazem bem o seu trabalho e os que não fazem. Podemos distingui-los e avaliar, a sério, o seu mérito?

Não creio, vivemos num país de faz de conta em que muitas áreas – a educação é um caso flagrante - e onde me parece que a maioria das pessoas acha que o correcto é sermos todos iguais, pois têm horror à distinção baseada no mérito, mesmo que seja com provas dadas publicamente.
Assim, alguns professores, que passam a vida a distinguir os alunos e a avaliá-los, julgam o seu trabalho não deve ser avaliado. Basta ouvir os sindicatos falarem sobre este assunto para perceber que aquilo que os move não é denunciar a falta de rigor e objectividade do actual modelo de avaliação, o que os move é a repulsa por qualquer tipo de distinção que venha pôr em causa a hipocrisia instalada segundo a qual somos todos iguais: os incompetentes e os competentes.

Cumprimentos.

jose simões disse...

E pensarmos nós que já houve um responsável pela educação nacional que quis acabar com o ensino da filosofia no secundário.